Procurar rumo

Querubim Silva Padre. Diretor

Querubim Silva
Padre. Diretor

 

O Pastor há longos meses esperado pela Igreja de Aveiro está a chegar. E chega-nos em meio de um clima de entusiasmo e de algumas confusões. Entusiasmo criado por um Bispo que marcou esta Igreja pela proximidade, pela esperança, pela alegria; entusiasmo reduplicado por um Papa Francisco que centra a missão da Igreja no “sair para as periferias”, que insiste no acolhimento do Evangelho como o dinamismo capaz de recriar a capacidade de sair ao encontro das periferias humanas.
Um clima que comporta algumas confusões. É que o entusiasmo pode gerar um ativismo pastoral. E não será esse o caminho da evangelização. Esta saída para as periferias humanas “não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes, é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade, para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho” (EG 46).
Sobre isto, comenta o Bispo e teólogo de confiança do Papa, D. Victor Manuel Fernandez, que o ajudou a redigir o Documento de Aparecida: “Porque, às vezes, quem anda sempre a correr continua fechado em si mesmo, nas suas necessidades, nas suas obsessões, nos seus próprios tempos. E, às vezes, aquele que sai de si é quem renuncia às suas pressas para prestar toda a sua atenção ao outro ser humano. O próprio Papa Francisco age assim quando, no meio da multidão, se detém para ouvir, acariciar, olhar”.
Vale a pena ler a interpretação que este Bispo faz da “Evangelii Gaudium”, em conversa com Paolo Rodari, apresentada no livro “A Revolução Suave do Papa Francisco” (Paulinas, 2014). E importa prestar atenção às reflexões quotidianas de Bergoglio, sempre marcadas pelo encantamento pelo Evangelho, sempre envolvidas na paixão por Jesus Cristo, o Qual, nos seus gestos e palavras, é a expressão genuína e perfeita da misericórdia do Pai, do amor entranhado de Deus pela Humanidade, na perspetiva de a todos nos encaminhar para uma vida liberta das situações de pecado, submissa aos impulsos do Espírito, de íntima e confiante proximidade com Deus.
Esta paixão pelo Evangelho, esta alegria da intimidade com Jesus Cristo, é a única vida capaz de nos tornar sinais de uma significante Misericórdia de Deus que interpele, provoque e estimule a caminhar para o seio materno do mesmo Deus. Desse modo, não seremos “fiscalizadores” da fé; mas também não seremos “vendedores” de uma misericórdia que deixe as pessoas nos caminhos do sincretismo, do relativismo espiritual e moral, sem o vigor do apelo à conversão.