O assunto não é novo. Mas, cada ano que passa, parece que as coisas se degradam, ante um mutismo e inércia generalizados da parte dos responsáveis pastorais. É o problema das festas ditas religiosas.
A religiosidade popular é um húmus excelente para fazer desabrochar uma fé autêntica, que ultrapasse as tentações racionalistas e se situe numa vasta envolvência humana marcada pela afeição – a relação verdadeiramente interpessoal e ativa – entre as pessoas e o Senhor Jesus, o Espírito Santo, a Virgem Maria e essa multidão imensa de Santos e Anjos que invocamos como patronos. Curiosamente não conheço invocações do Pai, a não ser envolvido na Trindade Santíssima!
Mas analisemos a olho nu – não é preciso mais! – o que vai por essa Diocese, por esse Portugal fora. Há raras exceções, digamos de antemão. Todavia, a generalidade dos cartazes, que anunciam “festas em honra de…” ou mesmo “grandiosos festejos em honra de…”, desdobram um caudal de banalidades, nulidade cultural, até mesmo brejeirice e falta de educação, que não só desonram como desacreditam a dignidade espiritual dos nomes invocados.
Usou-se uma estratégia de multiplicar atos de culto – tríduos preparatórios, novenas… – para provocar alguma preparação interior e, de certa forma, consagrar a multiplicidade de arraiais. E aquilo que – diga-se -, em muitas circunstâncias surtiu efeito, depressa foi abafado por uma onda de libertinagem, algumas vezes aplaudida pelos responsáveis pastorais, que confundiram a proximidade do povo com o baixar da fasquia da proposta cristã de alegria sã. Hoje, é uma verdadeira selva de paganismo aquilo que se passa em muitas das nossas terras, sobretudo em tempo de verão.
Festas populares terão sentido. E há gente capaz de organizar programas ricos de conteúdo, de arte, de elevação humana, verdadeiramente divertidos…, mas enriquecedores. Porém, é triste que, a coberto de evocações e invocações religiosas, se dê, inúmeras vezes, o triste espetáculo de pobreza artística, de gastos escandalosos, de ignorância e indignidade nas manifestações de fé, sobrando um “folclore religioso” de baixo nível, como número justificativo do cartaz.
É fim de safra. Tempo para reavaliar e tomar decisões corajosas. A Alegria do Evangelho reclama uma atitude diferente de quem tem responsabilidades de pastoreio. A desculpa de que os nossos emigrantes vêm de férias e gostam destas coisas não colhe. Eles merecem-nos mais respeito. E apreciarão seguramente programas de qualidade, sem fogo de vista, que os façam voltar aos seus locais de labuta com o desejo de voltar no ano seguinte.