Stephen Kim Sou-Hwan, cardeal amigo dos jovens e da democracia

Vidas que marcam Morreu no dia 16 de Fevereiro, com 86 anos, o cardeal Stephen Kim Sou-Hwan, primeiro cardeal coreano, muito admirado por católicos e não católicos da Coreia do Sul.

Durante os quatro dias em que o cadáver esteve na catedral de Myeongdong, da capital Seul, antes de ser sepultado no dia 20, mais de 400 mil pessoas quiseram despedir-se daquele que fora ordenado padre em 1951, bispo em 1996 (primeiro de Masan e a seguir, desde 1968, de Seul) e nomeado cardeal em 1969, por Paulo VI. Cardeal com apenas 46 anos.

O presidente da Coreia do Sul afirmou que a morte do prelado foi uma “grande perda para a nação”, enquanto o líder da oposição disse que desaparecia “uma grande estrela que servia de guia na história recente” do país.

Tal unanimidade à volta do cardeal que também era conhecido pelo seu sorriso não foi circunstancial. Nem se deveu ao facto de os católicos terem sextuplicado durante o seu cardinalato (hoje são cerca de cinco milhões num país de 50 milhões de pessoas). Kim Sou-Hwan destacou-se na defesa da democracia e dos direitos humanos durante o regime ditatorial que governou o país nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado. Opôs-se à supressão dos sindicados e colaborou no diálogo com o Japão para que este país assumisse a responsabilidade pelos danos causados pela ocupação nipónica da primeira metade do séc. XX.

Refere o sítio do “New York Times” (16-02-2009) que durante as manifestações estudantis de 1987, contra o governo do militar Chun Doohwan, o cardeal defendeu o seu povo afirmando ao chefe da polícia: “Se a polícia entrar na catedral, eu estarei à espera dela. Atrás de mim, padres e freiras. E quando cedermos, haverá ainda os estudantes”.

O valor da liberdade e o testemunho do martírio não eram estranhos à família de Stephen Kim Sou-Hwan. O seu avô convertera-se ao catolicismo e morrera na prisão, durante uma perseguição aos católicos, no séc. XIX. Por outro lado, nomeado administrador apostólico de Pyongyang, em 1975, nunca o cardeal conseguiu visitar a capital da Coreia do Norte. Era o seu grande desejo.

Kim Sou-Hwan estava doente há vários meses, com uma pneumonia, tendo aparecido em público, pela última vez, na Missa de Natal de 2008.

Antes de ser sepultado, em cumprimento da sua vontade, alguns órgãos foram removidos, para doar a quem precisar. A córnea dos seus olhos já foi usada com sucesso num transplante.

J.P.F.