Um longo caminho para a unidade

1740 – Na Escócia, nasce um movimento pentecostal com ligações à América do Norte, cuja mensagem para a renovação da fé faz apelo à oração por todas as Igrejas, e com elas.

1820 – O reverendo James Haldane Stewart publica: “Conselhos para a união geral dos cristãos, com vista a uma efusão do Espírito” [Hints for the outpouring of the Spirit].

1840 – O reverendo Ignatius Spencer, um convertido ao catolicismo, sugere uma “União de oração pela unidade”.

1846 – Nasce a Aliança Evangélica Mundial, que reagrupa protestantes, independentemente das suas confissões particulares.

1848 – De regresso a Roma, depois de um exílio forçado, o Papa Pio IX escreve uma carta aos patriarcas do Oriente dizendo: “Voltai, respeitaremos os vossos ritos, os vossos costumes, mas voltai à Mãe-Igreja”, frase que sintetiza a visão católica da época, segundo a qual os outros é que têm de regressar.

1867 – A primeira Conferência de Lambeth (residência do bispo de Londres) reúne representantes de todas as igrejas anglicanas no mundo. A conferência repete-se de dez em dez anos.

1890 – O padre Fernando Portal encontra por acaso, na Ilha da Madeira, o anglicano Lord Halifax. Simpatizam um com o outro e iniciam um diálogo que leva o padre católico a fundar a “Revista Católica das Igrejas” para a convergência de mentalidades. Com algumas vicissitudes, o padre continua o seu esforço, que culmina nas conferências de Malines (1921-1925).

1894 – No contexto do Pentecostes, Leão XII incentiva um Oitavário de Oração pela Unidade.

1908 – Dois padres anglicanos lançam uma semana de oração pela unidade, de 18 a 25 de Janeiro de cada ano (do dia litúrgico da confissão de S. Pedro à conversão de S. Paulo). Um deles, Paul J. Francis Wattson, torna-se católico.

1910 – A Conferência de Edimburgo (Escócia) reúne representantes das diferentes sociedades missionárias protestantes. Principalmente os representantes africanos manifestam o escândalo que sentem perante as divisões dos missionários cristãos. A conferência é o gérmen do Conselho Ecuménico das Igrejas.

1914-1918 – Durante a Grande Guerra, Nathan Soderblom, bispo luterano de Upsala (Suécia), apela à paz entre cristãos. Depois da guerra, cria o movimento Vida e Acção (“Life and Work”), que em 1925 reúne em Estocolmo protestantes e ortodoxos (alguns, ex-inimigos durante a guerra). Os católicos são convidados, mas não comparecem. O encontro repete-se em Oxford (Inglaterra), em 1937.

1921-1925 – Sob a direcção do arcebispo de Malines-Bruxelas, cardeal Desidério Mercier, Fernando Portal retoma conversações com os anglicanos.

1925 – D. Lambert Beauduin fundou em Amay-sur-Meuse (Bélgica), uma abadia que se consagra à aproximação com cristãos orientais.

1927 – Primeiro encontro do Movimento Fé e Constituição (“Faith and Order”), animado pelos anglicanos Brent e William Temple, na sequência da Conferência de Edimburgo. Reúne 400 delegados de 108 igrejas.

1928 – O Papa Pio XI, na encíclica “Mortalium animus”, proíbe a participação dos católicos no movimento ecuménico. A atitude é antes de pedir que voltem “à casa do Pai, o qual, esquecendo as injúrias por eles injustamente dirigidas à Sé Apostólica, os acolherá com imenso amor”.

1935 – O padre Paul Couturier, de Lion (França), afirma num artigo que a unidade só pode vir de Deus e deve ser objecto de oração de todos os cristãos, em vez de ser o esforço de uma igreja em converter outra. Este modo de abordar a questão é bem aceite. “A unidade que Deus quiser, pelos meios que quiser”. A Semana da Unidade torna-se verdadeiramente ecuménica e deixa de haver um dia para a conversão dos luteranos, outro para a dos calvinistas, outro para a dos anglicanos…

1937 – Nova Conferência de Edimburgo.

1937 – O padre Couturier promove o grupo de Dombes. Pastores e padres reúnem-se todos os anos na abadia trapista de Dombes (Ain), numa espécie de retiro espiritual ecuménico.

1938 – É tomada em Utrecht (Holanda) a decisão de fundir o movimento Vida e Acção e Fé e Constituição, visto que muitos dos seus elementos eram comuns. Decide-se criar o Conselho Mundial das Igrejas, que, devido à II Guerra Mundial (1939-1945), só surgirá efectivamente em 1948.

1940 – Roger Schutz, suíço, pastor calvinsta, cria em Taizé (Sul da Borgonha, França) uma comunidade ecuménica, que actualmente tem cerca de uma centena de irmãos, católicos e de diversas origens evangélicas, vindos de mais de vinte e cinco países. Roger Schutz contou que, pouco tempo antes de João XXIII morrer, respondendo à pergunta “Que testamento nos deixa para Taizé”, disse: “Não andemos à procura de quem errou e de quem tem razão, mas vamos reconciliar-nos”.

1948 – É formado em Amesterdão o Conselho Mundial das Igrejas (World Council of Churches). Reúne a quase todalidade de igrejas não-católicas. Em 1961, em Nova Deli (Índia), o agora denominado Conselho Ecuménico das Igrejas (CEI) define-se como “comunidade de Igrejas que confessam o Senhor Jesus Cristo como Deus e salvador segundo as Escrituras e, por isso, procuram cumprir em conjunto a sua vocação comum para a glória do único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo”. A Igreja Católica relaciona-se com a CEI através do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos. O CEI tem sede em Genebra (Suíça).

1949 – Uma “Instrução do Santo Ofício, sobre o movimento ecuménico”, afirma: “Não se faça voltar atrás a história, nem contra os católicos exagerando as suas culpas, nem a favor dos reformadores dissimulando as culpas deles, de que resulta aquela que constitui a verdadeira essência dos acontecimentos: a apostasia da fé católica”.

1954 – O cardeal Roncalli, patriarca de Veneza (João XXIII a partir de 1958), afirma: “A estrada da união das várias confissões cristãs é a caridade, aliás, tão pouco seguida, quer de uma parte quer de outra, talvez não com má intenção, mas, para todos os efeitos, prestando um péssimo serviço à Igreja”.

1958 – O Centro “Unidade Cristã” de Lyon (França) começa a preparar o tema para a Semana de Oração, em colaboração com a Comissão “Fé e Constituição” do Conselho Mundial de Igrejas.

1960 – Criação do Secretariado (Católico) para a Unidade dos Cristãos, actual Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (desde 1988).

1962 – Início do II Concílio do Vaticano, com observadores de outras confissões cristãs. No início da II sessão, em Setembro de 1963, Paulo VI pede perdão aos irmãos separados. Do concílio sai o decreto “Unitatis Redintegratio”, sobre o ecumenismo. Caem as reservas católicas ao ecumenismo. Incentiva-se energicamente o diálogo ecuménico.

1965 – (7 de Dezembro) Declaração conjunta de Paulo VI e do patriarca Atenágoras de Constantinopla (Turquia), em que levantam a excomunhão mútua que durava desde 1054. A 6 de Janeiro de 1964, Paulo VI e Atenágoras haviam trocado um beijo da paz, em Jerusalém, e rezado em conjunto “que todos sejam um” (Jo 17).

1966 – A Comissão “Fé e Constituição” e o Secretariado para a Unidade dos Cristãos da Igreja Católica decidem preparar em conjunto o texto para a Semana de Oração de cada ano.

A partir desta data realizam-se dezenas de diálogos bilaterais, por vezes multilaterais ao mais alto nível, impossíveis de enumerar. Exemplo: declarações de católicos e anglicanos sobre “Eucaristia”, “Ministério” e “Autoridade da Igreja” (1966 e seguintes); Relatório de Malta, de luteranos e católicos, sobre “O Evangelho e a Igreja” (1971); Relatório sobre “A presença de Cristo na Igreja e no Mundo”, de reformados e católicos (1970-1976), etc.

1975 – (14 de Dezembro) No décimo aniversário da reconciliação com Constantinopla, Paulo VI beija os pés do metropolita Melitone, enviado do patriarca da Constantinopla, como reparação de um gesto contrário exigido pelo Papa Eugénio IV diante do patriarca José II, no séc. XV.

1980 – (31 de Maio, em Paris) João Paulo II, num encontro ecuménico, afirma pela primeira vez a necessidade de “purificar a nossa memória pessoal e comunitária da lembrança de todos os desencontros, das injustiças, dos ódios do passado”.

1983 – V Centenário do nascimento de Martinho Lutero, comemorado amplamente na Igreja Católica. Na Carta que João Paulo II escreve sobre o centenário, afirma: “Torna-se necessário um duplo esforço, quer em relação a Martinho Lutero, quer em busca do restabelecimento da unidade. (…) Não devemos deixar-nos guiar pela tentação de nos impor como juízes da história, mas unicamente deixar-nos levar pela intenção de compreender melhor os acontecimentos e de nos transformarmos em portadores da verdade”.

1989 – Em Junho, João Paulo II participa numa cerimónia na catedral luterana de Roskilde, na Dinamarca, sem presidir nem usar a palavra (atitude que causou sensação dentro da própria Igreja luterana). Nessa mesma viagem, na catedral de Upsala (Suécia), em espírito de penitência, depõe uma coroa de flores no túmulo do bispo luterano Soderblom, que em 1925 convidara católicos para um encontro ecuménico.

1995 – Encíclica “Ut Unum Sint” (“Para que sejam um”), sobre o empenho ecuménico. Entre outros aspectos, João Paulo II reconhece que “o movimento ecuménico teve início precisamente no âmbito das Igrejas e Comunidades da Reforma”.

1999 – Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação entre a Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial.

2005 – Morre João Paulo II. O seu funeral é verdadeiramente ecuménico (e inter-religioso). Em vida, João Paulo II participou em celebrações ecuménicas pelo menos nas igrejas ou catedrais luteranas de Roma (Itália), Salzburgo (Áustria), Estrasburgo (França), Trodheim (Noruega), Reiquejavique (Islândia), Turku (Finlândia), Roskilde (Dinamarca), Upsala (Suécia), Riga (Letónia), nas catedrais anglicanas de Cantuária (Inglaterra) e Toronto (Canadá), nas catedrais ortodoxas de Al Fanar (Turquia) e Bialystok (Polónia).

Eleição de Bento XVI, que manifesta como prioridade do seu Pontificado o “firme propósito de assumir a recuperação da unidade plena e visível dos cristãos”, conforme afirma num encontro ecuménico, durante a viagem a Colónia (Alemanha), em Agosto.

Para a elaboração dos textos das páginas 8, 9, 12 foram utilizadas as seguintes fontes:

* www.vatican.va, página do Vaticano na Internet;

* Catecismo da Igreja Católica (Gráfica de Coimbra);

* Yves Congar, Ensaios Ecuménicos (Verbo);

* Pedro R. Santidrián, Dicionário básico das religiões (Gráfica de Coimbra);

* Michel Reeber, Le Dico des religions (Milan);

* Luigi Accattoli, Quando o Papa pede Perdão (Paulinas);

*John Bowker, Religiões do Mundo (Civilização);

* Jean Comby, Para ler a História da Igreja (Ed. Perpétuo Socorro).