Paulo VI – beatificação… e esquecimentos

Acácio F. Catarino Sociólogo, Consultor Social

Acácio F. Catarino
Sociólogo, Consultor Social

Uma parte do magistério de Paulo VI não foi tida em conta. Afloro apenas duas linhas de orientação que têm sido bastante ignoradas, pelo menos entre nós: uma respeita ao desenvolvimento integral; e a outra ao diálogo, particularmente no interior da Igreja.
Na Encíclica Populorum Progressio (1967), assumiu que «o verdadeiro desenvolvimento (…) é, para todos e para cada um, a passagem de condições menos humanas a condições mais humanas» (nº. 20); ele será integral, na medida em que abranja todas as pessoas e cada uma, em todos os aspetos da sua vida, incluindo a relação com Deus (nºs. 14 e 21). A Encíclica recomenda que os leigos participem no desenvolvimento pela oração e pelo «compromisso decidido (…) na luta contra o subdesenvolvimento» (nº. 75).
Apesar destas orientações tão claras e interpelativas, os leigos, em geral, não se têm empenhado em iniciativas de desenvolvimento local; também não têm debatido os problemas económico-sociais do país, de maneira sistemática, nem formulado propostas de solução. Por outro lado, ainda não foi instituída a pastoral do desenvolvimento.
No que se refere ao diálogo, Paulo VI dedicou-lhe, no início do seu pontificado, a Encíclica Ecclesiam Suam (…), 1964. O mesmo assunto foi retomado noutros documentos, justificando porventura uma referência especial o nº. 50 da Exortação Apostólica Octogesima Adveniens, 1971. Aí se reconhece que «uma mesma fé cristã pode levar a assumir compromissos diferentes», e recomenda-se «um esforço de compreensão recíproca das posições e das motivações uns dos outros». É desejável, naturalmente, que este esforço se realize através do diálogo no interior da Igreja (Ecclesiam Suam, nºs. 114 e 117); nele, as divergências podem transformar-se em complementaridades e convergir «para o mesmo fim» (Ecclesiam Suam, nº. 83).
Acerca do «diálogo no interior da Igreja, e com os de fora (…)», Paulo VI admitiu que «tudo está ainda por fazer» (Ecclesiam Suam, nº. 117). Hoje, volvidos cinquenta anos, tudo parece continuar na mesma…