Santa Teresa e Padre José Kentenich

Neste ano de 2014, entre tantas, destacam-se duas figuras que marcaram profundamente a Igreja do seu tempo. Separados por quatrocentos anos de história, ousaram crer e realizar uma epopeia singular, primeiro nos seus países, Espanha e Alemanha, e depois, através dos seus seguidores, no mundo inteiro… Claro que muitas ideologias não religiosas fizeram o mesmo, mas, ou não perduraram ou deixaram rasto de dor e de sangue.
Teresa de Jesus, nascida em Ávila há 500 anos, morreu dizendo: “Morro filha da Igreja. E deixou filhos e filhas que, por todo o mundo, até Aveiro, seguem esse amor, em oração contemplativa, consagração mariana… As sementes deram uma produção de imensos santos que enchem o santoral e os altares de nossas igrejas, conventos espalhados por todo o mundo, com almas consagradas, que há cinco seculos ajudam a Igreja no seu caminhar.
O P.e José Kentenich, ainda não canonizado, nascido em Giminich, Alemanha, criou em Vallendar, no Vale de Schoenstatt, a partir de uma humilde capelinha abandonada, um movimento que hoje está presente em todo o mundo, até Aveiro, com mais de duzentas capelinhas iguais à original, e centenas de locais onde a consagração a Maria, em Aliança de Amor, ajuda pessoas a transformarem-se em homens novos para um mundo novo.
Sobre o seu túmulo está escrito, como que ao jeito de Teresa, “Ele amou a Igreja”. Foi o amor à Igreja que os impulsionou, uma e outro, a enfrentarem-se a si mesmos nos seus medos e receios, e conceber o absurdo aos olhos do mundo: Conventos de contemplativas, na mais absoluta pobreza – “sin rentas”- e Santuários de amor e de Paz. Deles brota uma família que vive a sua vida buscando forças nesta fonte. Deles surgiram muitos homens e mulheres, alguns já beatificados, que deram ao século XX um sabor de aventura de fé que faz lembrar o Antigo Testamento e o ardor apostólico da “andariega” de Espanha. Foi o amor à Igreja, amor aos homens ou às almas, como podemos dizer, foi o amor a Maria, foi o amor à Eucaristia e à contemplação eucarística, foi a consciência de que a santidade se forja na vida diária, com obras mais do que palavras, com conquistas que nos levam a superar os nossos defeitos e limitações, como instrumentos aptos nas mãos de Deus e de Maria… Foi a consciência de terem uma missão à qual deveriam responder com inteira fidelidade… Foi o ardor que contagiou muitos do seu tempo e continua a atrair aqui e ali, pessoas apaixonadas por grandes causas que não são notícias de telejornal… Foi o amor à Vontade de Deus… Foi o desejo de deixar Deus, por Maria, mostrar o Seu Verbo… Foi a aceitação da cruz, ora na Inquisição e perseguições, dentro e fora da Igreja, por parte de bispos, cardeais, conselhos políticos, regimes totalitários como o nazismo, ou calúnias que levam a exílios ou castigos, que um e outro tiveram de suportar. Foi a vivência de uma vida fiel… e de uma morte serena, de quem tudo cumpriu.
Tudo isso são os motivos que levam Teresa e José Kentenich a celebrarem, mais que os seus jubileus em 2014, neste mês de outubro (Teresa em 2015, mas começamos a celebração neste 15 de outubro), as suas vidas, obras e mensagens.
Eles nos levam ao nosso sim. Eles se complementam na espiritualidade. Eles nos orientam no nosso caminhar para o Pai. Eles nos mostram que a feminidade ou a masculinidade se complementam, não só no matrimónio, mas nos carismas espirituais da Igreja. Não estão sós, nem como santos, nem como fundadores ou reformadores, nem como crentes e fiéis. Muitos também seguiram esse caminho e seguem o caminho da santidade através da vivência de sua vocação… em congregações ou movimentos, todos válidos e todos belos, qual arco-íris saído das mãos do Deus Amor.
Mas o que os torna singulares, embora, de certo modo possamos dizê-lo de muitos, é a vinculação a lugares de Graça: “Palomarcitos” de Teresa ou santuários de Schoenstatt. São lugares onde, em qualquer canto do mundo, o que aconteceu no dia da fundação ou da reforma, sucede no hoje e no agora, neste e naquele convento, nesta e naquela comunidade, neste e naquele santuário, não só no agora, mas no aqui…
Aqui, tudo volta a acontecer, e o espaço é tão igual ou semelhante, que não temos de imaginar como será aquela terra santa, pois ela existe, igual, à porta da nossa casa. Eles amaram a Igreja e nós amamo-la também… Eles amaram Maria e nós amamo-la também… Eles amaram os homens e nós amamo-los também… Este é o desejo de cada um deles, para os seus filhos e irmãos de carisma. Um carmelo, um santuário de Schoenstatt lembram-nos que, fiéis ao Batismo, temos uma Aliança de Amor, com o nosso Deus, em Jesus Cristo, para sermos santos também e heróis do nosso tempo.
Vitor Espadilha