James Foley

Enquanto uma parte do mundo gozava férias, merecidas e necessárias para muita gente, o mundo viu-se abalado, e continua, só Deus sabe até quando, com a possível morte por decapitação de um jornalista americano, de nome James Foley.
Católico, afirmou que rezava o terço todos os dias. Como represália contra os EUA, fazendo fé nas notícias nem sempre fiáveis, ele foi o escolhido para que o mundo visse, arrepiado, a morte cruel, ao vivo, de um jovem inocente e bom homem, por causa do fanatismo que ainda vai fazer correr muita tinta e muito sangue.
Fiquei chocado. Não é ele o único. Dezenas, ou centenas, têm sido mortos, ao ponto de mais um holocausto, mais um genocídio, mancha o brilho de Deus nos homens, que é o amor… Não se aceitam as diferenças, e o fanatismo, em qualquer setor da vida humana, nubla o raciocínio e leva a pessoa ao extremo do pior que ela tem dentro de si.
Ao saber que era católico, que rezava, e vi claramente que o fazia, intensamente, antes de morrer, interroguei-me automaticamente sobre o porquê desta morte, de um filho de Deus que rezava a Maria o seu terço, com fidelidade diária. Afinal, buscamos proteção na oração, mas o perigo espreita e até nos apanha, mesmo que estejamos na graça de Deus. Processo inevitável de um existir casual? Será que Deus, de facto, não funciona? Tantos porquês colocamos diante do peso do existir. Porque me aconteceu isso? Que mal fiz eu a Deus? No entanto, Deus não responde. Nunca responde. O seu silêncio apavora. As situações de limite da humanidade devem ser terríveis como as que vivem os nossos irmãos perseguidos ou na guerra, nas mãos de assassinos frios e cruéis.
Onde estava Deus nos muitos Auschwitz da história? Porque não apareceu para afastar os maus? Porque deixou que isso acontecesse? As crianças de Gaza, os decapitados da Síria e do Iraque, os atentados de Nova York e Madrid, em anos passados… A vida é um mistério, a Fé é um desafio. Os porquês são inevitáveis.
No Domingo XXI do Tempo Comum do Ano A, as leituras deram a resposta: Os desígnios de Deus são insondáveis, e incompreensíveis os seus caminhos. Também já tinha dito que os seus caminhos não eram os nossos… As nossas perguntas não têm resposta. Nós é quem temos de responder: Quem dizes tu que Eu Sou? Esta resposta, que deve ser a razão da nossa esperança, é o que nos ajudará a seguir, embora não entendendo os caminhos de Deus.
Na medida em que soubermos quem é Jesus, na nossa vida, não surgem respostas, mas amenizam-se as perguntas. Só assim encontro a “verdadeira alegria no viver”, como disse a oração da coleta daquele Domingo. E embora Jesus tenha dito a Pedro que ele seria pedra da Igreja e que as portas do inferno não venceriam, a verdade é que, como a afirmação do ser pedra vem depois da resposta a “Quem dizes que Eu sou?”, isso sugere-nos que não só Pedro é pedra como a Igreja assenta em pedras vivas, que somos nós. E se as perguntas são inevitáveis e a resposta não é imediata nem satisfatória, estamos a preparar-nos para um momento, aquele em que todas as respostas serão dadas, como a resposta à pergunta “Porque morreu James Foley?”. Mas nesse momento em que estivermos diante de Deus, cara a cara, já não teremos perguntas, pois Nele encontramos tudo e a certeza de que tudo foi como deveria ter sido. Deus é bom, e é bom tudo quanto faz. E isso porque Deus, como diz uma das leituras daquele Domingo: “Está cheio de riqueza, sabedoria e ciência”.
Só na medida em que eu crescer na compreensão do mistério de Cristo – porque é Deus encarnado, implica com a história, minha e do mundo –, é que verei que desta resposta dependem até as perguntas que eu fizer e a atitude de “fiat” diante do mistério da vida.
Vitor Espadilha