Jun 18, 2018 | Mediterrâneo, Recortes, Refugiados
O Papa Francisco associou-se hoje no Vaticano à próxima celebração do Dia Mundial do Refugiado, a 20 de junho, defendendo “responsabilidade e humanidade” no acolhimento a quem deixa o seu país.
“Desejo que os Estados envolvidos nestes processos cheguem a um entendimento, para assegurar, com responsabilidade e humanidade a assistência e a proteção a quem é forçado a deixar o seu próprio país”, disse, desde a janela do apartamento pontifício, após a recitação do ângelus.
O pontífice sublinhou que o Dia Mundial do Refugiado, promovida pelas Nações Unidas, visa “chamar a atenção para o que vivem, muitas vezes com grande ansiedade e sofrimento” homens e mulheres “obrigados a fugir da sua terra, por causa de conflitos e perseguições”.
Este ano, precisou, a celebração “chega no meio de consultas entre governos para a adoção de um Pacto Mundial para os refugiados”, bem como um Pacto para a Migração segura, ordenada e regular.“Cada um de nós é chamado a estar próximo dos refugiados, a encontrar com eles momentos de encontro, a valorizar o seu contributo, para que também eles se possam inserir melhor nas comunidades que o recebem”, acrescentou.
Segundo Papa, neste encontro e neste “apoio recíproco” está a “solução para muitos problemas”.
Esta semana, Francisco tinha apelado ao acolhimento dos que deixam a sua terra em busca de “pão e de justiça”, criticando quem os quer deixar “à mercê das ondas”, numa referência indireta à polémica com o navio Aquarius, impedido de atracar na Itália, que chegou esta manhã a Valência, na Espanha.
A confederação internacional da Cáritas vai promover entre hoje e 24 de junho uma campanha de sensibilização em favor dos migrantes e refugiados, com a participação de Portugal.
A “Semana Global de Ação” insere-se na iniciativa the Journey’ (partilhe a viagem), inaugurada pelo Papa em setembro de 2017.
Fonte: Agencia Ecclesia
Jun 14, 2018 | Artigo, Mediterrâneo, Notícias, Recortes, Refugiados
Uma evocação do Evangelho publicada esta segunda-feira no Twitter pelo presidente do Conselho Pontifício da Cultura, cardeal Gianfranco Ravasi, a propósito do drama vivido pelas pessoas a bordo do barco “Aquarius”, no Mediterrâneo, desencadeou uma onda de reações dirigidas ao prelado italiano e à Igreja.
«Era estrangeiro e não me acolhestes», foi a passagem mencionada, extraída do capítulo 25, versículo 43, do Evangelho segundo S. Mateus, que numa tradução em português europeu se lê: «Era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me».
Gianfranco Ravasi, biblista, aludia ao barco fretado pela organização não-governamental SOS Mediterrané, onde se encontram 629 migrantes recolhidos no mar, e que ontem a Itália e Malta recusaram receber, tendo mais tarde recebido ofertas de acolhimento por parte de Espanha e, mais recentemente, da Córsega.
«Eminência, não podemos acolher todos. Como diz a minha velha mamã: primeiro tu, depois os teus, depois os outros, se puder ser…» é o primeiro dos mais de 1600 comentários ao “tweet” do cardeal.
Entre as respostas menos vulgares incluem-se «Que cuide deles o cardeal no Vaticano», «Eram pedófilos e não os prendestes», «O dinheiro do IOR [entidade bancária da Santa Sé] investi-o todo em África», «Vim para traficar, para violar, para islamizar, para viver à borla e não me acolhestes», «Jesus disse que a verdade vos tornará livres. Basta de negros e árabes que comem de borla».
«Se ao espelho olhamos o nosso rosto, descobrimos nele os traços da humanidade, porque a ela todos pertencemos, para além das diferenças étnicas, culturais, religiosas»
«Abri as portas do Vaticano e colocai lá todos os clandestinos que quiserdes» e «Cardeal vós possuís riquezas imobiliárias superiores à dívida pública italiano, vendei alguns imóveis e ide para África e Médio Oriente para ajudar os pobres; devia estar na primeira linha para cessar o tráfico de escravos», são outros exemplos de comentários.
Há duas horas, o cardeal Ravasi voltou à Bíblia, citando desta vez a primeira carta de S. João (4, 16): «Deus é amor; quem está no amor permanece em Deus e Deus nele», depois de, ontem, ter evocado um autor cristão, Georges Bernanos: «Para encontrar a esperança é preciso ir para lá de todo o desespero. Quando se vai até ao fim da noite, encontra-se uma nova aurora».
«Tempo virá/ em que, exultante,/ te saudarás a ti mesmo chegado/ à tua porta, no teu próprio espelho/ e cada qual sorrirá ante a saudação do outro,/ e dirá: Senta-te aqui. Come./ Amarás de novo o estrangeiro que era o teu Eu./ Dá vinho. Dá pão. Devolve o coração/ a ele próprio, ao estrangeiro que te amou/ toda a tua vida, que ignoraste».
Na coluna que assinava diariamente no jornal italiano “Avvenire”, o P. Ravasi, ainda não criado cardal, citou versos da poesia “Amor após amor”, de Derek Walcott, «o cantor dos mestiços, nascido numa ilha das Caraíbas, Santa Lúcia, em 1939».
«Como se intui, unem-se e sobrepõem-se duas fisionomias diversas, a minha e a do outro, o estrangeiro. Se ao espelho olhamos o nosso rosto, descobrimos nele os traços da humanidade, porque a ela todos pertencemos, para além das diferenças étnicas, culturais, religiosas.
Depois de encorajar «a dar as boas-vindas aos refugiados» nas casas e comunidades, «de maneira que a sua primeira experiência da Europa não seja a traumática de dormir ao frio nas estradas, mas a de um acolhimento quente e humano», Francisco lembrou as palavras agora evocadas pelo cardeal Ravasi
“Amarás o estrangeiro que era o teu Eu”, diz o poeta. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, diz a Bíblia. Neste paralelo há dois amores que se fundem, o espontâneo por si próprio e aquele que o é para os outros, muitas vezes conquistado com algum esforço mas que deverá ser, da mesma maneira, intenso.
Devemos tentar reconduzir o nosso coração “a si mesmo”, isto é, à sua consciência profunda, e aí descobriremos que há o estrangeiro dentro de nós porque ele é semelhante a nós por causa do próprio Deus que o criou, do próprio Cristo que o redimiu, do próprio amor que foi deposto nele e em nós, e do próprio pecado que obscurece a nós e a ele», observou Ravasi.
Numa das múltiplas ocasiões em que se referiu aos migrantes, o papa Francisco lembrou que «tragicamente, no mundo há hoje mais de 65 milhões de pessoas que foram obrigadas a abandonar os seus locais de residência. Este número sem precedentes vai além de toda a imaginação».
«Se formos além da mera estatística, descobriremos que os refugiados são mulheres e homens, rapazes e raparigas que não são diferentes dos membros das nossas famílias e dos nossos amigos. Cada um deles tem um nome, um rosto e uma história, como o inalienável direito de viver em paz e de aspirar a um futuro melhor para os seus filhos», sublinhou em setembro de 2016.
Depois de encorajar «a dar as boas-vindas aos refugiados» nas casas e comunidades, «de maneira que a sua primeira experiência da Europa não seja a traumática de dormir ao frio nas estradas, mas a de um acolhimento quente e humano», Francisco lembrou as palavras evocadas agora pelo cardeal Ravasi, «tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era estrangeiro e acolhestes-me», e lançou um desafio: «Levai estas palavras e os gestos convosco, hoje. Que possam servir de encorajamento e de consolação».
Na segunda-feira, o arcebispo de Madrid, cardeal Carlos Osoro Sierra, também se exprimiu no Twitter: «O mandato é claro: “Fui forasteiro e hospedastes-me”. Para além de considerações políticas e legais, ao ler a vida desde o Evangelho, um vai em busca do outro. #Aquarius é um chamamento de Cristo à Europa».
SNPC
Imagem: D.R.
Publicado em 12.06.2018
http://www.snpcultura.org/aquarius_cardeal_ravasi_evoca_evangelho_sobre_acolhimento_e_desencadeia_reacoes_internet.html
Dez 11, 2015 | Mediterrâneo, Notícias, Recortes, Refugiados
João Cardoso Rosas
Temos de reconhecer que nada de moralmente relevante distingue à partida os refugiados políticos dos imigrantes económicos.
A questão dos refugiados e imigrantes na Europa ocupa o espaço mediático sempre que acontece uma tragédia de grandes proporções. Fora disso, passa àquela invisibilidade que os média constroem para ir mudando o assunto e assim garantir a variedade do produto que vendem. Mas o problema está e permanecerá connosco por muito tempo.
Para desdramatizar, os agentes políticos europeus fazem a distinção clássica entre refugiado político e imigrante económico. O primeiro tem protecção à luz da lei internacional e pode beneficiar de direito de asilo. O segundo tem o direito de saída do Estado de origem, mas não tem direito à eventual entrada noutro Estado.
Esta distinção é tão conveniente quanto enganadora. Ela serve para apaziguar os europeus com a ideia de migrantes “bons” – os refugiados que devemos proteger da violência política a que estão sujeitos – face aos migrantes “maus” – aqueles que decidiram vir aproveitar-se dos nossos sistemas de protecção social em vez de procurarem trabalhar e sustentar-se nos locais de origem.
Na verdade, em termos morais, é muitas vezes difícil fazer uma distinção entre refugiados políticos e imigrantes económicos. É muitas vezes difícil dizer que uns necessitam de apoio mais urgente do que outros. Por exemplo, alguém pode ser considerado refugiado político e ter direito a asilo por fugir de um país em guerra, ainda que tenha posses suficientes para garantir o seu conforto pessoal e nunca tenha sido incomodado. Da mesma forma, alguém pode vir de um país em paz mas extremamente pobre, onde a existência é miserável e conduz rapidamente à morte por causas facilmente evitáveis no mundo desenvolvido – mas este, por ser imigrante económico, não tem direito a ser recebido.
Se quisermos ultrapassar as distinções demasiado convenientes de agentes políticos e eurocratas, então temos de reconhecer que nada de moralmente relevante distingue à partida os refugiados políticos dos imigrantes económicos. Em ambos os casos trata-se de fugir a condições naturais e sociais que tornam a vida extremamente difícil ou mesmo impossível. A etiologia dessas condições pode ter a ver com mudanças climáticas, escassez de recursos, guerras, corrupção, mau governo, etc. Em geral, aliás, estas diferentes causas estão ligadas. Por exemplo, as zonas mais afectadas pelo aquecimento global são muitas vezes também as mais pobres e mais instáveis politicamente, gerando-se o conflito e a guerra por recursos escassos.
De um ponto de vista moral, portanto, a questão não consiste em saber como distinguir os que batem à porta da Europa, se são refugiados ou imigrantes. A questão consiste antes em determinar em que medida podemos ajudar e o que estamos disponíveis a sacrificar para fazê-lo.
http://economico.sapo.pt/noticias/refugiados-e-imigrantes_236934.html
Nov 19, 2015 | Mediterrâneo, Missões, Notícias, Refugiados
COMUNICADO DE IMPRENSA
Em Brescia (Itália), no Centro Paulo VI, reuniram-se de 19-23 de outubro, 55 agentes pastorais – sacerdotes, religiosos e leigos – comprometidos nas comunidades católicas de língua portuguesa na Europa. Desenvolvem a sua missão em 7 países: Suíça, Alemanha, Luxemburgo, Bélgica, França, Portugal, Reino Unido.
Lembrando as situações históricas de acolhimento de que a emigração lusófona beneficia, desde o início dos anos sessenta até aos nossos dias, sentimos como dever tudo fazer no sentido de que o atual êxodo forçado de migrantes e refugiados que procura a Europa, fugindo à guerra, à perseguição, à fome e à morte, seja acolhido com dignidade e humanidade num espírito generoso de partilha.
Assim sendo:
– regozijamo-nos com a grande mobilização da sociedade civil – informal e organizada – e das organizações cristãs, em vista de um acolhimento concreto de emergência e prática de gestos de boas-vindas a todos, independentemente da futura atribuição ou não do estatuto de refugiado;
– comprometemo-nos a continuar a sensibilização e a informação das nossas comunidades de língua portuguesa e dioceses onde estamos inseridos para atitudes e comportamentos solidários, recusando todas as ideologias alarmistas que espalham o pânico e defendem preconceitos e nacionalismo exacerbado, impedindo a abertura intercultural e a filosofia do encontro com o outro.
– exortamos a União Europeia a elaborar uma política comum de migração e de asilo solidárias, entre todos os países-membros, que seja sinal de empenho na justiça e na paz, defendendo, antes de tudo, o valor da pessoa humana e da família;
De comunidades acolhidas queremos continuar a construir comunidades que acolhem a todos, servem os mais vulneráveis da sociedade, dialogam com o diferente e vêem na diversidade cultural e religiosa um sinal dos tempos a discernir para a construção da única família humana.
Brescia, 21 de outubro de 2015
Out 4, 2013 | Mediterrâneo, Notícias
ROMA, 03 de Outubro de 2013 (Zenit.org)
“Ao falar de paz, da crise econômica mundial, da falta de respeito do homem, não posso deixar de citar o trágico naufrágio de hoje na ilha de Lampedusa. Me vem à mente a palavra vergonha. É uma vergonha!”. “Rezemos juntos a Deus por quem perdeu a vida, pelos seus familiares, por todos os refugiados, para que não se repitam mais tragédias como esta. Só uma decidida colaboração de todos pode evitá-las”, disse hoje o papa Francisco na audiência de encerramento do encontro promovido pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz, no 50º aniversário da encíclica Pacem in Terris, organizado em Roma de 2 a 4 de outubro. O papa falou do naufrágio acontecido na madrugada de hoje, quando uma barcaça com cerca de 500 imigrantes naufragou diante da costa da ilha italiana de Lampedusa, situada a meio caminho entre a África e a Sicília. Entre os cadáveres, o de uma mulher grávida e os de várias crianças. Os desaparecidos são cerca de 250. O naufrágio de mais uma das chamadas “carretas do mar” foi causado por um incêndio na parte posterior da embarcação. Há suspeitas de que o incêndio tenha sido doloso. Dois dias atrás, outra tragédia foi registrada durante um desembarque na praia de Ragusa, também na Itália, com 14 imigrantes morrendo afogados. De acordo com a Fortess Europe, desde 1994 até hoje morreram pelo menos 6.200 imigrantes ilegais no canal da Sicília. As pessoas desaparecidas são 4.790. O ano mais trágico foi 2011, com pelo menos 1.800 pessoas afogadas. O papa Francisco realizou a sua primeira viagem apostólica dentro da Itália precisamente para a ilha de Lampedusa, onde celebrou uma missa, lançou uma coroa de flores ao mar e rezou pelos milhares de migrantes mortos nas travessias em busca de um futuro mais próspero.
Comunicado dos Missionários de S. Carlos a este propósito. leia aqui