Muito justamente, o «Correio do Vouga», na edição de 8 de julho, recordou a vida invulgar da Drª. Maria de Jesus Barroso Soares, citando em especial Mons. Victor Feytor Pinto, que a acompanhou, na própria vida paroquial, desde os anos 80. Maria Barroso notabilizou-se como atriz, pessoa de cultura, militante cívica, pedagoga, «mãe coragem» perante dificuldades extremas… Neste momento, acrescento apenas duas breves notas: uma relativa à militância a favor da não violência, e a outra à dimensão cristã da sua militância política.
Assumiu a violência como preocupação fundamental, a tal ponto que esteve na origem da Fundação Pro Dignitate. Preocupava-a toda a violência: doméstica, bélica, terrorista… e também a veiculada pelos meios de comunicação social, pela literatura, pela arte… Lutadora incansável, desde a juventude contra a opressão política, alargou e aprofundou essa luta pacífica a todas as formas de opressão.
Enquanto militante política, Maria Barroso foi uma das grandes construtoras do Portugal democrático, individualmente, no seu partido e na cooperação permanente com o seu marido, Dr. Mário Soares: foi socialista, a partir de uma data em que a Igreja católica punha sérias reservas ao socialismo; manteve-se socialista, quando intensificou mais a sua vida eclesial; e, tanto numa fase como na outra, não encontrou ambiente favorável ao diálogo e comunhão, à luz da doutrina social da Igreja, entre os seus irmãos na fé inseridos nos diferentes quadrantes políticos. É verdade que Mons. Feytor Pinto acolheu e animou uma iniciativa de diálogo desta natureza na sua paróquia de Campo Grande; porém, foi caso raro e acabou por não ter continuidade por motivos estranhos à paróquia. Bom seria que o passamento de Maria Barroso contribuísse para que, finalmente, a política plural e as questões sociais, no concreto, viessem a fazer parte integrante da vida eclesial, atenuando a atual propensão clerical (cf. o nº. 102 da Evangelii Gaudium do Papa Francisco).