A Europa estremece, por estes dias, face à sua incapacidade para se manter coesa, à sua inabilidade para dialogar de forma convincente com alguns dos seus membros, de modo que eles sejam cumpridores sem serem escravos. Está confrontada com o desespero de filhos da miséria que buscam por todos os meios derrubar as fronteiras da indiferença e alcançar ao menos as migalhas que caem da mesa dos ricos. Apavora-se com o ataque sincronizado, em vários locais, da barbárie do dito estado Islâmico. A Europa está ferida na sua identidade, está gravemente ferida na sua segurança.
Será o tempo oportuno para se repensar como civilização e proposta de desenvolvimento, como parceira do mundo e não dona da humanidade, como reserva da ecologia humana e não a fonte de todas as suas perversões. Terá capacidade para esta “revisão de vida” e para empreender a recriação de uma escala de valores que tenha a pessoa humana, a sua dignidade e liberdade inalienáveis como centro e primeira razão de ser? Ousará desenhar uma união de povos e subculturas que sintam gosto em partilhar as suas riquezas e aceitem acolher as suas diferenças? Saberá abdicar de radicalismos ideológicos, apanágio de minorias “mandantes”, em benefício de realismos práticos que respeitem a verdadeira alma dos povos? Será capaz de reconhecer os seus erros colonizadores, para dar a mão aos que precisam de sair da masmorra da fome, do subdesenvolvimento?
É importante e urgente que outros problemas marquem a agenda política desta Europa esfarrapada. Enquanto isso, continuamos a receber do Papa Francisco palavras de esperança e de ânimo, diante de tantas perseguições aos cristãos: “Passaram reinos, povos, culturas, nações, ideologias, potências, mas a Igreja, fundada sobre Cristo, não obstante as inúmeras tempestades e os nossos muitos pecados, permanece fiel ao depósito da fé no serviço, porque a Igreja não é dos Papas, dos Bispos, dos padres, nem sequer dos fiéis; é só e unicamente de Cristo” – dizia na celebração com os Metropolitas, na Basílica de S. Pedro, pela solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo.
Em busca de um bem estar legítimo, somos atraídos muitas vezes pelas seguranças materiais, que, como diariamente constatamos, nos deixam as mãos vazias e à deriva no mar imenso do mundo em que vivemos. As referências ao sobrenatural são a estrela polar, o farol longínquo, a bússola segura, para as pessoas e os povos navegarem com rotas definidas. “Nenhum Herodes é capaz de apagar a luz da esperança, da fé e da caridade daquele que crê em Cristo” – prossegue o Papa. E retoma a memória do passado “Em nome de Cristo, os crentes ressuscitaram os mortos; curaram os enfermos; amaram os seus perseguidores; demonstraram que não existe uma força capaz de derrotar quem possui a força da fé”, para apontar o caminho que urge no presente. “Não há testemunho sem uma vida coerente! Hoje sente-se necessidade não tanto de mestres, mas de testemunhas corajosas, convictas e convincentes; testemunhas que não se envergonham do nome de Cristo e da sua Cruz, nem diante dos leões que rugem nem perante as potências deste mundo”.
O desafio aos arcebispos é para toda a Igreja e para todos os crentes que o são de verdade!