A farmácia do Convento de Jesus fazia os remédios para os aveirenses. Visita no âmbito das Jornadas Europeias do Património.
Do alto do seu nicho no centro do armário boticário, S. Simão, protetor das freiras do Convento de Jesus, vigia atentamente todos os frascos, potes e gavetas onde a mestra boticária guardava as suas plantas medicinais e os seus medicamentos, bem como os muitos utensílios usados na preparação desses mesmos produtos, a maioria dos quais oriundos do pomar, do jardim, da horta, da vinha e do canteiro de ervas aromáticas e medicinais que existia na cerca do convento.
Esse armário boticário, situado na área da atual portaria do Museu de Aveiro, foi o mote para a visita “A Botica do Mosteiro de Jesus – um domínio técnico ao serviço da comunidade”, na passada sexta-feira, conduzida por Maria da Luz Nolasco, no âmbito do programa das Jornadas Europeias do Património. Depois de uma breve resenha da evolução da medicina, desde a antiga Grécia até a botica conventual, Maria da Luz Nolasco explicou a utilidade de cada uma das peças que recheiam o armário boticário e de alguns dos principais produtos utilizados na confeção dos medicamentos, bem como das medidas então usadas pelos boticários e que se encontram descritas na primeira edição do livro “Pharmacopeia geral para o reino e domínios de Portugal publicada por ordem da Rainha Fidelíssima D. Maria I”, exemplar de 1799, que se encontra no Museu de Aveiro.
Na botica do dominicano Convento de Jesus, cuja mestre boticária chegou a colaborar com os congéneres da botica do vizinho Mosteiro de S. Domingos, também se confecionavam medicamentos para a população aveirense, prática então usual nos conventos e mosteiros. Ainda na portaria, e servindo-se de uma maqueta, a “guia da visita” mostrou a evolução espacial e arquitetónica do Convento de Jesus, realçando o facto da atual Igreja de Jesus não estar na sua posição inicial, ainda que o coro baixo permaneça no local original.
Cardoso Ferreira
Simão, santo esquecido
Durante séculos, no dia 28 de outubro decorria, no Convento de Jesus, uma festa em honra de S. Simão, santo que no ano de 1526 protegeu as freiras do convento da peste que então devastou parte considerável da população portuguesa.
Mais tarde, aquando da guerra entre as tropas portuguesas de D. António Prior do Crato e as espanholas de Filipe II (I de Portugal), esse mesmo santo evitou que o convento fosse saqueado e as freiras molestadas. No claustro do convento há uma capela dedicada a S. Simão, ainda que presentemente esteja sem o respetivo retábulo.
Por isso, no dia de S. Simão, era tradição as freiras celebrarem essa data e oferecerem bolos à comunidade. Maria da Luz Nolasco aventou a hipótese de se recriar essa festividade, reavivando a memória de um santo que marcou o convento e a cidade, e que agora está quase esquecido em Aveiro.