“O critério de fazer sempre o mesmo não é critério pastoral”, afirma P.e Licínio Cardoso, recordando uma frase do Papa Francisco. O coordenador da pastoral geral antecipa a jornada de estudos pastorais de 5 de outubro nestas três perguntas colocadas por correio eletrónico.
CORREIO DO VOUGA – O que podemos esperar da jornada de estudos de 5 de outubro?
LICÍNIO CARDOSO – A jornada de Estudos Pastorais que vamos realizar pretende dar o tom sobre o que vai ser o ano pastoral, quer quanto aos conteúdos, quer quanto aos modelos e metodologias de ação pastoral. Os intervenientes vão abordar precisamente estas duas questões: ao padre Pedro Ferreira foi pedido que nos ajudasse a refletir a relação e interdependência que há entre a celebração da eucaristia e o exercício da caridade. Uma e outra, eucaristia e caridade, identificam o que é e o que faz a Igreja em favor das pessoas. Caridade e Eucaristia são o fio condutor deste ano pastoral que agora começa. Na parte da tarde haverá um painel constituído por elementos dos secretariados diocesanos onde se apresentarão os meios e os modos como a temática da caridade e da eucaristia serão desenvolvidas ao longo do ano pastoral pelos secretariados e departamentos. Pretende-se concretizar e dar expressão às linhas de ação e aos desafios do programa pastoral deste ano. Podemos esperar um dia em que os participantes se sintam animados e motivados a pôr mãos à obra e a fazer da caridade a expressão maior do seguimento de Jesus.
O P.e Licínio vai refletir sobre o tema “Programar a ação pastoral: porquê e para quê?”. O tema justifica-se porque a maior parte das paróquias e movimentos “navegam à vista”, sem objetivos, sem planos, sem avaliação?
O primeiro tema desta jornada tem precisamente a ver com a programação da ação pastoral. É verdade que a vida da Igreja e das nossas comunidades tem um fio condutor (ano litúrgico) que mais ou menos é o programa pastoral da maioria das nossas paróquias, comunidades e movimentos. É sempre o mesmo todos os anos, sem novidade, sem referência ao tempo concreto que se está viver, aos problemas e necessidades das pessoas. Recordemos o que o Papa Francisco diz quando apela à conversão pastoral: o critério de fazer sempre o mesmo não é critério pastoral.
Programar a ação pastoral é pensá-la, planificá-la, concretizá-la e avaliá-la permanentemente. O mais importante é a ação, de facto, mas sabendo para onde se vai, qual o caminho a seguir, quais as prioridades. Dá a sensação que em algumas das nossas paróquias o programa pastoral é a pessoa do pároco, o que ele pensa, o que ele gosta e não o que o Povo de Deus precisa para seguir Jesus. E quando muda o pároco muda o plano, muda o programa.
Planificar a ação pastoral é fundamental para termos comunidades vivas, dinâmicas, completamente “atoladas” na vida e nos problemas das pessoas e onde a alegria do Evangelho (Jesus) é o alento vital. Uma grande parte das nossas paróquias não anda por aqui, não se pensa, não se programa, não se avalia. Não há este hábito.
O primeiro tema da jornada de estudos pastorais de 5 de outubro pretende ajudar os participantes a despertarem para a necessidade de se pensar e planificar a ação pastoral. É assim com todas as organizações, com as empresas, com a sociedade. É assim com a Igreja.
O lema deste ano pastoral que agora começa centra-se na caridade. Já se nota nas paróquias alguma ação que a concretize? Como está a decorrer o arranque do ano pastoral?
O ano está a começar, devagarinho, aguardando que as mudanças de pároco se concretizem, pois a dinâmica pastoral (nas paróquias) assenta exclusivamente no pároco, notando-se a falta de conselhos pastorais vivos e atuantes.
O mais importante agora é despertar nas pessoas, nos grupos nas comunidades e nos movimentos o sentido de que a caridade não é apenas tema deste ano, mas “tema de todos os anos” e que tem uma relação essencial com a eucaristia. Este ano o programa está repartido por três etapas, precisamente para nos levar da caridade à eucaristia, sabendo que o próprio Jesus no interpela na eucaristia para sermos caridade. Ora isto nem sempre se entende e muitas vezes o ritualismo e pietismo litúrgico esquecem o próximo, ignorando a pergunta que Deus faz: “Onde está o teu irmão?” E nos movimentos, sobretudo os de expressão nacional, respeitando o fio condutor dos seus programas, não queremos deixar de interpelar para a dinâmica deste ano que vai culminar no dia da Igreja Diocesana com a realização do Congresso Eucarístico.
Importante é começarmos, logo de início, a assumir que a caridade é o nosso modo de vida quotidiano, no acolhimento e na linguagem com os outros, que o nosso relacionamento pastoral seja fundado na caridade, que os nossos processos de discernimento e os critérios de ação pastoral assentem na caridade. O quarto desafio do nosso programa pastoral pede-nos que saibamos promover a caridade como critério identificador do ser e da missão dos nossos agentes de pastoral, particularmente dos ministros ordenados.
Começar assim é começar bem.
Programa da jornada de estudos
09h30 – Acolhimento
09h45 – Tempo de Oração
10h00 – Introdução aos trabalhos por D. António Moiteiro, Bispo de Aveiro
10h15 – “Programar a ação pastoral: porquê e para quê?” por P.e Licínio Cardoso
11h30 – “Dai-lhes vós mesmos de comer”: Caridade e Eucaristia, por P.e Pedro Ferreira OCD
12h15 – Tempo de partilha e diálogo
13h00 – Almoço partilhado
14h30 – Painel: “Caridade e Eucaristia nas propostas pastorais dos secretariados diocesanos”
16h00 – Oração final
Local: Seminário de Aveiro