Sim, fiat

Em março, mês de S. José, celebramos sempre a Festa da Anunciação do Anjo a Maria, quando o Verbo de faz Carne, Encarnação… Meditamos o “sim” de Maria. No entanto, é sempre bom irmos aos primórdios do “fiat” (“faça-se”).

Vemos que o próprio Deus é um sim em Si mesmo e a Si mesmo. Como Trindade, o Filho é a expressão do pensamento do Pai, Sua Palavra, Seu Verbo. Ao estar em união essencialmente divina com o Pai, o Filho é a Verdade. O Amor do Pai e do Filho é o Espírito Santo, que é o Sim de Amor Trinitário. A dinâmica de Deus é um “fiat” absoluto para Consigo mesmo. De modo extra divino, se assim se pode dizer, Deus disse um “sim” à Criação e todas as coisas foram feitas pela Palavra do Pai. “Faça-se”, “fiat”. E foi nesse Sim Criador que surgiu o Homem como Sua imagem e semelhança. Quase se poderia dizer que Deus, ao contemplar-se a Si mesmo, afirmou este sim, disse-o a Si mesmo, criando o homem, Sua obra-prima, porque reflexo da Sua substância. E, conferindo-lhe a liberdade, permitiu a desobediência e fez uma promessa de Aliança Eterna, à qual sempre Se mantém fiel, porque não pode negar-se a Si mesmo. Ele é o Sim na Sua essência.
Esta Aliança implicou que, na chamada plenitude dos tempos, Ele enviasse o seu Filho à Terra. O Verbo, como diz a Carta aos Hebreus, vendo que o Pai não aceita os sacrifícios de bois e carneiros, por serem incapazes de reparar os pecados, prepara para Ele um corpo, que imolaria na cruz em pacto de Aliança Eterna. O Sim acontece espontaneamente no Filho, pois por ser a Palavra só pode estar com o Pai e no Pai: “Eis que venho, ó Pai, para fazer a Vossa vontade”. “Eu e o Pai somos um”. “Só faço o que o Pai manda”. “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
A geração eterna do Verbo implica um sim mútuo entre o Pai e o Filho, um sim-amor que os une no mesmo Espírito. Por isso, toda a vida de Jesus é de espontânea obediência. Não pode ser de outro modo. O Filho só sabe obedecer. Vem do Pai. Vive no Pai. Está em Deus e é Deus…
Jesus exprime em várias passagens do Evangelho a Sua união com o Pai e o Espírito que os une. É aí que Maria é inserida na obra da redenção. Ao ser convidada pelo Anjo a conceber o Verbo e dar-Lhe um corpo, Maria não poderia ter outra expressão para com Deus senão a do “fiat”, o mesmo que a criou, e que, através dela, pretende recriar todas as coisas. A sua felicidade não está em ser a Mãe do Verbo, apenas, mas em fazer a Vontade do Pai: “Eis a escrava do Senhor. «Fiat», faça-se em mim, segundo a sua palavra”. E assim será toda a Sua vida e Eternidade de Medianeira: Levar-nos a fazer a Vontade de Deus: “Fazei tudo quanto o meu filho vos disser”. É este o Seu testamento no Evangelho, as Suas últimas palavras. Quando se pronuncia, depois da Bíblia, nos momentos aprovados pela Igreja em visões e aparições, é este o seu único desejo… e quando inspira fundadores a Lhe dedicarem santuários e fazerem com Ela , Aliança de Amor, o seu pedido e exigência é a fidelidade ás promessas do Batismo. Cada um de nós, é chamado a entronizar-se na dinâmica do sim trinitário, como Maria e Jesus na Sua humanidade.
O nosso “sim”, a nossa fidelidade, na vida cristã que abarca a família, a profissão, a vocação e a própria vida, na alegria ou na dor, é a atitude que nos une a Deus, nos une a Cristo Salvador e a Maria, nossa Mãe. Por isso, os santos ensinaram e ensinam-nos que, para eles, o seu sim é para sempre… e a Eternidade não será mais do que a afirmação deste sim-amor perpetuado entre Deus e cada um de nós.

Vitor Espadilha