“O que expulsarias da minha vida?”

À Luz da Palavra Domingo III da Quaresma

Leituras: Ex 20, 1-17; Salmo 18 (19), 8-11; 1 Cor 1, 22-25; Jo 2, 13-25

À medida que entramos na Quaresma somos desafiados pelo Senhor a deixar que Ele ocupe o lugar central na nossa vida. Há sempre outros “senhores” que se tentam instalar e ocupar o lugar que só Deus pode encher no nosso coração.

Imaginar Jesus a expulsar os vendedores do Templo de Jerusalém, como nos apresenta o Evangelho, podemos perguntar: que situações actuais O fariam reagir da mesma forma? Que expulsaria Jesus dos nossos ambientes?

O Templo era, para os judeus, o lugar privilegiado da presença de Deus, onde Lhe prestavam culto e ofereciam sacrifícios. Ainda que para nós, os lugares de culto continuem a ser lugares especiais de encontro com Deus, o lugar “sagrado” da presença de Deus para os cristãos é o nosso ser, o nosso corpo e o nosso coração. Assim como Jesus fala do templo que é o seu corpo (cf. Jo 2,21), também nós estamos chamados a ser casa de Deus. Então, teremos de nos perguntar: Senhor, o que expulsarias da minha vida para que ela seja um lugar mais habitado por Ti?

Nada do que estava ali no Templo em si era mau, mas o que Jesus condena é a intenção e o fim para o qual se comprava e vendia. Assim também muito do que temos ou fazemos não é mau em si mesmo. O problema é o lugar que damos a essas coisas no nosso coração. Por exemplo, o trabalho dignifica o ser humano e faz com que este seja co-criador com Deus. No entanto, a entrega excessiva ao trabalho a troco de um salário mais recheado, a exploração ou a dependência deste destroem a verdadeira identidade da pessoa. Por isso, nestas condições Jesus diz como disse naquela altura: “Tirai tudo isto daqui!”(Jo.2,16) A sexualidade humana é dom de Deus, mas vivida de forma vazia ou desintegrada das outras dimensões da pessoa é destrutiva. Diante de tudo isto e muito mais, Jesus também não fica indiferente.

Ele tem um sonho, uma causa pela qual se entrega e que defende com zelo: que todos se sintam e vivam como filhos em casa do Pai. Também nós somos chamados a empenhar toda a nossa vida nesse sonho. Por isso, é importante parar para ver onde e como estou a empenhar tudo o que tenho, tudo o que recebi de Deus, ou se a minha vida é uma “casa de comércio”. A nossa vida é um dom demasiado valioso para ser um lugar de “compra e venda”. Deixemos que Deus e a Sua Palavra habite em nós com toda a sua riqueza (cf.3,16) e nos faça homens e mulheres apaixonados e empenhados pelos valores do Evangelho.

Paulo foi um deles, mesmo que o Evangelho que anunciava fosse um escândalo e uma loucura. É assim que na primeira leitura, S. Paulo nos fala do centro da sua pregação, que é Cristo crucificado. Mesmo que defender o que Jesus defendeu nos leve contracorrente e pareça um escândalo ou uma loucura, que Ele nos dê a experiência de que Ele é poder de Deus e sabedoria de Deus (1Cor 1,24).

Filipa Amaro, FMVD