Com a finalidade de homenagear a mulher, no seu “Dia Internacional”, calendarizado para 08 de março, pensei dedicar-lhe este apontamento; é que, perscrutando a história das sociedades, descobre-se frequentemente que, ao lado de grandes homens, vivem com prudente discrição grandes mulheres que animam, aconselham, colaboram e amparam.
Hoje, lembro uma senhora que, entre lezírias e fornos e no meio de vinhedos, habita numa das freguesias da diocese de Aveiro, já referenciada no ano de 883 e que foi sede de concelho até 1853; chama-se Maria de Massabielle e vive com a sua mãe, já avançada em idade. Desde há uns três anos que é viúva de Ernilato Gontibo, de quem teve duas filhas – cujos nomes provêm possivelmente de uma personagem da antiga Grécia e da beleza de uma bela flor de jardim.
Ao longo do tempo, com o apoio e o conselho do marido e de outras pessoas, como anjos tutelares, tem navegado com firmeza por vales e ribeiros e tem ultrapassado eventuais penhascos. É uma senhora que procura andar dia a dia, percorrendo caminhos sempre com a esperança firmada na fé, para não se deixar vencer por quaisquer infortúnios ou contratempos.
Como esposa e como mãe, demonstrou singular afeição ao marido até à sua morte dolorosa, aspirou sempre em construir e em reconstruir quotidianamente o edifício do matrimónio e da família, baseado no primeiro e único amor, e preocupou-se com esmero na educação e formação das filhas. Agora, na saudade de quem fora o seu arrimo e na experiência da sua viuvez, persevera em não se deixar vencer pela responsabilidade de cuidados redobrados.
Quem conhece a Maria de Massabielle vê nela o testemunho de alguém que, sem se eximir das suas obrigações familiares e profissionais, inquieta-se com as carências da sua comunidade e das pessoas; assim, estimulada pela confiança em Deus e pela caridade em favor do próximo, sentimo-la junto dos amargurados em atitudes de bem-fazer. Além disso, colabora ativamente na gestão dos modestos recursos da sua paróquia e dedica-se à concretização de projetos pastorais. Pensando no seu agir, vêm-me à mente as palavras de Santo António de Lisboa, falecido em 1231: – «A linguagem é viva, quando falam as obras. Cessem, portanto, as palavras e falem as obras. De palavras estamos cheios, mas de obras vazios.»
Mas não só. Convencida de que a Igreja não cresce por proselitismo mas por atração e de que cada cristão, a seu modo, tem de transmitir a fé, ela, mesmo sem nisso pensar, anuncia e leva os valores do Evangelho a ambientes periféricos. Neste capítulo, entendeu pertencer a uma organização mundialmente difundida, cujo lema é “dar de si antes de pensar em si” e que, com tal espírito, se interessa com a formação ética dos seus membros, deseja colaborar na concretização da paz, presta serviços humanitários e procura dar respostas solidárias aos necessitados.
Animada por uma coragem singular, não suspendeu a atividade da sua empresa, apesar de um dos últimos conselhos do marido que lhe dissera que a vendesse ou a trespassasse; com o pensamento nas dezenas de operários e respetivas famílias, abalançou-se em prosseguir animosamente no mesmo ritmo a laboração industrial. Ela confia no auxílio maternal de Nossa Senhora de Lurdes e na proteção amiga do diácono e mártir espanhol, seu padroeiro; mas também conta com o empenho daquele que, agora na eternidade de Deus, continua a olhar por tudo o que lhe nasceu do coração.