Sanções

M. Oliveira de Sousa Professor

M. Oliveira de Sousa
Professor

Continuamos a assistir a um certo extremar de posições entre os que compreendem o mundo, entenda-se, a vida das pessoas, a felicidade individual, a realização pessoal, a concretização do sonho de ser feliz é algo vedado, acessível apenas a alguns (os donos, os mentores, os pais predestinados) – apenas o estoicismo é caminho; do outro lado, quem acredita que é possível viver assente na reta distribuição dos bens, na concretização do bem comum – crentes de uma determinada “moral” socrática – suportado na solidariedade.
Fazendo justiça ao pensamento de Alvin Tofler, que partiu no dia 27 último, “os analfabetos não são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e a voltar a aprender”.
As mais recentes manobras dilatórias dos pretensiosos donos das nossas vidas, extremistas que não sabem reaprender (da história), que só por “espirrarem” dificultam a vida de milhões de pessoas que ganham honestamente o seu pão com o suor do rosto, querem sancionar quem luta por cumprir honestamente, mas que tem pensamento e vida próprias. Por isso, quais sanções (contra Portugal por causa de duas décimas de défice em 2015)?! Se fossem estadistas, europeus e europeístas, resolviam os assuntos no lugar próprio, porque já todos percebemos que pagaremos honradamente desde que não o impeçam ao fazer tudo para que a dívida continue insustentável – a outra forma de escravizar, dominar, impedir a autodeterminação.
Nós, portugueses, …

Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar

Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror

A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças

D’ África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados

Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.
(Sophia de Mello Breyner, Cantata de paz)