A Igreja portuguesa celebra entre os dias 12 a 19 de Novembro a semana de oração pelos seminários. Nesta semana, os cristãos de Portugal são chamados a ter de forma mais próxima aqueles que nas casas de formação, vão discernindo a sua vocação e desejam responder ao Senhor que os chama a servir as comunidades cristãs como imagens do Bom Pastor. Também a nossa diocese de Aveiro está empenhada em que esta semana seja um despertar em todos os cristãos para que os nossos jovens oiçam a voz de Deus e respondam com generosidade, através de um seguimento cada vez maior.
1. Jesus chama os primeiros
discípulos (Jo 1,35-51)
Imediatamente antes do episódio das Bodas de Caná Jesus chama os primeiros discípulos através de uma simples pergunta: – Que procurais?
São as primeiras palavras de Jesus no evangelho de S. João. Eles interessam-se em conhecer a Sua morada e chamam-lhe “Mestre” – o que significa que estão dispostos a aceitar os Seus ensinamentos e o Seu estilo de vida. Jesus convida-os a partilhar com Ele uma casa e uma vida, como antecipação da vida eterna na casa do Pai (14, 3).
Começa um diálogo entre Jesus e os primeiros discípulos. Mediante este diálogo, com o qual Deus entra em relação com o homem, este é convidado a dar uma resposta que dê continuidade e eficácia ao diálogo iniciado, convertendo-se num verdadeiro encontro entre pessoas. Isto é o mais característico da fé cristã, cujo fundamento essencial não se encontra na aceitação de umas verdades, mas na aceitação de uma Pessoa, que tem como consequência um discipulado. A fé cristã não é “acreditar em algo”, mas abrir-se profundamente a uma relação pessoal com Deus que se nos comunica.
Não é uma teoria, mas uma experiência: – “Vinde e vede”. A raiz da fé é a aceitação da pessoa de Cristo. De facto, anos mais tarde, quando se escreveu o Evangelho, recorda-se o episódio como o início de uma nova vida; está presente o pormenor da “hora”, insignificante para nós, mas não para quem o viveu: – “Eram as quatro horas da tarde”.
Uma consequência imediata da fé é a necessidade de a transmitir, evangelizando outros. Pela mensagem de João Baptista e pela sua pequena experiência pessoal de Jesus, André chega à convicção de que encontrou o Messias, e assim O comunica a seu irmão Simão Pedro. A atitude evangelizadora de André não se reduz a comunicar ao seu irmão a boa nova do Messias, mas em conduzir o irmão até Jesus.
2. Em Caná Jesus começa
os Seus sinais (Jo 2, 1-11)
Os elementos centrais das Bodas de Caná são a água e o vinho. A água é depositada em seis talhas de pedra destinadas às purificações dos judeus, e que tinham ficado vazias. O número seis simboliza a imperfeição desses ritos. Eram de pedra como as tábuas da Lei (Ex 32, 15), como o coração do povo judeu (Ez 36, 26).
O vinho é sinal de amor e de alegria (Sl 104, 5); Ecl 10, 19). O Cântico dos Cânticos apresenta-o como símbolo do amor entre o esposo e a esposa, que por sua vez, simboliza o amor de Deus e do povo (Ct 1, 2; 7, 10; 8, 2). O vinho simboliza a totalidade do banquete, banquete de bodas a que tantas vezes se compara o Reino de Deus. Apenas Maria, que sendo do povo judeu já pertencia ao novo Israel, se dá conta de que não têm vinho. É necessário que os antigos ritos vazios deem lugar ao novo banquete do Reino.
Maria, atenta às necessidades dos irmãos, deseja o vinho novo do Reino e com plena confiança no seu Filho, apela a que todos escutemos a Sua Palavra: – “Fazei o que Ele vos disser!”.
Ser discípulo é seguir Jesus – o que implica uma relação muito estreita com Ele. A relação pessoal com Jesus, a identificação com Ele, com o Seu projeto e o Seu caminho, é o que define o discípulo. Por esta razão o caminho dos discípulos não pode ser outro senão o caminho de Jesus. O discípulo é, pois, alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como o mestre que o conduz e o acompanha ao longo da sua vida.
Para que o discípulo amadureça no conhecimento e seguimento de Jesus, deve alimentar-se da Palavra de Deus, que é caminho de autêntica conversão e renovação; da Eucaristia, que é o lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo; da oração pessoal e comunitária, que é o lugar onde o discípulo, alimentado pela Palavra e pela Eucaristia, cultiva uma relação de profunda amizade com Jesus Cristo; e também encontramos e seguimos Jesus de um modo especial nos pobres, aflitos e enfermos.
3. Os jovens e
a sua opção por Cristo
Toda a vida cristã vive da aceitação do chamamento do Senhor, que a todos convida a segui-l’O. Trata-se de uma resposta de fé, que agarra a pessoa na sua totalidade e que está presente em todas as fases da sua vida. É esta consciência, de um dom que se recebe, que está na base de toda a vocação cristã, a qual se inicia no batismo.
O batismo, ao inserir o crente no Mistério Pascal, faz despontar no próprio os dinamismos da vida do Senhor, de se reconhecer Filho adotivo de Deus e chamado a um testemunho coerente e confiante. É esta consciência de fé que importa ser iniciada nos processos de educação cristã, a qual não deve ser dada por garantida à partida. Se no passado – e felizmente ainda no presente –, era muitas vezes o meio familiar que garantia a formação cristã, temos vindo a assistir ao enfraquecimento dos laços familiares e tradicionais cristãos que colocam em risco a transmissão da fé. A este propósito lembrava o papa Bento XVI em Lisboa, quando referia que «Muitas vezes preocupamo-nos afanosamente com as consequências sociais, culturais e políticas da fé, dando por suposto que a fé existe, o que é cada vez menos realista.».
É também neste enquadramento que se percebe a realização do Sínodo dos Bispos sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional” no próximo ano. A relevância de tal realidade exige de nós o pensar sobre o anúncio da fé e do discernimento vocacional, cuja finalidade se orienta para «(…) transformar, à luz da fé, [a vida] em passos rumo à plenitude da alegria à qual todos nós fomos chamados» (Documento preparatório do Sínodo dos Bispos, Introdução). Este horizonte pastoral não nos pode ser estranho nos próximos anos, sendo essencial para podermos cultivar a desejada cultura vocacional na nossa diocese.
Os jovens de hoje vivem num mundo marcado por uma cultura técnica e de informação, que responde muitas vezes ao “como se faz” e cada vez menos ao “para quê”. Assim vemos o emergir uma certa sensação de vazio ou de incerteza, realidade que se constitui como uma nova forma de pobreza e à qual não nos podemos furtar a responder à sua emergência. De facto, o chamamento ao seguimento radical de Cristo introduz na vida uma finalidade maior “do que esta terra” (cf. 1 Cor 15, 19), a qual dá uma nova forma de enfrentar as dificuldades próprias da juventude e o documento do Sínodo explícita.
4. O nosso compromisso
para com o Seminário
de Aveiro
O discernimento vocacional necessita de meios concretos. Se por um lado, a Semana de Oração pelos Seminários nos lembra a necessidade de rogarmos ao Senhor que nos conceda homens capazes de entregar a vida para serem sinais do Bom pastor (e o mesmo podemos afirmar da vida de consagração feminina), por outro, lembra-nos o cuidado na promoção das vocações ao sacerdócio nas nossas paróquias e comunidades. É neste espaço e tempo que muitos dos rapazes, que frequentam os seminários, se interrogam pelo sentido de vida.
O Seminário de Aveiro
A comunidade do Seminário de Aveiro conta, este ano letivo, com cinco rapazes entre o 10.º e 12.º ano, estando ainda dois no seminário de Caparide e três no Seminário dos Olivais e um estagiário, tendo já terminado os estudos teológicos.
O Pré-seminário
Como etapa prévia à admissão ao Seminário existe o pré-seminário, o qual acompanha cerca de 50 rapazes entre o 5.º e o 12.º ano. Recorda-se ainda que se está a estimular a criação de um grupo para acompanhar aqueles com mais de 18 anos e que se vão interrogando pelo seu sentido de vida e não excluem a hipótese do ministério ordenado.
As paróquias e as
comunidades cristãs
Importa em todo o caso procurar acompanhar e suscitar nas nossas comunidades – os responsáveis dos serviços ou mediante um animador vocacional – todos aqueles que mostram interesse em querer conhecer o seminário. Neste sentido, gostaria de convidar todos a participar na vigília de oração pelo Seminário no próximo dia 18 de novembro, pelas 21h30, a decorrer na igreja paroquial de São Bernardo, Aveiro, e no dia seguinte, 19, na Eucaristia na igreja do Seminário de Aveiro, pelas 16h00. São duas datas importantes na promoção das vocações ao presbiterado na Diocese de Aveiro.
Vamos ajudar
o nosso Seminário
É nesta semana que se realiza o ofertório para os seminários diocesanos, o qual é imprescindível para a sustentação do percurso formativo do nosso seminário. Apelo a que os arciprestados ou pessoas de boa vontade fundem bolsas de estudo em ordem à formação dos futuros sacerdotes.
Façamos nossa a oração proposta para esta semana, pedindo ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe.
Deus, nosso Pai,
que pela Vossa Palavra
tudo criastes e tudo sustentais,
nós Vos damos graças
pelo dom do Vosso Filho, Jesus,
Palavra viva e reconciliadora.
N´Ele manifestais o esplendor da Vossa glória,
para que, acreditando n´Ele,
vivamos segundo a Palavra
que nos cria de novo.
Nós Vos bendizemos
pelo dom do ministério sacerdotal,
pelo qual associais aos primeiros discípulos,
que acreditaram em Jesus, outros companheiros
que continuam a servir à humanidade
o alimento da Palavra,
o banquete da Eucaristia
e a via da Reconciliação.
Nós Vos pedimos pelos seminaristas
e seus educadores,
para que abram os corações à Palavra
e a vivam com desassombro,
dando testemunho da Vossa alegria no mundo.
Maria, mãe de Jesus e nossa mãe,
vós que conheceis as necessidades humanas
e ensinais a viver como diz o vosso Filho,
abri novos corações para a disponibilidade
de viver ao serviço da alegria.
Maria, repeti hoje aos nossos corações:
“Fazei o que Ele vos disser”. Ámen.
D. António Moiteiro
Bispo de Aveiro