A Casa Sacerdotal, o Seminário e o Sagrado Coração de Jesus

A Casa Sacerdotal fez no passado dia 7 de junho, domingo, o seu segundo aniversário. Recordar as datas, com mais ou menos festa, é sempre uma oportunidade para fazer memória desta causa e desta missão.
Em dia de inauguração recordava a “Canção do Semeador”, de Miguel Torga, que diz: “Mas todo o semeador/ Semeia contra o presente./ Semeia como vidente/ A seara do futuro,/ Sem saber se o chão é duro/ E lhe recebe a semente”.
A Casa Sacerdotal foi semente lançada à terra, assim como o fora o Seminário e o é toda a obra vocacional. Comporta riscos, decisões, mas a causa que presta – ser mais que uma casa, mas afirmar-se como Santuário de Gratidão – é sempre o maior mérito de qualquer casa. Neste dois anos aqui foram acolhidos, em média, 10 residentes; aqui já faleceram dois padres; recebemos familiares e amigos, alguns de passagem; aqui se acolhem padres em convalescença e se dá abrigo agradecido pelo serviço de outros. A Casa Sacerdotal ainda não está paga, devemos ao Fundo Diocesano de Compensação do Clero e a algumas paróquias e particulares. A sua sustentabilidade não tem sido fácil, carecendo de decisões que tornem claro o seu estatuto e a sua estabilidade económica, ainda que o caminho da Igreja e a promoção de alguns bens e valores evangélicos estejam sempre acima de qualquer equilíbrio ou sustentabilidade económica. Continuamos, por isso, a contar com ofertas e apoios, iniciativas e outras formas de colaboração, bem como a proximidade orante, a visita e o carinho para com aqueles que já se encontram a residir nesta Casa ou aqui possam ser acolhidos.
A Casa sacerdotal só pode ser diocesana ser for mesmo entendida como um bem de todos para acolher quem serve e serviu.
O Seminário de Santa Joana Princesa celebra esta semana a sua dedicação ao Sagrado Coração de Jesus. Dedicado ao Sagrado Coração quer dizer que aquilo que nos move é a linguagem do amor e dos afetos, da humanidade e do serviço. Mais que qualquer imagem do Sagrado Coração de Jesus, mais ou menos bonita, interessa sermos fiéis à nossa missão de educar jovens que se disponham a amar e servir, segundo a proposta de Santa Joana Princesa e ao jeito de Jesus Cristo.
Este ano celebramos esta solenidade recordando o recente falecimento do Sr. Domingos Moreira, que fora ecónomo deste Seminário durante muitos anos. O seu serviço generoso, a partilha da sua sabedoria de vida e da sua competência foram para as equipas formadoras um apoio e para gerações de seminaristas um testemunho de vida laical e de amor não só ao Seminário como ao ministério presbiteral. Quem quiser celebrar esta Solenidade connosco pode aparecer para a celebração, às 19h do dia 12 de junho, no Seminário.
Tem preocupado a diminuição de jovens a participar em atividades do Pré-Seminário e sobretudo nos encontros de candidatos que mais mobilizavam. O Pré-Seminário e o Seminário, apesar da proximidade com as famílias e comunidades (e podemos fazer sempre mais…), não pode substituir o trabalho das comunidades na promoção vocacional. Sentimos que é altura de nos repensarmos nos métodos e estratégias de proximidade e promoção, mas também de, enquanto famílias, comunidades e párocos, nos perguntarmos sobre a nossa motivação e testemunho.
Estando convencido que, por vezes, a forma como os jovens veem hoje a vida do padre possa não ser a mais entusiasmante, a verdade é que continuam a existir jovens interpelados por esta vocação e ministério em Igreja e é uma falha grave não os ajudarmos a orientar e a encontrar um caminho. Parafraseando ao Papa Francisco, ousemos todos um pouco mais na promoção vocacional!

 

JOÃO ALVES
Padre. Reitor do Seminário de Aveiro
e diretor da Casa Sacerdotal