O céu noturno

LUÍS SANCHO Professor do Ensino Superior

LUÍS SANCHO
Professor do Ensino Superior

Na última crónica, apresentei aos pacientes leitores o esquiço do horário que pratiquei nesta peregrinação a Santiago de Compostela pelo Caminho Francês. Gostaria agora de vos falar um pouco sobre alguns dos momentos especiais.
Na minha peregrinação, partia do albergue por vezes antes mesmo do céu começar a clarear. Abandonando as luzes das povoações (que tanta «poluição luminosa» por vezes causam, impedindo com luz excessiva a contemplação dos corpos celestes!), o céu noturno abria-se com a mesma amplitude que em casa, mas com todo um outro esplendor – o céu era o mesmo, eu é que estava com outra disponibilidade!
O céu noturno é um espetáculo de beleza incomparável e tem a dupla característica de ser belíssimo do ponto de vista estético e desafiador do ponto de vista científico. A humanidade olha para o céu desde o seu início e continua longe de compreender a plenitude do mesmo. Não será de estranhar que, tentando encaixar Deus na lógica do ser humano, este Lhe quis dar o lugar que era um fascínio para si – hoje ainda encontramos pessoas que equalizam o Paraíso com o céu. Inúmeros homens de Deus se dedicaram a olhar para a Criação e a tentar entender os seus mistérios. Alguns, como o Venerável Beda, o Cónego Copérnico ou o Padre Lemaitre, conseguiram, pelo menos uma parte e deram o seu contributo para o conhecimento da humanidade.
Pela minha parte, considero que o céu noturno é das maiores evidências a favor da existência de Deus. O presidente norte-americano Lincoln terá dito que entendia que as pessoas olhassem para o chão e fossem ateias, mas não que olhassem para o céu noturno e o continuassem a ser. Pela minha parte, concordo em absoluto!
Ainda este fim-de-semana fui relembrado dum texto de autor ignoto que fala de pessoas estrelas e pessoas cometas. Estas últimas passam pelo nosso firmamento, brilham mais ou menos durante um tempo, mas não permanecem. As pessoas estrelas são as que estão sempre lá, mesmo que as circunstâncias não permitam que as vejamos. A esta interessante metáfora, eu acrescento a estrela Polar: Deus é a estrela à volta da qual todo o meu céu gira. Jesus Cristo É o centro, à volta da qual se organizam todas as pessoas que Ele me coloca à frente. Umas são como as estrelas circumpolares – estão mais próximas d’Ele, estão sempre visíveis (reservo-as para a minha família e os amigos mais próximos). Outras são mais distantes e aparecem só em certas alturas – mas continuam a estar lá e posso contar com elas! E outras ainda pertencem a um outro hemisfério – só quando saio do meu ponto de observação normal e me desloco é que as vejo. Apesar de não ter mudado de hemisfério nunca, consigo imaginar o que deve ter sido para os navegadores portugueses o descobrir de um céu diferente! Estrelas e constelações novas! Numa parte da viagem, ainda lá estavam «as do costume», mas a certa altura…
Numa peregrinação, podemos ir acompanhados de muita gente. Tal como com as estrelas, algumas poderão ser familiares outras desconhecidas. Ao longo do caminho, algumas pessoas podem brilhar mais ou podemos descobrir novas estrelas – ou novos cometas.
E na nossa vida? Saberemos distinguir as pessoas estrela das pessoas cometa? Saberemos onde está a nossa estrela Polar? Estamos abertos a novas estrelas e novas constelações, sem perder o nosso rumo?