Acontecimentos recentes dão visibilidade a uma realidade provocadora: Onde estão e quem apoia os cristãos empenhados na vida pública? Que formas associadas são acarinhadas e promovidas pela Igreja instituição e seus responsáveis primeiros, seus movimentos e paróquias? Que sensibilidade social desperta a leitura orante do Evangelho que alguns grupos vão fazendo? Perguntas que podem incomodar os que estão satisfeitos porque há ainda quem aparece, pede ritos sagrados, toma parte em devoções piedosas, tem gestos e conselhos de bem-fazer. Dá a impressão que se cultiva uma fé “descafeinada”.
O Evangelho é força de renovação. O exemplo de Jesus histórico, situado no tempo e na cultura, não deixa dúvidas. E o Cristo ressuscitado, o da glória, percorreu os caminhos da história, assumiu a limitada medida humana, redimensionou a fragilidade, abriu horizontes às sementes de esperança, fez brilhar a energia escondida no fermento de uma sociedade envelhecida a renovar. E deixa esta bela missão aos seus discípulos e pastores.
A valorização dos leigos como “categoria” à-parte na Igreja constitui um empobrecimento tremendo, se antes não for valorizada a sua pertença ao Povo de Deus, a par de outros membros como os diáconos, os presbíteros e os bispos, todos chamados a ser santos no quotidiano das suas vidas. Os religiosos representam um sinal especial que visualiza esta vocação universal.
Sendo importante ver onde estão os leigos e o que fazem, é mais urgente ponderar onde estão os cristãos como discípulos missionários na Igreja “hospital de campanha” que quer ser fiel a Jesus Cristo que grita em surdina na consciência das pessoas subdesenvolvidas nas suas capacidades, adormecidas na sua dignidade, congeladas nas suas aspirações a um desenvolvimento integral, limitadas ao imediato saturante, esforçadas em gestos de precária duração, atormentadas por feridas purgantes de sonhos truncados. A humanidade e a mãe natureza fazem sentir a sua amargura, o ambiente o seu descontrole, as alterações o seu clamor ensurdecedor. Paulo na carta aos cristãos de Roma já deixava alertas sonoros, embora em forma de gemidos. (Rom 8, 22). Hoje, como facilmente se comprova, os seus efeitos são desastrosos.
A vida pública não exclui a privada, pois a pessoa é um todo em busca de harmonia crescente das suas diversidades enriquecedoras. Ela é individualidade sociável, natureza civilizada, relação convivial, tempo situado na história, eternidade configurada no limite aberto ao definitivo do futuro de Deus. Em todas estas áreas está chamada a realizar-se progressivamente.
A Igreja constitui o sacramento desta vocação da humanidade e, por vontade de Jesus Cristo, força de semente a germinar constantemente, energia de fermento a levedar a massa, sacramento a garantir que Deus quer a colaboração de todos na realização do seu projecto de salvação universal.
Situa-se neste dinamismo o Encontro Nacional de Leigos recentemente realizado, em Viseu, encontro que analisa o tema “Nada nos é indiferente entre a terra e o céu” e quer ser “um apelo sobre os fundamentos da nova esperança e a responsabilidade politica e social para a construção da justiça e da paz”. A presidente da CNAL, Alexandra Viana Lopes, em declarações à Rádio Vaticano, destaca os apelos que o Papa tem feito: “A sair das suas portas, viver plenamente no mundo, ir trabalhar para todos e com todos”, apelos “a chegar sobretudo àqueles que ainda não encontraram Deus, que vivem na maior fragilidade humana, social e cultural”.
Muito caminho já se fez; mas muito mais há para fazer. Onde estão os cristãos na vida pública? Como se organizam para a eficácia da indispensável acção concertada? Que espiritualidade os anima? Quem lhes/nos apoia na ousadia apostólica de dar razões de esperança nos ambientes em que vivemos? Perguntas que indicam um rumo auspicioso sob o olhar atraente de Jesus, Senhor do Universo.