Paróquia portuguesa de Mainz quer ser mais do que associação cultural

P.e Rui Barnabé: “A relação com o clero alemão é ótima”

P.e Rui Barnabé: “A relação com o clero alemão é ótima”

 

De férias em Portugal, o P.e Rui Barnabé partilhou com o Correio do Vouga sobre o seu trabalho na paróquia portuguesa de Mainz.

 

O P.e Rui Barnabé, da Diocese de Aveiro, está na Alemanha há cinco anos. É pároco de Mainz, que fica na Diocese de Mainz, mas é uma paróquia especial. Ao contrário das outras, que são territoriais, a paróquia da Comunidade Católica de Língua Portuguesa de Mainz é pessoal. Integram-se nela cerca de 3900 portugueses que vivem numa faixa de 130 km de extensão e 70 km de largura, à volta da cidade de Mainz, também conhecida por Mogúncia, a terra que deu ao mundo Gutenberg e a impressora.
O trabalho pastoral no seio da comunidade emigrante portuguesa tem bastantes diferenças em relação ao que se pode pensar sobre uma paróquia portuguesa típica. A língua é a menor das dificuldades, porque é o português. O P.e Barnabé adianta que a vida paroquial é “demasiado marcada pela vertente cultural e etnográfica, o que ofusca a identidade e missão religiosa”. O bar da paróquia vende cervejas portuguesas e frango de churrasco porque a dimensão cultural e recreativa tem de existir, como reconhece o sacerdote, mas mesmo esta tem de ultrapassar algum aspeto “mais saudosista”. “A paróquia deve dedicar-se à evangelização, à dinamização da vivência cristã, em vez de funcionar quase somente como fator de identidade cultural”, salienta.

Integração difícil na sociedade alemã
As pessoas da sua comunidade têm origem principalmente nas regiões da Guarda e de Viseu. De Aveiro, são poucas as famílias. De modo geral, o emigrante português tem alguma dificuldade em integrar-se na sociedade alemã, o que levou a paróquia a criar um curso de alemão para emigrantes portugueses.
Nas missas do fim de semana participam cerca de 200 pessoas (numa paróquia com menos de quatro mil pessoas) – um número que tem aumentado e que está acima da média da assiduidade dominical na Alemanha.

Pastoral de projetos
Como o P.e Barnabé esteve à frente pastoral juvenil da Diocese de Aveiro durante seis anos, é inevitável falar dos jovens. As gerações mais novas, diz, “estão mais integradas, falam mais alemão do que português”. “Para os jovens, Portugal é 15 dias por ano. Ligam-se ao país dos pais pelos aspetos mais pitorescos”, afirma P.e Rui Barnabé. “No entanto, não se integram nas paróquias alemãs”, frisa. Não existe, na Alemanha, nem na paróquia portuguesa, uma catequese sistemática ou os chamados “grupos de jovens”. Por um lado, a formação religiosa acontece nas escolas, na aula chamada precisamente “Religião”, uma disciplina diferente da EMRC (Educação Moral e Religiosa Católica). Alguns temas que em Portugal são de catequese, como o da “Aliança entre Deus e o Povo”, são dados na escola, enquanto a EMRC (em Portugal) está muito mais preocupada com o diálogo entre fé e cultura. Por outro lado, nas paróquias, a catequese e a pastoral juvenil funcionam só na preparação imediata para os sacramentos. A primeira Comunhão, pelos 9 anos, é antecedida por apenas um ano (ou melhor, nove meses) de catequese. O mesmo acontece com o Crisma, recebido entre os 14 e os 16 anos. De resto, a pastoral juvenil, numa paróquia católica alemã típica, funciona por projetos: o grupo de acólitos, o grupo de escuteiros, o grupo de um projeto social, o grupo que leva a cabo um projeto missionário. Existe mesmo um tipo de agente de pastoral que é o “animador de projeto”.
O P.e Barnabé realça, por outro lado, que sua a relação com o clero alemão “é ótima”, agora que a barreira língua foi ultrapassada. E porque o alemão já não é dificuldade, os seus estudos de Teologia na Universidade de Mainz, nem sempre fáceis de conciliar com a paroquialidade, vão conhecendo progressos significativos (ver texto ao lado).

J.P.F.

 

 

Diogo de Paiva de Andrade

O P.e Barnabé estuda na Universidade de Mainz e está a preparar uma tese de doutoramento sobre Diogo Paiva de Brandão, teólogo do séc. XVI que nasceu em Coimbra (1528) e morreu em Lisboa (1575).
Diogo Paiva de Brandão representou o rei português no Concílio de Trento. Foi um teólogo reputadíssimo, defensor da autoridade papal, das orientações emanadas de Trento e da Imaculada Conceição. No seu tempo, ficaram célebres as suas disputas com o teólogo luterano Martin Chemnitz, que era conhecido como “o segundo Martinho [Lutero]”.