XXIV Domingo do Tempo Comum – Ano B

À Luz da Palavra O facto de nos dizermos cristãos dá muito que pensar, porque o que caracteriza um cristão não é o cumprimento exacto de ritos ou o conhecimento de belas fórmulas, mas a adesão a Cristo. E, quando tomamos a sério o ser cristão, podemos mesmo inquietar-nos, a partir da reflexão sobre as nossas próprias incoerências. Aderir a Cristo pela fé, significa conformar a nossa própria vida com os valores de Cristo no caminho do amor a Deus e aos irmãos; é um compromisso efectivo com Cristo, traduzido, no dia-a-dia, em gestos concretos a favor dos outros. Este é o apelo da carta de Tiago, na segunda leitura.

Por sua vez, Marcos termina o evangelho com estas palavras de Jesus: “Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de mim e do Evangelho, salvá-la-á”. Estas declarações coroam o diálogo havido com os seus discípulos sobre a sua próxima morte e ressurreição, à qual Pedro se opõe violentamente, pois não pode aceitar que o Messias de Israel termine assim num fracasso. Não é fácil para qualquer discípulo de Jesus, de ontem ou de hoje, perceber na fé o que significa tomar a cruz de cada dia e seguir o Senhor. Perceber, afinal, o que é ser cristão. Porque seguir a Cristo é mais do que ir à missa, fazer catequese, participar nas festas. É seguir no caminho do amor e do dom da vida. É ter em Jesus a referência fundamental à volta da qual se constrói toda a existência. É abrir os olhos ao que se passa à sua volta e viver na solidariedade, na partilha e no serviço fraterno. Identificar-se com Cristo, na sua abjecção, como autêntico discípulo/a, e sentir-se feliz por poder sofrer em si mesmo e com os outros, só por amor de Jesus, não é tarefa fácil.

Apesar de nos considerar-mos e sermos realmente discípulos de Cristo, ainda funcionamos muito com a lógica humana do sucesso e do bem-estar e não com a lógica de Deus. Cristo funcionava a nível do «perder» e nós funcionamos, como Pedro, a nível do «ganhar». A lógica de Jesus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos, ao contrário da lógica dos seres humanos que aposta no poder, no domínio, no êxito. O grande teste à nossa fé faz-se fora da igreja: na profissão, nas relações sociais, no compromisso com os problemas à nossa volta, nas atitudes e critérios com que nos decidimos, nos valores que defendemos e na vida que construímos. Parece muito claro que o discípulo de Jesus é chamado a formar uma mentalidade evangélica. Para isso não basta ir à missa e ouvir ler a Palavra e rezar mais ou menos atentamente com a comunidade celebrante. É preciso mais. Na sociedade actual, o cristão tem que ser uma contracorrente. Tem de lançar nova luz nas trevas da ignorância e do erro. E isto exige profunda meditação e oração a partir da Palavra, mais conhecimento da doutrina cristã para mais fé. Exige o cultivo de uma amizade profunda com Jesus Cristo, a quem seguimos. É urgente sermos fermento, sermos fogo, sermos inquietos e inquietadores. O cristão nunca se sente acabado, perfeito. Percebe sempre o apelo a ir mais além, mais longe, porque Cristo é a nossa meta!

Ser cristão é um compromisso pessoal e comunitário. É uma acção e não uma palavra. É uma tarefa nunca cumprida. Como vamos traduzir o nosso ser cristão em gestos concretos, durante a semana?

Leituras do XXIV Domingo Comum – Ano B

Is 50,5-9; Sl 114; Tg 2,14-18; Mc 8,27-35