«Refugiados» (1) – Sem refúgio

Acácio F. Catarino Sociólogo, Consultor Social

Acácio F. Catarino
Sociólogo, Consultor Social

 

Milhares de pessoas em fuga demandam todos os dias a Europa, em busca de paz e de condições de vida aceitáveis; provavelmente, muitas mais desejam partir, mas não dispõem de meios para isso. É impressionante o número das que vão morrendo pelo caminho, e sofrendo atribulações inenarráveis. É também impressionante a amplitude e o peso das responsabilidades que recaem sobre os povos da Europa; e deve sublinhar-se, como dignificante, o esforço que vêm desenvolvendo para se evitarem mais mortes, a par do mérito extraordinário de alguns países para assegurarem o melhor acolhimento possível. Tudo o que de bom se vem realizando torna mais patente a vastidão imensa do que falta realizar.
Sabemos que o número de pessoas em fuga e a gravidade dos respetivos problemas ultrapassa, de longe, a capacidade de resposta dos países europeus e das instâncias internacionais neste momento; esses problemas situam-se, nomeadamente nos países de origem do êxodo, na deslocação para a Europa e, depois, na própria Europa. Entre os problemas, nos países de origem, realçam-se a guerra, a destruição, a perseguição, a tortura, a condenação sumária à morte, a falta de meios de subsistência, a ingovernabilidade política… Depois, na deslocação para a Europa, imperam o tráfigo humano, a ausência de proteção, a sobrelotação e a falta de condições dos meios de transporte, os naufrágios e ataques-piratas, as mortes, as fragilidades familiares agravadas por essas mortes… Na própria Europa, não cessa a a «via sacra» de sofrimento atroz, até porque os países europeus se encontram bastante divididos nas orientações que vão adotando: enquanto alguns desenvolvem um esforço extraordinário no acolhimento e na prestação de apoio, sempre insuficientes, outros vão construindo muros e demais obstáculos. Quase todos se confrontam, internamente, com movimentos de rejeição xenófoba; e também quase todos receiam que o extremismo do Estado Islâmico e de outros fundamentalismos destruam as democracias europeias… (Continua)