O final de um ano e início de outro é o tempo propício para um sério exame de consciência, pessoal e institucional. Todos deveríamos ter o sadio hábito de fazermos balanço, no intuito de reforçar os fatores positivos que se viveram e corrigirmos os desvios ou desvarios que consentimos. Os crentes, na contraluz da candura, humildade, verdade e serviço do mistério do Presépio, haveriam de sentir ainda maior urgência em o fazer.
O Papa Francisco mais uma vez surpreendeu o mundo com essa provocação aos Cardeais, por ocasião dos cumprimentos de Natal. O diagnóstico das doenças que afetam pessoas e lugares de poder na Igreja não foi uma censura. Foi, isso sim, o convite insistente à indispensável revisão de vida, que dinamize uma permanente atitude de conversão. A comunicação social, muitas vezes estrábica, incendiou o cenário, pretendendo acirrar a convicção de confronto na Cúria Romana. Visão desastrosamente míope!
O olhar de Francisco e a intenção do Bispo de Roma têm seguramente outro horizonte: suscitar em todos os cristãos a busca permanente da vida plena, a concretização da aspiração mais profunda de fraternidade, “impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos nem concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar” (Mens. de 2014).
Em verdade, a Igreja é chamada a ser sinal e fermento de serviço, de comunhão, de unidade; a ser clara interpelação para o mundo, para os povos e seus responsáveis. Se as palavras do Papa forem acatadas no seio da Igreja, a sua autoridade moral para questionar os poderes políticos será redobrada; sobretudo, será coerente!
O ano que finda, no nosso país, trouxe à luz do dia um emaranhado de teias de relações ocultas, de pactos de poder e de silêncio, de conluios financeiros, que esbulharam muita gente do indispensável para viver, que lesaram os contribuintes em geral e o erário público, implantando, a coberto da democracia, uma ditadura de dinheiro sujo, uma escravatura de luva branca, que amarra um país à pobreza, que rouba a esperança a um povo…
De novo o Papa Francisco aponta o caminho da saúde pessoal, familiar e social. Na sua mensagem para o primeiro dia de 2015, Dia Mundial da Paz, que intitula “JÁ NÃO ESCRAVOS, MAS IRMÃOS”, o Bispo de Roma, partindo da inspiração do apelo de Paulo a Filémon, em favor de Onésimo, exprime a sua convicção: “a conversão a Cristo, o início de uma vida de discipulado em Cristo constitui um novo nascimento (cf. 2 Cor. 5, 17; 1 Ped. 1, 3), que regenera a fraternidade como vínculo fundante da vida familiar e alicerce da vida social.
A força das relações harmoniosas pautadas pela justiça e pela caridade, a coragem do serviço desinteressado ao bem comum só brota de corações mergulhados no coração de Jesus Cristo, fascinados pelo Seu testemunho, contagiados pelo Seu dom gratuito permanente. Vamos fazer o nosso exame de consciência?