Fundada em 1954, a empresa Oliveira & Irmão emprega 418 pessoas e exporta 80 por cento do que produz.
A empresa Oliveira & Irmão (ou OLI) está a comemorar 60 anos. O ponto alto das comemorações acontece no próximo sábado, 5 de julho, com várias iniciativas. Pelas 15h, será descerrada uma lápide em honra dos fundadores, a quem foi atribuída uma rua na zona industrial de Aveiro. Às 19 horas, celebra-se a Eucaristia na Igreja de Jesus do Museu de Aveiro, lembrado sobretudo o fundador António Rodrigues Oliveira e sua esposa, Maria Moura. Preside à celebração o P.e Joaquim Martins. Segue-se um jantar de gala no Museu de Aveiro.
Não é muito habitual uma empresa incluir a celebração da Missa nas suas comemorações, pelo que o Correio do Vouga perguntou ao administrador Rui Oliveira o porquê deste momento. “Eu sou católico. O meu irmão [António Oliveira], também. Costumo participar na Missa. Faz todo o sentido incluir esta celebração. Mas eu já disse aos convidados destas comemorações que só participa quem quer. Mas para nós, faz todo o sentido”.
A empresa, criada em 1954 pelo pai e tio dos dois sócios principais atuais (eram eles o “Oliveira e irmão”, mas a expressão adequa-se na perfeição aos donos e administradores de hoje), fabrica sistemas de instalação sanitária, tendo como produto principal os autoclismos. Com um volume de negócios anual a ultrapassar os 43 milhões de euros, a OLI vive essencialmente das exportações. “Exportamos 80 por cento do que fabricamos para toda a Europa, incluindo a Escandinávia e a Rússia. Estamos a crescer na Arábia Saudita e estamos presentes na América Latina, mas lá damos dois passos à frente e um para trás. O mercado português vale apenas 20 por cento e tem estado estacionário nos últimos anos”, explica Rui Oliveira, que entrou para a empresa no dia 1 de abril de 1975, depois do curso e de ter cumprido o serviço militar em Angola.
Para manter o crescimento da empresa, a OLI tem apostado na inovação e na elevada formação dos colaboradores. 10 por cento dos 418 funcionários são engenheiros. Por outro lado, colabora com as universidades de Aveiro e de Coimbra e acolhe estagiários destas academias. Se hoje é raro ouvir-se um autoclismo a fazer barulho quando se enche de água, é porque a Oliveira & Irmão inventou o autoclismo silencioso. O mecanismo não foi patenteado e as outras empresas copiaram-no. Ora, em 2013, a empresa patenteou sete invenções. Foi a indústria portuguesa que registou mais patentes no ano passado. “Grandes em experiência; jovens nas ideias” é, aliás, o mote para a celebração dos 60 anos.
Sendo uma empresa que dá trabalho a quase meio milhar de pessoas, a Oliveira & Irmão tem um grande papel na região de Aveiro (em número de colaboradores, só será ultrapassada pela Vulcano e pela Portucel). Mas a sua influência faz-se sentir também no apoio a atividades desportivas, culturais e sociais. É comum ver o símbolo “OLI” associado aos mais variados eventos. A empresa, nos seus fundadores, apoiou o Centro Social de Esgueira (no centro de Esgueira) e apoia o Centro Social Paroquial de Santo André de Esgueira (em Mataduços), tal como patrocina o Esgueira Basket (Clube do Povo de Esgueira) e tem oferecido dos seus materiais a diversas obras da Diocese de Aveiro, de que a Casa Sacerdotal é o exemplo mais recente.
Origens na Rua Cândido dos Reis
A Oliveira& Irmão foi fundada pelos irmãos António Rodrigues Oliveira e Saul Rodrigues Oliveira no dia 1 de março de 1954. Os dois saíram da empresa Metalomecânica (que começou por fazer peças em ferro fundido para os navios do armador Vilarinho) para fundar a nova empresa na Rua Cândido dos Reis, n.º 35. António tratava das encomendas e das contas, Saul ia de comboio e bicicleta tratar das vendas de peças em ferro fundido, de fogareiros a ferros de engomar, passando por formas de sapateiro.
A empresa cresceu e mudou-se para um edifício maior na rua Hintze Ribeiro e, na década de 1970, para as atuais instalações, em Esgueira. Sucessivamente, apostou nos motores de rega, chegando a vender 4000 por ano, e na comercialização de material metalo-sanitário importado da Itália, bem como de máquinas de lavar, frigoríficos, arcas…, numa parceria com a empresa Cibiemme Plast. Como o transporte encarece o produto, surgiu a ideia de fabricar em vez de importar e apareceu o primeiro autoclismo fabricado em Aveiro, o Kariba. Com a mudança de parceiro italiano – saiu a Cibiemme, entrou a Valsir – e empresa apostou definitivamente na internacionalização dos seus produtos.
Outra data importante na história da empresa é 12 de maio de 1954, quando a escritura da empresa foi publicada no “Diário do Governo”. Por feliz coincidência, trata-se do feriado municipal de Aveiro (que em 1954 ainda não era comemorado), o que levou a empresa a oferecer em 2014 o concerto dos Azeitonas.
J.P.F.
Três perguntas a Rui Oliveira
“Nunca tínhamos mandado ninguém
embora por não termos trabalho”
CORREIO DO VOUGA – A Oliveira & Irmão faz, podemos dizer, um importante trabalho de mecenato social, apoiando diversas instituições e projetos. É uma característica da empresa?
RUI OLIVEIRA – Sempre tivemos essa vertente, desde o tempo do meu pai, que apoiou o Centro Social da Esgueira. Mas não temos nada escrito. Dá-se porque se dá. Quando nos pedem e nós podemos, ajudamos.
60 anos na vida de uma empresa é muito tempo, certamente com momentos felizes e outros dolorosos. Qual foi o momento mais difícil desde que está na empresa?
Foi em 2008, no auge da crise. Tivemos de mandar 100 pessoas embora. Foi o momento mais difícil. Nunca tínhamos mandado ninguém embora por não termos trabalho. Nunca tínhamos passado por uma situação tão difícil. Mas se não o fazíamos, ia tudo abaixo. Felizmente que o fizemos, porque salvámos a empresa, e infelizmente para quem teve de ir embora. Alguns foram depois reintegrados e outros foram para outro lado. Mas esta foi “aquela decisão que dói”.
E os momentos melhores da empresa?
Podemos dizer que são todos aqueles quando chegamos ao final do ano e vemos que alcançamos os nossos objetivos. Houve, contudo, alguns períodos de forte crescimento. O período a seguir ao 25 de Abril foi bom para ganhar dinheiro. Hoje vendíamos a 10, amanhã a 12 e depois a 14. Quando o meu pai morreu, em 1986, ele deixou tudo definido, mas a saída do meu tio, por sua vontade, deixou marcas. Tivemos de arranjar 120 mil contos e os juros estavam a 35 ou 36 por cento. Mas tudo se arranjou e foi melhor assim. Depois, o grande salto aconteceu na década de 1990, com a associação a uma empresa italiana e a produção de autoclismos em Portugal. Atualmente temos uma parceria com outra empresa italiana, a Valsir. Eles são donos de 50 por cento da empresa [aveirense] e nós somos donos de 90 por cento da empresa italiana, mas cada uma mantém as suas administrações. Temo-nos dado bem. Não tem havido chatices.