Vou tomar hoje duas palavras do Papa Francisco para partilhar com os leitores. Elas são indiscutivelmente atuais, respondem a dúvidas e hesitações de muitos, sobretudo questionam certas correntes preconceituosas no seio da própria Igreja.
A primeira, dirigida aos participantes da Assembleia plenária do Conselho Pontifício para os Leigos, reunida precisamente sobre o tema «Encontrar Deus no coração da cidade». É um desafio a não terem medo de ir ao encontro da “cidade”, onde “Deus continua presente”. “Deus continua a estar presente nas cidades frenéticas e distraídas. É necessário não se abandonar ao pessimismo e ao derrotismo mas ter um olhar de fé sobre a cidade, um olhar contemplativo que descobre o Deus que habita nas suas casas, ruas e praças”.
Os movimentos de tendência espiritualista proliferam e progridem com mais facilidade nos nossos dias, diabolizando a “cidade” e oferecendo “refúgio espiritual”, que, por isso mesmo, degenera não raro em alienação, que soa a fuga e lavagem de mãos à maneira de Pilatos.
Todos sabemos que o modo de vida para o qual tendem os nossos dias não é isento do risco de anonimato, de ausência de relações humanas, de invisibilidade… Mas é também aí que surgem novas oportunidades de apostolado, ao encontro daqueles procuram apoio e buscam sentido para as suas vidas.
O Papa lança o desafio aos leigos, para que sejam aí “vidas cristãmente vividas”, que se tornem espelho do “coração do Evangelho, não dos apêndices”. A espiritualidade laical é eminentemente secular, isto é, vive-se no cerne da vida social, laboral, familiar, cultural: “Os leigos são chamados a saírem sem temor e ir ao encontro dos outros homens da cidade: nas atividades quotidianas, no trabalho, singularmente ou em família, juntos nas paróquias ou em movimentos eclesiais que integram, podem quebrar o muro do anonimato e da indiferença que frequentemente reina na cidade”.
Se não lhe quiserem chamar Ação Católica, chamem-lhe outro nome qualquer. Mas o método é esse: ver julgar e agir. O medo e o preconceito não são cristãos.“Tornando-se anunciadores alegres do Evangelho aos seus concidadãos, os fiéis leigos descobrem que existem muitos corações que o Espírito Santo já tem preparado para aceitar o seu testemunho, a sua proximidade, sua atenção”.
Aliada a esta palavra, outra me apraz sublinhar, dirigida aos participantes da Assembleia plenária do Conselho Pontifício da Cultura, sobre o tema «A Cultura feminina: igualdade e diferença». A ela voltarei. Mas fica o voto explícito do santo Padre: “Encorajar e promover a presença efetiva das mulheres em todos os âmbitos da esfera pública, no mundo do trabalho e nos lugares onde se devem adotar importantes decisões, mantendo ao mesmo tempo a sua presença e atenção preferencial na família”. Levar-nos-á a profundas consequências na mesma vida eclesial o desenvolvimento do pronunciamento papal. Não nos falte a coragem!