Mudança de direcção

À Luz da Palavra I DOMINGO DA QUARESMA – ANO B

Leituras: Gen 9, 8-15; Salmo 24 (25), 4-10; 1Ped 3, 18-22; Mc 1, 12-15

Com a Quarta-feira de Cinzas, iniciamos um novo tempo litúrgico: a Quaresma. Neste primeiro Domingo, a liturgia pretende introduzir-nos nos quarenta dias de preparação para celebrar o centro da nossa fé: a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Para vivermos bem a Quaresma, podemos fazer nosso o pedido do salmista: “Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me” (Sal 24, 4-5). Ou, se o queremos dizer com outras palavras: Mostra-nos, Senhor, quais são os teus caminhos até a Páscoa. Guia-nos para que vivamos numa dinâmica de morte e ressurreição: morte ao que nos separa de Ti e dos irmãos e ressurreição para o caminho do amor, que é entrega, compaixão, solidariedade.

No Evangelho, Jesus desafia-nos à conversão. O que é que significa isto? Conversão quer dizer “mudar de direcção”, “tomar outro rumo para reorientar um percurso”. A conversão que o Senhor nos propõe não é abstrata, não é exterior, nem ritualista. Para Jesus, converter-se é crer no Evangelho, é acreditar na Boa Notícia que Ele traz com a sua vida e que anuncia com as suas palavras. E o que é que Jesus anuncia? “Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus” (Mc 1, 15). O Reino de Deus está próximo, porque o próprio Deus está próximo, está no meio de nós, ensinando-nos a viver em plenitude. Mas não basta escutar o Seu anúncio e dizer que se acredita nele. Isto ainda não é conversão! Converter-se é aderir ao Evangelho como proposta e estilo de vida. E isso não é fácil! O próprio Jesus enfrentou dificuldades – internas e externas – para aderir totalmente aos caminhos do Pai. Ou dizendo o mesmo, com a linguagem do Evangelho, o próprio Jesus foi tentado. E, talvez a maior das tentações que enfrentemos seja sempre ir por outras veredas que não sejam as que sugere o Pai…

A Quaresma é como um tempo de treino para o que tem de ser toda a nossa vida cristã: escutar o desafio de Jesus a aderir ao Evangelho e empenharmo-nos neste projecto. Neste caminho, não podemos esquecer que o mesmo Espírito que guiou Jesus também nos guia! É o Espírito Santo que nos faz reconhecer o que diz o Salmo: “Todos os vossos caminhos, Senhor, são amor e verdade” (Sal 24, 10). É também o mesmo Espírito que nos faz fiéis à aliança estabelecida entre Deus e a humanidade, desde Noé, e levada à sua plenitude em Jesus Cristo. É este Espírito que recebemos sacramentalmente no baptismo, “que agora vos salva, que não é uma purificação da imundície corporal, mas o compromisso para com Deus de uma boa consciência; ele vos salva pela ressurreição de Jesus Cristo” (1Pd 3, 21).

Nos primeiros tempos do Cristianismo, a Quaresma era também o período final de preparação para o baptismo, que se realizava na Vigília Pascal. Por isso, as duas leituras de hoje referem-se, de diferentes maneiras, a este sacramento. Que para nós estes quarenta dias sejam também uma oportunidade de renovar o nosso desejo de viver como baptizados, como pessoas que fizeram aliança com Deus e que são por Ele enviados para serem testemunhas do Seu Amor!

Priscila Cirino, FMVD