Monsenhor

Neste mundo em que temos a Graça de viver, acostumamo-nos a ter pessoas que se tornam referência para nós. Primeiro, os pais e os irmãos, e felizes os que os têm como boa referência, já que as famílias divididas e em guerras nem sempre favorecem o bom convívio… Depois, os nossos professores e colegas de escola, a figura do catequista e dos coleguinhas de religião, o pároco da nossa terra e os que fomos vendo suceder, os vizinhos que foram nossos colegas de jogos e traquinices, o primeiro namoro, o nosso primeiro e forte encontro com Deus naquele retiro que as religiosas amigas tenham organizado, enfim, cada um com a sua história de relações.
Vibramos com os nossos chamados “ídolos” do cinema, da música, do desporto, das novelas. São referência, quer queiramos, quer não, nem sempre positiva, segundo os parâmetros gerais da sociedade. Vamos crescendo, mas nunca sós. E na nossa mente, este mundo de gente acompanha-nos e por vezes faz-nos sofrer, pois os que nos fazem mal também se tornam referência.
JESUS acaba por ser, com MARIA, a referência principal de quem faz verdadeira caminhada na Fé, e daí fica o retiro – ou o curso de cristandade, ou a peregrinação – como referência desse encontro que divide a nossa vida entre um antes e um depois desse momento vivido em que se descobriu o grande amigo Deus.
Na Igreja diocesana de Aveiro, as referências e riquezas são muitas. Desde as figuras dos bispos desta Diocese restaurada, e escrevo quando estamos à espera de um novo bispo, com ansiedade serena e curiosidade, até de leigos grandiosos a nível diocesano e paroquial, nos diferentes secretariados e trabalhos, como muitos que já partiram e outros tantos que dão o seu melhor. Diáconos e sacerdotes, quantos tão inesquecíveis… Vamo-nos lembrando deles aqui e ali, em momentos em que o terem sido referência nos estimula a memória.
Gosto das homenagens póstumas que fazem bem aos que ficam, como a vela ou as flores do cemitério também nos fazem bem a nós – e não sabemos o que significa para quem morre, pois ainda não chegamos lá. Mas, sobretudo, é preciso falar de quem está vivo e é referência, não para elogiar a ponto de querermos algo em troca, mas para dizer a essa pessoa o quanto ela é importante para nós e como é um vivo dom de Deus!
De quem vou falar, os elogios passam ao lado assim como as críticas. Ele vive a sua vocação com a certeza de ter acertado o passo e foi isso que ouvi de sua boca, quando, no dia da Ascensão, celebrou, na qualidade de Administrador Diocesano, e concedeu o Crisma a alguns fiéis das minhas terras de missão.
Monsenhor João Gaspar é referência para todos nós. Silencioso. Observador. Sem grandes brilhos, pois servia os bispos e aparecia pouco. Ouvia-se pouco quando falava o prelado. Mas estava ali. E esteve ao lado de muitos ou todos em imensos momentos em que nem o esperávamos. A palavra sempre oportuna e amiga. O diálogo respeitoso, calmo e sereno. A cultura impressionante, caracterizada pelo amor a Aveiro, a Santa Joana, à Igreja e ao presbitério, e seu amor pela História. Para mim, pelo menos, ouvi-lo é um prazer. Sabe tanto e tão sem pretensões que nem calculamos o tesouro que possuímos. Senti-o vivamente naquela Missa de Crisma, no almoço fraterno… Sem dúvida, é um dom. E não poderia deixar, na continuidade de um espírito jubilar, de lhe dizer “Obrigado, bem haja”, pela sua vida sacerdotal, o seu testemunho, a sua dedicação, as suas correrias para estar presente na vida de tanta gente, sobretudo nos momentos de dor, mas também de aniversários, de dúvidas, de incertezas. Como um anjo silencioso que caminha atento para fazer o bem onde ele for solicitado.
Obrigado, Monsenhor João Gaspar. Que viva muitos anos a estimular-nos a seguir o nosso caminho e que os nossos seminaristas sintam, ao olhar para si, a responsabilidade da sua missão, em dar continuidade, em Aveiro, ao clero de qualidade, que somos, no qual a sua figura se destaca, com vestígios de santidade. Um abraço de todos nós!
Vitor Espadilha