Acácio F. Catarino
Sociólogo, Consultor Social

À luz do que se referiu no artigo anterior, torna-se imperioso mudar o sistema económico atual «intrinsecamente injusto» (cf. Evangelii Gaudium, nº. 53, do Papa Francisco). Embora não se observem processos válidos de mudança, verificam-se três tendências bem diferentes nas posições tomadas sobre o assunto: uma que poderemos designar por via inconsequente; a outra, por extremista; e a terceira, por gradual.
A via inconsequente procura introduzir melhorias no funcionamento do sistema, mas não se compromete na sua mudança efetiva; os Estados Unidos da América talvez constituam o exemplo mais significativo deste caminho. A via extremista caracteriza-se pela rapidez da mudança e pela recusa da democracia existente, considerada simplesmente formal ou burguesa; foram exemplos desta via a União Soviética e outros países «comunistas». A via gradual caracteriza-se pelo objetivo de mudança efetiva do sistema e pela introdução, em cada momento, dos avanços possíveis, dentro do respeito pela democracia e ponderando a correlação de forças: o respeito pela democracia evita o autoritarismo; e a ponderação da correlação de forças evita que forças incontroláveis do poder económico, ou outras, desencadeiem reações demolidoras. Um exemplo relevante desta via encontra-se nas democracias da Europa; no entanto, apesar dos avanços extraordinários conseguidos, subsiste nelas um lastro incontrolável de injustiça, desigualdades e pobreza. Há motivos para admitirmos que a via gradual redundou, por enquanto, em via inconsequente; e é aproveitada, pelos extremismos, como pretexto para a contestação sistemática e como espaço de liberdade para as suas movimentações.
A força poderosíssima do capitalismo não regulado, com a aliança dos extremismos, vem atirando assim, para um beco sem saída, a luta pela justiça e pelo humanismo. Ao mesmo tempo constitui um apelo irrecusável à acção sistemática no interior de cada pessoa e de todas as estruturas, a favor das transformações necessárias.