Igreja de mártires

Querubim Silva Padre. Diretor

Querubim Silva
Padre. Diretor

O Papa Francisco, na Eucaristia da manhã do dia 21 de abril, comentando o relato do martírio de Estêvão, afirmou: «Hoje a Igreja é Igreja de mártires». E, depois de enumerar as mais recentes vítimas da crueldade fundamentalista, recordou “aqueles dos quais não sabemos os nomes, que sofrem nas prisões ou são caluniados e perseguidos «por tantos sinédrios modernos».
O martírio com o derramamento de sangue é o testemunho máximo, visível, de fidelidade. Mas, em verdade, há tantos martírios de silêncio, longos e profundos, que creditam do mesmo modo a adesão convicta ao Mistério Pascal: a certeza de que o grão que lançado à terra se dispõe a morrer é o caminho da explosão de vida nova em abundância.
E estes mártires encontramo-los por todo o lado, em todas as faixas etárias, de todas as condições sociais, nas escolas, nas empresas, nos grupos recreativos e culturais, nas próprias famílias. Ousar remar contra a maré do absentismo religioso, da ideologia da neutralidade religiosa ou do agnosticismo, emitir convicção moral face ao relativismo e anomia de princípios, é, em muitas circunstâncias, iniciar um doloroso e longo êxodo até à “pátria prometida”.
Vem aí o Dia da Mãe! Afirmar a nobreza da maternidade, defender a proteção à mulher que quer ser mãe, afirmar a identidade feminina como incontornável condição natural para a procriação, é submeter-se ao ataque feroz de um vespeiro de “verdades unipessoais”, em nome da liberdade da mulher!
Vem aí a Semana da Vida! Afirmar o direito a ela como primeiro e base de todos os direitos, defendê-la como indisponível, lutar pelo respeito por ela desde o seu início ao seu termo natural, promover a sua dignificação em todas as circunstâncias, será também sujeitar-se a um rol de epítetos pouco simpáticos, a uma pressão “cultural” com sabor a conhecidas lavagens ao cérebro.
Os “sinédrios modernos” emitem continuamente julgamentos sumários e impõem penas de escárnio e ostracismo que perduram na vida de tantos como combustões lentas, que acabam por eliminar vidas. O pecado económico e social estrutural gera tantas “marchas de escravos”, tantas vagas de “barcos perdidos na noite” que levam multidões a esvair-se de esperanças… O Papa conhece bem estas realidades, esta gente. E sabe que tais realidades são martírio, testemunho firme de quem não recua um passo diante dos algozes, certos de que Ele não desilude.
O nosso imaginário religioso infantil pintava os mártires como odisseias de exceção. Os primeiros tempos da Igreja estavam longe. Alguns episódios bélicos localizados no espaço e no tempo, ressuscitaram uma nova consciência do martírio. Os regimes totalitários do primeiro quartel do século passado reavivaram a ideia de que a fidelidade a Jesus Cristo é uma sexta-feira santa continuada. Hoje não restam dúvidas: a Igreja que o é de verdade é uma Igreja de mártires!