Vidas que fascinam No dia 3 de Novembro de 1985, o Papa João Paulo II beatificou Titus Brandsma, em Roma, e disse: “No meio dos ataques de ódio, ele conseguiu amar; todos, incluindo os seus carrascos. «Também são filhos do bom Deus», disse, e «quem sabe se não ficará alguma coisa neles…» Claro que tal heroísmo não é algo que possa ser improvisado…”
Anno Sjoerd Titus Brandsma nasceu no dia 23 de Fevereiro de 1881, na Frísia, província do norte da Holanda, e morreu no campo de concentração de Dachau, no dia 26 de Julho de 1942, após a aplicação de uma injecção letal. Era frade carmelita, tendo feito os primeiros votos em 1899 e recebido a ordenação em 1905.
Doutorado em Filosofia, chegou a reitor da Universidade Católica de Nimega (1932), entretanto, tornara-se um reputado conferencista internacional (França, Holanda, Itália, Alemanha, EUA) sobre os místicos carmelitas.
Logo nos primeiros anos de padre, Titus Brandsma criou a revista “Carmelrozen” para divulgar o Carmelo. Ao fim de um ano, a revista tinha 11 mil assinantes. O gosto pelo jornalismo (um entre muitos – o frade tinha um ritmo de trabalho incrível, rezando Missa às 6h30 e deitando-se depois da 1h30 da manhã) fez com que fosse nomeado pelos bispos holandeses para conselheiro espiritual dos jornalistas católicos. E é esse cargo que o leva à prisão nazi.
Após a invasão da Holanda, os nazis ordenam a publicação de propaganda hitleriana nas publicações católicas, além de afastarem padres e freiras da direcção das escolas. Titus escreve aos jornalistas católicos: “…Os directores e editores têm de recusar a sua publicação, se prezarem o carácter católico do seu jornal, mesmo no caso de serem ameaçados com uma multa ou suspensão, ou pior, com o encerramento do jornal em questão. Chegámos ao limite. Acredito que, neste assunto, os jornais católicos irão manter a sua posição católica”. E viaja pela Holanda defendendo o seu ponto de vista. Alguém o denuncia e no dia 19 de Janeiro de 1942 a polícia nazi prende-o.
Enquanto esteve preso, passando por vários cárceres até à morte, deixou a “sensação de termos conhecido um santo”, como revelaram os sobreviventes que lidaram com ele. É dessa época o poema de felicidade que aqui se transcreve.
J.P.F (texto elaborado com base no livro “Vítimas do Nazismo, Edith Stein, Marcel Callo, Titus Brandsma”, Fundação AIS/Paulinas, 2007)
Meu Senhor, ao olhar para Vós,
Vejo os vossos olhos compassivos postos em mim.
O amor inunda o meu humilde coração,
Sabendo da vossa fiel amizade sem fim.
Antevejo um cálice de dor,
Que aceito por amor a vós.
Desejo percorrer este caminho penoso,
O único que leva a Deus.
A minha alma está cheia de paz e luz,
Embora na dor esta luz brilhe intensamente.
Porque agora guardais no vosso peito,
O meu coração inquieto,
que aí repousa tranquilamente.
Deixai-me aqui, livremente só,
Na cela onde a luz do Sol nunca brilhou.
Que ninguém me dirija mais a palavra,
É este silêncio de ouro que me torna livre!
Apesar da solidão, não tenho medo,
Nunca vos senti, ó Senhor, tão perto.
Jesus amado acompanhai-me, por favor,
Sei que encontrarei em vós a paz eterna.