Três salas para ver: duas sobre os Bispos de Aveiro e o “santuário” onde Joana de Portugal morreu.
Objetos episcopais mostram diferentes ideias sobre o que é ser Igreja.
A exposição sobre “os bispos de Aveiro e Santa Joana” pretende “ser um diálogo entre a diocese e a sociedade”, disse D. António Moiteiro, na inauguração, que decorreu na tarde de sábado, 7 de abril.
O Bispo de Aveiro apontou dois grandes objetivos para a realização da exposição que assinala os 325 anos de beatificação da princesa que escolheu Aveiro para seguir a vida religiosa: por um lado, contribuir para a causa da canonização; por outro, mostrar peças que não são conhecidas da maioria das pessoas e que revelam que a fé vai fazendo cultura.
D. António Moiteiro esclareceu que a beatificação permite o culto de “Santa” Joana na diocese de Aveiro e na família religiosa dos dominicanos, mas não em todo o lado. No entanto, estando convicto da dimensão universal de Joana de Avis – “é assim que é referida no processo em Roma”, observou – considera que ela pode ser apresentada a toda a Igreja como estadista, monja dominicana ou membro de uma família real que viveu com heroísmo a fé cristã. Daí que a Diocese tenha decidido em junho passado avançar com o processo de canonização.
Quanto ao aspeto cultural, os vários objetos dos bispos de Aveiro são uma concretização do relacionamento da fé com a cultura, revelando cada um deles uma mensagem teológica. Nesta linha, foi deveras interessante ouvir na visita guiada as explicações, quer do diretor do Museu, quer do próprio Bispo de Aveiro. José António Rebocho Cristo mostrou alguns objetos e documentos dos Bispos da primeira fase da Diocese de Aveiro (séc. XVIII e XX), incluindo o cubículo do coche do primeiro bispo, e notou, na sala dos bispos pós-restauração, como o material e a decoração das insígnias episcopais mudaram com o II Concílio do Vaticano (1963-1965), de um estilo mais rebuscado, com mais dourados e pedras preciosas, para um estilo de metais mais pobres, sem joias, de traços mais simples. Chegando ao bispo atual, o diretor do Museu passou-lhe a palavra – algo que não estava combinado – e D. António Moiteiro pôde dar uma breve lição de teologia (ou uma catequese?) sobre os seus próprios símbolos. Disse ele que, tendo escolhido como lema “É preciso que Jesus reine”, quis que a mitra tivesse as letras gregas A (Alpha) e Ω (Ómega), primeira e última do alfabeto, para afirmar que Jesus é que importa em todo o momento. As letras aparecem envolvidas nuns riscos que se assemelham a raios de sol, numa referência a Nossa Senhora. O báculo, disse D. António provocando alguns sorridos, tem uma ovelha na extremidade, “e não uma serpente”, e não está fechado sobre si próprio, como quase todos, mas aberto. Porquê? Inspira-se no cajado dos pastores da Serra da Estrela, que o usam para puxar as ovelhas na altura de as ordenhar. A extremidade aberta não magoa as ovelhas.
Ainda antes da visita guiada, D. António Moiteiro realçou que “a fé que não produz cultura é uma fé intimista, individualista, que não dialoga com a sociedade”. “Não se entende a história do país, a história da Europa, sem a cultura cristã, sem a fé que produz cultura”, sendo a cultura “o que melhor define o que temos e somos”.
A inauguração contou com a presença de cerca de uma centena de pessoas e incluiu dois momentos musicais. O presidente da Câmara Municipal foi o primeiro a usar da palavra, para realçar o Museu de Aveiro como “casa de toda a gente, casa de Santa Joana e dos bispos e que gosta de honrar a sua história”. Ribau Esteves disse esperar que a exposição seja valorizada por crentes e mesmo por “não crentes que apreciam os valores da paz, da solidariedade, da confiança”.
J.P.F.