Na próxima semana, mais concretamente entre os dias 3 e 12 de setembro, terá lugar a Visita ad Limina dos bispos portugueses. A sua origem remonta ao século IV e está prescrita pelo Código de Direito Canónico (cânones 399-400): «Cada cinco anos, o bispo diocesano deve apresentar ao Santo Padre uma relação sobre a situação da sua diocese» e «venerar os sepulcros dos Apóstolos Pedro e Paulo».
A fundamentação desta Visita encontramo-la no primeiro e no segundo capítulos da carta de S. Paulo aos Gálatas, onde S. Paulo afirma: «Passados três anos [após a sua conversão], subi a Jerusalém para conhecer Pedro, e fiquei com ele durante quinze dias» (1,18) e «pus à apreciação dos apóstolos o Evangelho que prego entre os gentios, não esteja eu a correr ou tenha corrido em vão» (2,2).
Esta Visita é simultaneamente uma manifestação de comunhão entre os bispos de um país e o bispo de Roma, na qual se manifesta a confissão da fé apostólica, a celebração dos mesmos sacramentos, a experiência da oração pública da Igreja, e a prática da lei do amor como normativa dos discípulos de Jesus. Vale a pena referir o que em 2009, na Visita ad Limina dos bispos argentinos o que o atual Papa referiu na saudação a Bento XVI: «Obrigado por nos receber, escutar as nossas inquietações e problemas, partilhar os nossos projetos pastorais e, sobretudo, obrigado por nos confirmar na fé e no serviço pastoral. Queremos encontrar nesta Visita o alento necessário para que as nossas dioceses sejam casa e escola de comunhão, e promover comunhão entre nós, os bispos, e com os fiéis das nossas dioceses, e nos ajude a crescer no sentido de pertença à Igreja universal”.
A sua preparação pressupõe a elaboração de um Relatório no qual intervêm, para além do bispo diocesano, os vários serviços da pastoral geral e específica. Este Relatório foi elaborado entre novembro transato e abril do ano em curso, segundo critérios emanados dos serviços da Cúria Romana.
Dele consta a identificação do bispo diocesano, a condição religiosa e moral da própria Diocese, a confrontação de dados estatísticos entre a última e a atual Visita, o número de agentes de pastoral e a sua formação, concretamente os dados relativos ao presbitério diocesano, o número de católicos e de outras confissões religiosas, as estruturas e organismos promotores de comunhão na Diocese, entre outros dados de relevância para o conhecimento da Diocese na sua globalidade. Uma particularidade destes Relatórios é que engrandecem e fazem dos arquivos do Vaticano uma fonte de riqueza documental das mais importantes do mundo.
Na continuidade da importância que o Concílio Vaticano II deu à ‘Igreja particular’, esta Visita ad Limina reforça e fortalece o papel das dioceses na comunhão eclesial. Na manhã do dia 7, o encontro com o Papa Francisco é, sem dúvida, o momento mais significativo. Durante toda a manhã, Sua Santidade reunir-se-á com os bispos portugueses, em dois grupos. O primeiro grupo é constituído pelos bispos das províncias eclesiásticas de Lisboa e de Évora, e o segundo pelos bispos da província eclesiástica de Braga, à qual pertence a nossa diocese de Aveiro. Nos dias seguintes seguem-se os encontros com os diferentes organismos da Cúria Romana.
Esta é a minha primeira Visita ad Limina. Levo comigo as intenções e preocupações que estão no coração de todos os diocesanos. Junto dos túmulos dos apóstolos, terei presente a necessidade da revitalização da fé nas nossas comunidades cristãs e nos nossos movimentos apostólicos, uma vez que o discípulo de Jesus Cristo deve ser agente da misericórdia de Deus para com todos, com mais intensidade para com os pobres e os pecadores, tal como aparece no nosso Plano Pastoral.
A todos convido a fazer eco desta Visita nas vossas orações.
À Virgem Maria, Mãe da Misericórdia, e a Santa Joana Princesa, nossa padroeira, encomendo todas as intenções da nossa diocese de Aveiro; que cada pessoa encontre alegria para redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus, e que esta Visita ad Limina seja estímulo para todos e cada um de nós construirmos uma Igreja diocesana que seja casa e escola de comunhão.
Aveiro, 1 de setembro de 2015
António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro