Fascínio e repúdio, elogio e censura

LIVROS O que há em comum entre a descoberta da nascente do rio Nilo, Voltaire, Fidel Castro, Alfred Hitchcock e James Joyce, 35 crateras na Lua, 28 universidades dos EUA e o churrasco para 3500 pessoas no dia da inauguração do Túnel da Mancha? A resposta é: os Jesuítas. Descobriram a nascente do Nilo, educaram nas suas escolas as referidas personalidades, viram nomes de cientistas seus atribuídos às crateras da Lua, detêm 28 universidades nos EUA e foi a “Table de Cana”, empresa fundada pelo jesuíta Franck Chaigneau para dar emprego aos jovens sem-abrigo de Paris, que serviu os convidados da inauguração do túnel ferroviário que liga França e Inglaterra.

Estes e outros factos encontram-se em “Os Jesuítas. Missões, mitos e histórias”, do norte-americano Jonathan Wright. Mas esta obra não se dedica propriamente a relatar os feitos da congregação religiosa aprovada em 1540. O seu fio condutor são antes os mitos e contra-mitos, que perseguem os seguidores de Inácio de Loiola desde o início.

As glorificações e humilhações, perseguições e proibições, amores e ódios à Companhia de Jesus são uma constante ao longo dos últimos 500 anos. Diz J. Wright nesta obra de história (portanto, sem fins apologéticos): “Os Jesuítas foram mais idolatrados e odiados do que quaisquer outros membros de outra Ordem Religiosa, sofreram as mortes mais horríveis e realizaram os mais espantosos feitos”.

Recentemente, a propósito dos 20 anos da morte do Pe Manuel Antunes, realizou-se em Lisboa um curso sobre os Jesuítas e a Cultura, em que se afirmou que a Companhia de Jesus foi a “primeira multinacional pedagógica da história humana” (criou as redes de escolas) ou que trouxe para Portugal o telescópio, que Galileu Galilei tinha aperfeiçoado, entre outros feitos inovadores.

Embora mais atenuado que noutros tempos (quando ser jesuíta, no auge do anticatolicismo, era sinónimo de conspirar contra algo), o amor-ódio continua a marcar a relação popular com a Ordem Religiosa mais importante e emblemática da Igreja Católica. Esta obra ajuda-nos a perceber a evolução histórica desses sentimentos e, pelo meio, temos um bom panorama da história da Igreja Católica, principalmente no que se refere à expansão do Cristianismo no Extremo Oriente (China e Japão) e nas Américas.