«Refugiados» (2): Perante muros, na Europa

Acácio F. Catarino Sociólogo, Consultor Social

Acácio F. Catarino
Sociólogo, Consultor Social

As pessoas que procuram refúgio na Europa deparam-se com vários muros que tornam muito difícil a consecução dos seus objetivos. Talvez que se possam considerar, pelo menos, seis tipos de muros: os da legalização, da xenofobia, da religião e democracia, do oportunismo político, do alojamento, com estabilidade e bem-estar, e da socioeconomia.
Os muros da legalização consistem não só nos mais visíveis, sob a forma de paredes, redes metálicas ou forças policiais, mas também nas dificuldades de identificação e registo, na distinção entre candidatos a imigrantes e candidatos a refugiados, na incerteza quanto às decisões finais sobre o destino de cada um… ; acontece que as expectativas dos candidatos a refugiados são muito mais animadoras do que as dos candidatos a imigrantes. Os muros da xenofobia verificam-se nos comportamentos de quem rejeita os estrangeiros. Os muros da religião e da democracia consistem sobretudo no receio de os candidatos a refugiados e a imigrantes reforçarem a tendência para a islamização e para o colapso das nossas democracias; este receio torna-se mais grave, se ponderarmos a alta probabilidade de os fundamentalistas, traficantes de seres humanos e os terroristas se encontrarem infiltrados entre na população em fuga, instrumentalizando-a. Os muros do oportunismo político são construídos pelas forças político-sociais que aproveitam esta gravíssima realidade como novo pretexto para a contestação sistemática e para o alijamento de responsabilidades. Os muros do alojamento com bem-estar, sobretudo em termos de alimentação, saúde e ensino, implicam uma despesa avultadíssima e um forte compromisso dos povos europeus. Os muros socioeconómicos estão bem patentes na nossas altas taxas de pobreza e desemprego, contrastando com o baixo crescimento económico, bem como nas desigualdades gritantes e nas injustiças iníquas. (Continua)