Os olhos de um filho

À Luz do Dia Todas as verdadeiras histórias de amor começam com um olhar. Um primeiro olhar, mais ou menos intenso, mais ou menos demorado, que nos perturba e faz acelerar o coração, que nos comove e nos transforma por dentro. Acontece no amor romântico, mas também no amor de amigos e, de forma especial, entre pais e filhos.

O momento em que um filho abre os olhos para nós marca-nos para sempre. Nesse momento deixa de ser um bebé mais ou menos parecido com os outros, para passar a ser exclusivamente nosso. Este sentimento de pertença é, ao mesmo tempo, exaltante e de uma intimidade indizível. Pais e filhos reconhecem-se através do olhar, como se sempre tivessem existido e estado próximos uns dos outros.

Talvez os olhos dos nossos filhos nos apareçam em sonhos remotos, que não recordamos, mesmo antes de sermos pais. Não sei se acontece ou se é possível acontecer, mas sei que, secretamente, eu sabia como eram os olhos do meu filho, mesmo antes de ele os ter aberto pela primeira vez. Se calhar, porque eram, e são, em tudo iguais aos da minha mãe e os da minha mãe iguais aos da minha avó. Talvez.

No princípio, eram uns olhos que não se fixavam, ainda de cor indefinida, mas eram já os seus olhos ternos e tranquilos. Ou seja, os olhos eram os de um bebé recém-nascido, mas o seu olhar era feito de uma entrega antiga e uma confiança absoluta. Como acontece, aliás, com todos os filhos, sempre que olham para os pais. É incrível a intimidade que existe no olhar de um bebé que, mesmo sem ver, reconhece a mãe e o pai. Conhece a voz e o cheiro, mas acima de tudo reconhece o seu olhar e é através dos olhos dos pais que se sente seguro, se deixa envolver e transportar para um mundo desconhecido.

Os olhos dos pais consolam os filhos e os olhos dos filhos comovem os pais. Sempre. Sejam crianças pequenas ou já muito crescidos, os seus olhos marcam-nos e acompanham-nos a vida inteira. Se estão perto ou longe ou se, por alguma razão mais triste, já partiram, os olhos de um filho permanecem para sempre gravados no coração e na memória dos pais. Mais do que os gestos ou as palavras ditas, são os olhos que nunca se esquecem.

Quando os seus olhos estão alegres, deixam-nos felizes; quando riem, fazem-nos rir; quando imploram, comovem-nos; quando choram choramos com eles; quando se atrevem, obrigam-nos a crescer e, mesmo quando nos desafiam, ajudam-nos a perceber alguns limites que, sem eles, teríamos certamente mais dificuldades em perceber.

Mesmo sem saber, todos os pais devem muito ao olhar dos seus filhos. Devem-lhes amor e gratidão, acima de tudo, pois é o olhar deles que muitas vezes nos segura e nos pacifica. São os olhos deles que nos resgatam da rotina de todos os dias e nos salvam do absurdo de viver uma vida sem sentido. Falo por mim, naturalmente, porque tantas vezes sinto que são os olhos dele que me devolvem a paz, a alegria, o amor e o humor que não encontro em mim. Falo daqueles olhos rasgados e especialmente afastados, cor de azeitona e mel, que vão ficando dourados conforme a luz do entardecer. Falo dos olhos do meu filho, os que conheço de cor e aqueles que nunca vou esquecer.