Participaram dez na regata. Há menos gente a saber velejar a embarcação que “nos enche de afeto” e está cada vez mais dedicada ao turismo.
No passado fim-de-semana, o lago do Cojo ou Fonte Nova frente ao Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, recebeu a dezena de barcos moliceiros que participou na regata que ligou a praia da Torreira, no concelho da Murtosa, e a cidade de Aveiro, incluída na programação deste ano do “Ria de Aveiro Weekend”.
Depois da regata propriamente dita, os barcos moliceiros e as duas réplicas de barcos moliceiros (barcos de menores dimensões) seguiram pelos canais Central e do Cojo, até ao largo fronteiro ao Centro Cultural e de Congressos, onde atracaram, voltando a erguer os mastros entretanto derreados para poderem passar sob as pontes que cruzam esses canais urbanos da Ria. A primeira embarcação a percorrer esses canais foi o “A. Rendeiro”, vencedor da regata, cuja tripulação era liderada por José Rendeiro.
No domingo de manhã, os barcos moliceiros fizeram uma exibição de navegação à vela no lago do Cojo, desfilando de seguida à vara pelos canais urbanos até ao Canal das Pirâmides.
Este ano, a regata contou com a participação de uma dezena de barcos moliceiros, número bastante inferior ao verificado ainda há poucos anos, quando a prova era disputada por mais de duas dezenas de embarcações. Entre as justificações para esse decréscimo de embarcações está o facto de alguns barcos moliceiros, incluindo antigos vencedores da regata, desenvolverem agora atividade turística. Por outro lado, são cada vez menos os barqueiros que dominam as técnicas de velejar num barco moliceiro.
Regata revive cartaz
identitário da ria
Para o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Aveiro, as regatas de barcos moliceiros fazem parte da identidade aveirense. “Contribuem para revivermos um dos maiores cartazes identitários da região e da Ria de Aveiro, que são os barcos moliceiros”, afirma Capão Filipe. São embarcações que “a todos nos enchem de afeto”, acrescenta.
Reconhecendo que cada vez é menor o número de barcos moliceiros e de barcos mercantéis que ainda navegam à vela nas águas a Ria de Aveiro, apesar do crescente número dessas embarcações usados ao serviço do turismo, Capão Filipe mostrou-se satisfeito por uma dezena de barcos, “deviamente aparelhados com o respetivo mastro e velas” marcarem presença no lago do Cojo e, desse modo, permitirem usufruir desta imagem identitária da Ria de Aveiro que são os barcos moliceiros na sua forma original, incluindo “essa grande arte popular da laguna da Ria de Aveiro que é a pintura humorística dos painéis das proas dos barcos moliceiros”.
Para o autarca aveirense, esta regata promove duas vertentes de arte popular, “a arte de navegar à vela com estes barcos e a arte da pintura popular dos painéis”, pelo que “é obrigação das gerações atuais prosseguirem com esta memória, se possível cada vez com maior número de barcos, porque o barco moliceiro é, indiscutivelmente, um importante fator turístico e cultural, não só da nossa região, mas também de âmbito nacional”.
Cardoso Ferreira