Relâmpago de eternidade

Querubim Silva Padre. Diretor

Querubim Silva
Padre. Diretor

A insistência pode configurar sinais de “papolatria”. Na realidade, não é. É apenas a convicção profunda de que uma nova era se abriu na vida da Igreja. Como escreve Emília Nadal, em Francisco, o Papa dos Pobres, de Paulo Aido: “O anúncio de que a eleição recaíra sobre o Cardeal Arcebispo e Buenos Aires, um jesuíta que se iria chamar Francisco, riscou o tempo dos homens como um sinal de esperança e um relâmpago de eternidade.”
Os gestos e as palavras de Francisco têm confirmado claramente o tempo novo que temos a graça de viver. “Os primeiros passos deste pontificado abriram novos horizontes, deixando entrever, muito ao longe, a esperança de se alcançar o ideal de uma eclesiologia de comunhão, como desejou o Papa João XXIII quando convocou o Concílio Vaticano II. Passaram cinquenta anos e está por iniciar”, prossegue Emília Nadal.
Mais do que sinais de divisão, vamos assistindo a evidentes manifestações de dificuldade em se deixar renovar interiormente de verdade, seja de cúpulas seja de bases da Igreja. Adotar um estilo de vida de simplicidade e despojamento, a sobriedade de indumentárias removendo em definitivo os sinais de majestade herdados do barroco italiano, adotar a autenticidade e beleza de cerimoniais humildes e transparentes, dispensar-se de protocolos mundanos e discursos de conveniência…, afinal tocam mais fundo do que se imaginaria na sede de uma imponência e “poder” instalados.
A verdade é que estes sinais ganham extensão e vigor. Alguns acham Francisco um “reformador insuficiente”. Mas os que se sentem tocados nos seus privilégios e benesses reforçam o coro dos protestos, apodando já o Papa de “anti-Cristo demolidor de sagradas tradições”. E agarram-se freneticamente aos trapos do passado, como se neles residisse o paradigma do culto sem mancha, revestido de transcendência e eternidade, liberto da miséria humana, como aquele que agrada a Deus.
O Bispo de Roma inaugurou um estilo novo de ser o autêntico Pastor Universal, sem deixar de ser o Bispo e o Homem próximo, acolhedor, atencioso, cheio de bondade e misericórdia, espelho visível do rosto paterno e materno de Deus. Estamos certos de que “o Papa Francisco abriu uma janela de esperança e entreabriu algumas portas que estavam fechadas e aferrolhadas há muitos séculos”.
Não nos restam dúvidas de que o “Poverello” está de novo entre nós. Também não duvidamos de que terá de sofrer muito para permanecer firme ao leme da “barca de Pedro”. Concordamos com Emília Nadal: “Começa agora a subida para o Calvário. Estaremos nós à altura de o compreender e acompanhar?” Tentemos! Não fiquemos de fora, entre a multidão indiferente e curiosa!