Mesa redonda sobre os imigrante

Sem eles, o pais colapsa “Se, por absurdo, os imigrantes saíssem todos do país ao mesmo tempo, o país colapsava”, afirmou Pe. António Vaz Pinto, Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, durante a mesa redonda “Imigração: Atitudes e Valores”, promovida pela Comissão Diocesana Justiça e Paz (CDJP), no sábado, no Centro Universitário fé e Cultura. Os imigrantes são 5% da população portuguesa e 10% da população activa. Defendendo uma “visão estruturalmente positiva” da imigração, “mas não ingénua”, o Alto Comissário apontou as virtudes e os problemas. O impacto financeiro, económico, demográfico e cultural são os aspectos positivos. O que as finanças portuguesas recebem dos imigrantes (IRS e Segurança Social), menos o que gasta com saúde, educação, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, etc., dá um saldo positivo de 85 milhões de contos (cerca de 425 milhões de euros). Por outro lado, a imigração contribui para atenuar a inversão da pirâmide demográfica. Visto que os portugueses têm cada vez menos filhos, pondo em risco as pensões dos que agora são activos, a imigração vai contribuir para que a situação não seja tão catastrófica. Como vantagem cultural, Pe. Vaz Pinto notou que “a sociedade está mais rica; está mais difícil de gerir, mas manifesta melhor a riqueza e a complementaridade da raça humana”. Como ponto mais negativo, o Alto Comissário denunciou o “tráfico de pessoas, redes clandestinas que cobram exorbitâncias aos imigrantes, e a burocracia que eles têm de enfrentar”. “Infelizmente somos peritos nisso” – rematou.

Final de mandato

O Pe. Vaz Pinto aproveitou a sua intervenção para fazer um balanço do seu comissariado (realce para o programa “Nós”, o “mais visto da RTP2”, a linha telefónica SOS Imigrante e a rede de 30 Centros Locais de Apoio ao Imigrante) e disse que se encontrava em final de mandato, não tencionando prosseguir este cargo “exigente, mas aliciante” e de “confiança política, mas não partidária”, ressalvando, que na altura de aceitar o cargo, falou com o líder da oposição (então, Ferro Rodrigues).

Devido à extensão da comunicação do Alto Comissário e aos momentos culturais e musicais proporcionados por imigrantes (de Leste e dos países africanos), os restantes intervenientes na sessão, de líderes sindicais e empresariais a representantes de serviços de segurança e de imigrantes, viram o seu espaço reduzido. Realçam-se, contudo, as palavras de Lyudmila Billa, presidente da Associação de Apoio ao Imigrante: “Tentamos trazer coisas boas para o país”. Lyudmila Billa, que ensina russo na Universidade de Aveiro, mostrou alguns trabalhos dos seus alunos portugueses – o que revela o interesse português pela cultura russa. “Num mês aprenderam a dizer e escrever ‘Bom Natal, Bom Ano Novo”. A líder da associação de imigrantes falou ainda da “Escola de Domingo”, que funciona desde 13 de Outubro de 2003, para que as crianças russas aprendam a língua e história do seu país.

No final da sessão, Carlos Borrego, presidente da CDJP e moderador, considerou que o primeiro objectivo do encontro foi alcançado, pois “algumas destas pessoas que trabalham com imigrantes não se conheciam e tiveram aqui a possibilidade de se falarem”, mas lamentou não ter havido espaço para as questões dos imigrantes. Para esse efeito, afirmou o presidente das CDJP, “o Pe. Vaz Pinto já se prontificou a vir a Aveiro, sem discursos, falar com os imigrantes”. O encontro está apontado para Janeiro de 2005.

“Que rosto é aquele?”

A atenção da freguesia de S. Bernardo para a questão dos imigrantes começou por causa de umas coincidências ao longo de “dois dias vertiginosos”, afirmou Élio Maia, presidente da Junta. “Primeiro, foram uns homens a escreverem caracteres esquisitos nos computadores”. Escreviam em cirílico, caracteres russos. Enviavam e-mails aos seus familiares. “Que rosto é aquele?” – foi a interrogação de Élio Maia. Por esses dias, “bate à porta” da Junta um imigrante. Vinha de Bragança, com a indicação de uma empresa de Aveiro em que arranjaria trabalho. Mas nem rua nem empresa existiam. Fora enganado por um empresário de Bragança. “Isto é connosco” – reagiu Élio Maia. E a seguir, a maior coincidência. Depois de muitos pedidos, a Universidade de Aveiro cede 32 cadeiras à Junta de Freguesia. Nesse mesmo dia, surge um pedido de seis cadeiras para formar uma escola para imigrantes em S. João da Madeira. As cadeiras foram cedidas com uma condição: início do trabalho de acolhimento de imigrantes em S. Bernardo. Estes dois dias estiveram na origem de um trabalho que muitos consideram exemplar e que, entre outros aspectos, deu origem à Associação de Apoio ao Imigrante, autónoma há 14 meses e liderada por Lyudmila Bila, uma das intervenientes na sessão no CUFC.