Orlando de Oliveira: uma vida em prol do ensino em Aveiro

Aveirenses Notáveis Orlando de Oliveira dedicou a sua vida em prol do ensino liceal, estando também na génese do ensino musical, artístico e universitário em Aveiro. Textos de Cardoso Ferreira.

Natural de Viseu, cidade onde nasceu no dia 30 de dezembro de 1908, no seio de uma família humilde, Orlando de Oliveira ficou órfão de pai ainda muito novo, sendo educado pela mãe, que lhe inculcou “princípios severos de moral e honestidade”, como recorda a sua filha, D.ª Maria Filomena Vale Guimarães de Oliveira. Faleceu no dia 24 de fevereiro de 1991, na cidade de Aveiro.

Em Viseu, frequentou o ensino primário e liceal. Em Coimbra, licenciou-se em Biologia, como estudante-trabalhador, após o que fez o exame de admissão ao estágio, que cumpriu no Liceu Normal D. João III, na mesma cidade. Concluiu a licenciatura com o Exame de Estado no Liceu Normal Pedro Nunes, em Lisboa, tendo ficado habilitado a exercer o magistério como professor liceal.

O seu primeiro ano letivo, como professor provisório, foi em Aveiro (1932/3), seguindo-se Viseu, como professor agregado (1933/5). De 1935 a 1937, esteve em Angra do Heroísmo, já como professor efetivo, rumando depois a Santo Tirso, onde esteve entre 1937 e 1942 e exerceu o cargo de reitor, apesar de ter somente 28 anos de idade. Em 1942, regressou ao Liceu Normal D. João III, onde esteve até 1946, como professor metodólogo e vice-reitor. A partir de 1946, esteve no Liceu de Aveiro, primeiro como professor (1946 a 1957) e depois como reitor (1957 a 1974). Ao serviço público educativo dedicou 42 anos de vida.

Na sua primeira estadia em Aveiro (1932/3), Orlando de Oliveira apaixonou-se por uma jovem aveirense, filha de Maria Emília e de Querubim Vale Guimarães (advogado e diretor do jornal Correio do Vouga), com quem se casou em maio de 1935, na Igreja da Vera Cruz.

De 14 a 17 de abril de 1971, a convite do Ministro da Educação, Veiga Simão, Orlando de Oliveira organizou e presidiu à Comissão Executiva do VI Congresso do Ensino Liceal, que reuniu, em Aveiro, 767 congressistas oriundos de todo o país (incluindo as antigas províncias ultramarinas). No final, Veiga Simão distinguiu-o com a Comenda da Ordem de Instrução Pública.

Durante 28 anos consecutivos, Orlando de Oliveira fez parte de júris de exames de admissão ao estágio e de Exames de Estado do 6.º Grupo (Biologia), tendo presidido a alguns deles. Integrou diversas comissões para a elaboração de pontos de exame e de apreciação de livros didáticos. Participou ainda em trabalhos coletivos e em cursos de aperfeiçoamento em Portugal e no estrangeiro, como convidado da Direção Geral e da Inspeção do Ensino Liceal, da NATO e do Governo da Bélgica.

Atividade política em prol de Aveiro

Orlando de Oliveira foi membro da União Nacional, dirigente da Mocidade Portuguesa e filiado na Legião Portuguesa.

Entre 1960 e 1968, exerceu o cargo de vereador na Câmara Municipal de Aveiro, presidiu à Comissão Municipal de Cultura e Ensino e foi administrador dos Serviços Municipalizados. Como autarca, promoveu as comemorações do centenário da morte de José Estêvão (1863/1963), interveio diversas vezes em defesa da criação do ensino universitário em Aveiro e promoveu a instalação do Instituto Comercial. No dia 12 de maio de 1979 recebeu a Medalha de Prata da Cidade de Aveiro, que lhe fora atribuída em sessão camarária realizada em dezembro de 1973.

Os semanários aveirenses Correio do Vouga e “Litoral”, então dirigidos respetivamente pelo padre Manuel caetano Fidalgo e David Cristo, sempre abriram as suas páginas para a intervenção cívica de Orlando de Oliveira em prol de Aveiro. Nas páginas destas publicações, o professor defendeu a criação, em Aveiro, do Conservatório de Música, do Instituto Comercial, da Universidade de Aveiro, do Pavilhão Gimnodesportivo e da Piscina (nos terrenos do Liceu José Estevão).

Depois de uma batalha de anos, o conselho de administração da Fundação Calouste Gulbenkian, presidido por José de Azeredo Perdigão, deu o aval à criação do Conservatório Regional de Aveiro, cuja abertura das aulas ocorreu em Outubro de 1960, ainda em instalações provisórias.

No ano letivo de 1964/65, com o início das aulas de contabilidade do Instituto Comercial de Aveiro (antecessor do Instituto Superior de Contabilidade de Aveiro), Orlando de Oliveira conseguiu alcançar um novo objetivo, que o lançou ainda com vigor para a criação, em Aveiro, de uma universidade, facto consumado no dia 15 de dezembro de 1973.

Da JUC à “Comunhão Pascal” no Liceu

Apesar de estudante trabalhador, Orlando de Oliveira conciliou os estudos e o emprego com diversas atividades culturais, nomeadamente como membro da Ação Católica / Juventude Universitária Católica, do orfeão universitário e de jogador de futebol na Associação Académica de Coimbra.

Enquanto reitor do Liceu de Aveiro, Orlando de Oliveira sempre pugnou pela formação moral dos estudantes. Nesse âmbito, promoveu anualmente a “Comunhão Pascal” no Liceu, eventos que foram presididos pelo Bispo de Aveiro, primeiro D. Domingos da Apresentação Fernandes e depois D. Manuel de Almeida Trindade.

Licenciatura em Farmácia

Durante os cinco anos em que esteve colocado em Santo Tirso, Orlando de Oliveira conciliou o ensino com o seu regresso aos bancos da universidade, desta vez da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, onde tirou uma nova licenciatura que lhe permitiu exercer as funções de diretor técnico de farmácia, primeiro em Santo Tirso e, mais tarde, em Aveiro.

Em Aveiro, de 1946 a 1956, foi diretor técnico do Laboratório Nostrum. A convite de uma empresa de empacotamento de sal, do Canal de S. Roque, estudou a fórmula química para o “branqueamento” do sal a comercializar. Por solicitação da Fábrica de Celulose de Cacia, fez análises bacteriológicas das águas dos rios Vouga e Novo do Príncipe com vista a melhorar o tratamento dos resíduos que a fábrica lançava para esses cursos de água.

Recordando Orlando de Oliveira

“Permitam-me que neste momento, recorde o saudoso Dr. Orlando de Oliveira, que, com todo o seu entusiasmo pelas questões do ensino, acolhe, de braços abertos, a proposta do Sr. António de Almeida, proprietário do Colégio de Oliveira de Azeméis, para fundar em Aveiro um estabelecimento de ensino médio. E é assim, com o suporte do Dr. Orlando de Oliveira, que nasce em 1965 o Instituto Médio de Comércio de Aveiro, destinado a ministrar, principalmente, o curso de Contabilidade”.

Prof.ª Dr.ª Maria Armanda Teixeira Simões Dias, na Revista “Estudos do ISCAA”, II Série, nº 6/7, de 2000/2001.

“Por esses tempos, basta só compulsar a imprensa local, o Dr. Orlando de Oliveira, reitor do Liceu Nacional de Aveiro, afadigava-se por criar na nossa terra um Conservatório de Música e de Ballet, tendo conseguido já pôr em funcionamento aulas nas instalações anexas à Igreja da Misericórdia, por cima da desaparecida drogaria do Alberto Rosa”.

Gaspar Albino num texto alusivo à primeira exposição coletiva do Grupo Aveiro Arte.

“O último reitor foi Orlando de Oliveira (…) A cidade deve-lhe importantes benefícios: a criação de uma secção do Instituto Comercial do Porto, futuro ISCAA; a criação e instalação do Conservatório Regional Calouste Gulbenkian e, a cima de tudo, a campanha pela criação da Universidade de Aveiro, em artigos inflamados na imprensa local. O liceu deve-lhe importantes melhoramentos como a ampliação do edifício principal, a construção do Pavilhão Gimnodesportivo e a recuperação do edifício da Praça da República. O ensino deve-lhe o empenho na criação das secções liceais de Oliveira de Azeméis, Ovar, Vila da Feira e Águeda. O país deve-lhe a organização do VI Congresso do Ensino Liceal, no Liceu Nacional de Aveiro, entre 14 e 17 de Abril de 1971, sendo Orlando de Oliveira Presidente da Comissão Executiva”.

Alcino Carvalho, presidente da Assembleia da Escola José Estevão, no n.º 4 (2002) da revista “Aliás”, da Escola Secundária José Estevão.