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Covid-19: Emigrantes portugueses no Estados Unidos «estão com medo» e já há «pessoas com dificuldades económicas» (c/ vídeo)

Covid-19: Emigrantes portugueses no Estados Unidos «estão com medo» e já há «pessoas com dificuldades económicas» (c/ vídeo)

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Padre Luis Cordeiro, assistente das Comunidades Portuguesas no Estado da Califórnia, revelou que há infetados portugueses e já houve falecimentos devido ao novo coronavírus

Lisboa, 17 abr 2020 (Ecclesia) – O padre Luis Cordeiro, Assistente das Comunidades Portuguesas, no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos da América, revela que os emigrantes portugueses “estão com medo” e pedem “muita oração para que tudo termine”.

“Algumas pessoas estão com medo e pedem orações de agradecimento mas também pedidos de oração para que tudo isto termine, sabemos de pessoas contaminadas e outras até que acabaram por falecer devido ao Covid-19”, conta o padre Luis Cordeiro à Agência ECCLESIA.

O sacerdote é pároco de Santo António, na Diocese de Hughson, Estado da Califórnia, e acompanha as comunidades de portugueses, foi tendo conhecimento de pessoas que faleceram naquele Estado devido ao coronavírus, “sendo mexicanos, filipinos, vietnamitas” mas também na comunidade portuguesa “pessoas que recuperaram e outras que perderam a vida”.

“É muito difícil nos funerais, pedimos que as pessoas se protejam e há sempre a dificuldade porque não podem ser normais, infelizmente as pessoas juntam-se, quando pensamos ter quatro ou cinco pessoas e chegamos e temos 50 ou 60 pessoas, dentro do carros, querem aproximar-se, mesmo que a gente diga ‘só familia” mas é sempre difícil, quando temos uma pessoa amiga que faleceu sentimos no nosso coração que queremos estar próximo e rezar”, assume o sacerdote açoriano.

Foto: Lusa/EPA

O padre Luis Cordeiro partilhou que as pessoas seguem as regras do isolamento social na generalidade mas há extremos, “uns cumprem todas as regras, outros saem demais”, as “Eucaristias foram canceladas e as pessoas acompanham através de transmissões online, da rádio ou da televisão”.

“Através dos meios de comunicação social é o único meio para chegar a cada casa, através do site de cada Igreja, do Facebook e muitas igrejas estão a transmitir em direto ou até a gravar para que todos possam acompanhar”, conta.

Com a celebração da Páscoa “totalmente diferente” o sacerdote partilhou ser interessante “falar para a câmara e ver os bancos da Igreja vazios”, transmitiu as celebrações pascais e cada dia assume a “recitação online do terço da Misericórdia”.

Além das transmissões o telefone ganhou também grande importância como “meio de chegar às pessoas mais idosas e demais famílias que não têm acesso às tecnologias”.

“Uma das recomendações do nosso bispo, de origem portuguesa, pede que usemos os meios de comunicação para chegar às pessoas, não podemos fazer confissões, cancelámos a catequese, os pequenos eventos e cerimónias que tínhamos mas ligar podemos sempre fazer e prometer a nossa oração”, assegura.

O sacerdote, natural da diocese de Angra, vai ligando para as famílias para “saber como estão” pois já vai havendo “pessoas a passar dificuldades económicas” e os mais idosos também estão na lista.

“Há depois as pessoas com mais idade e as famílias pedem, ‘reze por a gente’, tenha nas suas intenções esta ou aquela pessoa’, e nas missas pedimos sempre pelas pessoas doentes e pelos infetados pelo Covid-19”, refere.

Nestes telefonemas o padre Luis Cordeiro tenta deixar a palavra “Aleluia”, no sentido da alegria mas outras expressando a confiança.

“A palavra Aleluia deixa o sentido da alegria e a expressão ‘não tenhamos medo’, porque no final tudo passará; há também a palavra paciência, muito importante, mesmo que seja difícil precisamos muito e tudo vai passar com esta confiança e esperança que Deus não nos abandona e por isso Aleluia”, remata.

SN

Covid-19: Portugueses da Comunidade Católica de Mainz, na Alemanha, criam novas ocasiões de encontro no ambiente digital (c/vídeo)

Covid-19: Portugueses da Comunidade Católica de Mainz, na Alemanha, criam novas ocasiões de encontro no ambiente digital (c/vídeo)

Isolamento social levou a novas iniciativas, destaca o responsável da missão, padre Rui Barnabé

Covid-19: Portugueses da Comunidade Católica de Mainz, na Alemanha, criam novas ocasiões de encontro no ambiente digital (c/vídeo)

Lisboa, 14 abr 2020 (Ecclesia) – O pároco da Comunidade Católica de Língua Portuguesa de Mainz, na Alemanha, apostou nas transmissões das celebrações online para “reunir as pessoas” e experimentar novas formas de oração e de convívio “visitando cada casa”.

“O nosso objetivo é rezar em conjunto e comunicar também entre todos, não é uma transmissão profissional, e no fim de cada transmissão juntamos a possibilidade de todas as pessoas que estão a assistir deixar uma saudação”, explica o padre Rui Barnabé.

Assumindo não ser o “padre mais tecnológico do mundo” o sacerdote foi sentindo a necessidade da proximidade com os emigrantes membros da comunidade e, “apesar da presença na internet, um blog e uma página de facebook”, era preciso mais.

Os padres aqui em Mainz estão convidados a tocar os sinos quando começam a celebrar Missa às horas habituais, esta simbólica está a acontecer na cidade toda, no domingo de Páscoa foi uma sinfonia de sinos, não é da Igreja Católica só mas também de igrejas evangélicas, foi quasee ininterrupto o toque dos sinos na cidade; mas para uma comunidade cristã de emigração a maioria das pessoas não vive no centro da cidade e a simbólica dos sinos não chega”.

As transmissões foram “melhorando com a ajuda de membros da comunidade”, ligados às tecnologias, e no quinto domingo da Quaresma “foi possível a primeira transmissão online” numa plataforma “open source e sem limite de tempo”.

“As pessoas estão a apreciar, o número das pessoas que entram na plataforma aumentou, mas a minha preocupação não são os números, pois eu como padre já estaria a rezar aquela hora, mas se nos pudermos encontrar e rezar esse é o grande objetivo”, aponta o sacerdote aveirense.

As transmissões online têm a particularidade de um “pequeno convívio” no fim e surgiu uma nova modalidade de oração na própria comunidade, “apesar da limitação esta é uma oportunidade”.

“Há uma coisa que nunca se fez, uma oração da noite em conjunto, em tempos normais as comunidade está dispersa e encontra-se ao fim-de-semana mas agora conseguimos e as pessoas estão a desejar boa noite umas às outras e saber se estão todos bem”, afirma.

O padre Rui Barnabé contou ainda à ECCLESIA que o fim da vigília pascal, adaptada à transmissão online, foi feito um “brinde de Páscoa aos amigos e vizinhos”, pessoas que “vivem a 60 e 70 km umas das outras e assim se encontraram desta forma”.

Esta nova realidade traz ainda outros desafios quer nos ambientes de celebração, que o sacerdote prepara, quer na forma mais “silenciosa” em que tem de celebrar.

Numa das celebrações do Tríduo em que de uma das casas estavam a cantar eu atrapalhei o nosso responsável do coro porque comecei a cantar com ele, esqueci-me que não estávamos juntos e esse sentimento é engraçado, não é uma situação normal mas conseguimo-nos abstrair e com esta maneira parece que a gente se sente mais unidos nas celebrações”.

Nesta comunidade não se sentiu a limitação dos emigrantes não regressarem a Portugal para a festa da Páscoa, “uma vez que vão mais na altura do Natal” mas aconteceu a situação contrária.

“Há famílias que pertenciam a esta comunidade, se reformaram e voltaram a Portugal, e agora teriam de escolher uma celebração online e algumas têm participado connosco porque sentem saudades desta comunidade que deixaram, aqui tenho esta relação aos contrário, que dizem nunca pensarem celebrar a Páscoa online com a comunidade onde estiveram tantos anos”, afirma.

SN

 

Covid-19: Páscoa dos emigrantes no Luxemburgo vivida na «fidelidade» a tradições de Portugal (c/vídeo)

Covid-19: Páscoa dos emigrantes no Luxemburgo vivida na «fidelidade» a tradições de Portugal (c/vídeo)

Padre Rui Pedro, na Missão Católica de Língua Portuguesa, traça a realidade vivida neste tempo pascal em isolamento

Lisboa, 14 abr 2020 (Ecclesia) – O responsável pela Missão Católica de Língua Portuguesa do Sul do Luxemburgo disse à Agência ECCLESIA que os emigrantes celebraram a Páscoa em isolamento social, sem visitar as terras de origem e na “fidelidade” a tradições pascais de Portugal.

“Vemos mais uma vez a grande ousadia dos nossos emigrantes, que mostram a sua fidelidade à sua fé e não têm vergonha em mostrar que são cristãos! E este ano houve uma multiplicação de cruzes, de diferentes materiais e diferentes cores, uma autêntica beleza”, disse à Agência ECCLESIA Padre Rui Pedro.

Devido à pandemia Covid-19 os emigrantes portugueses viram-se impedidos de passar a época da Páscoa em Portugal, onde “muitos são mordomos e ajudam nas tradições pascais”, lembrou o sacerdote scalabriniano e é o responsável pela Missão Católica de Língua Portuguesa do Sul do Luxemburgo, com sede em Esch-sur-Alzette.

“Este isolamento social em tempo de Quaresma, tempo de vivacidade com muitas celebrações, pegou-nos em intensa atividade, importante para as pessoas. Aqui grande parte das pessoas que pertencem a esta comunidade são do norte de Portugal e, por exemplo, este ano todos colocavam imagens do compasso pascal nas redes sociais”, refere.

     

Um tempo de Páscoa diferente para todos onde esta comunidade do sul do Luxemburgo conta com 400 crianças na catequese, viveram uma “interrupção muito brusca” e os catequistas tentam “através das redes sociais manter contacto com os pais”, com novas propostas.

“Penso que, se no Natal se fazia o presépio, agora talvez vamos fazer com as crianças o calvário, um hábito que não tínhamos”, aponta o religioso.

O padre Rui Pedro falou ainda da realidade das pessoas que vivem mais isoladas, e que a “intensificação de contactos por email e pelo telefone” se foi concretizando.

“Vivemos sempre em comunhão com todos; a Igreja continua aberta mas sem celebrações;  tínhamos um grupo de missa diária e vão às igrejas que estão abertas e temos colocado uma mesa com livros para as pessoas levar e se possam cultivar na fé”, conta.

Também as transmissões através da televisão portuguesa foram importantes para esta comunidade “que conseguiu parar para participar, sentar no sofá ou na cadeira e acompanhar a missa”.

“Neste tríduo pascal acompanharam as celebrações onde se percebeu uma grande intenção de dar beleza às celebrações, foram muito sentidas e multiplicadas nas redes sociais pelos nossos emigrantes”, destacou.

O sacerdote da Congregação Missionária de São Carlos adiantou ainda que o tempo de isolamento tem sido desafiante e uma descoberta para a própria comunidade que assumiu três atitudes: a comunhão, através das partilhas em redes sociais, a comunicação, na intensificação de envio de emails e contactos telefónicos e ainda a oração.

“Aqui na comunidade somos quatro sacerdotes, que estamos a celebrar sem o povo. Saibam que estamos em oração e rezamos por eles, pelas famílias e os filhos, se já a realidade dos emigrantes é as famílias estarem separadas, agora aqui aumentou a separação”, constatou.

O padre Rui Pedro acrescentou ainda que tem sido um “momento desafiante” para a comunidade de religiosos, com “tempos de oração mais sossegado”, trazendo para as “celebrações as intenções que são enviadas por email”.

Covid-19: Páscoa dos emigrantes no Luxemburgo vivida na «fidelidade» a tradições de Portugal (c/vídeo)

 

Quarentena forçada. Quaresma reforçada!

Quarentena forçada. Quaresma reforçada!

Padre Amaro Gonçalo Ferreira Lopes

Foto Agência Ecclesia

Penso que a nós, pastores, não nos basta comunicar aos fiéis algumas regras de procedimento, de tipo higiénico-sanitário ou litúrgico. Isso é bem-vindo e faz falta. Mas é preciso mais; é preciso oferecer ao santo povo de Deus uma interpretação cristã do momento crítico que estamos a viver, uma leitura dos sinais, para realmente crescermos na fé, caminharmos na esperança e testemunharmos o amor. Precisamos de oferecer percursos e recursos alternativos, para que a ausência e a distância física da Igreja se torne presença espiritual de uma comunidade que tece os seus laços de fé de modo mais profundo, permanecendo unida como ramos na videira. Deste modo, aproveitaremos este tempo especial da quarentena forçada, como tempo favorável para uma Quaresma reforçada e, portanto, para uma Páscoa verdadeiramente de renascimento e de vida nova.  Vai neste sentido, a Mensagem, que dirijo aos meus paroquianos, que é fruto da minha leitura e das leituras destes dias.

Mensagem do Pároco de Nossa Senhora da Hora

Queridos irmãos e irmãs:

A Quaresma de 2020 está a ser marcada excecionalmente pela pandemia do COVID-19.

Talvez a experiência deste mal comum nos revele a importância do bem comum, hoje tão esquecido e escarnecido. Desta emergência pode, de facto, extrair-se uma bela lição de solidariedade: “a tua vida é também a minha vida, e eu próprio, com as minhas forças, colaboro na construção do bem comum”.

Por isso mesmo, evitemos abrir brechas na barragem de contenção comum do coronavírus, com escolhas irresponsáveis, e obedeçamos às disposições restritivas, comportando-nos com cautela e responsabilidade, pensando cada um para si mesmo: “ao proteger-me, protejo os mais fracos, os mais expostos: idosos, adultos frágeis, crianças doentes”. As restrições, obrigações e recomendações práticas, que a Direção Geral de Saúde, ou outras entidades do Estado, atentas ao bem comum, nos fazem, são mesmo para ser assumidas e levadas a sério.

Não deixemos, porém, que a pandemia deste vírus nos arraste para as trevas do medo, de modo que o necessário distanciamento físico não nos afaste ainda mais dos outros, transformando o próximo, o irmão, o outro, em “inimigo” ou “concorrente” do mercado ou do super-mercado. Em vez do medo, esta pandemia desperte em todos nós o santo temor de Deus, isto é, o sentido da minha responsabilidade, pois tenho de responder diante de Deus pelo que faço da minha vida e da vida dos meus irmãos.

É esse o sentido de qualquer cancelamento, mesmo com sacrifício pessoal e comunitário, de muitas iniciativas que fazem parte do programa habitual das nossas vidas e até do programa espiritual da Quaresma (cf. Apêndice com medidas).

 I. Não cancelemos a Quaresma

Por nada deste mundo, esta Quaresma deve ser cancelada. Não há “férias”, nem suspensão da graça e do dever da nossa relação fiel com Deus e com os outros. Pelo contrário, a Quaresma dos cristãos é claramente reforçada na sua necessidade e oportunidade, pelas medidas e condicionamentos desta imperativa “quarenta sanitária geral”.

Começámos a Quaresma, na quarta-feira de Cinzas, escutando o grito de conversão, no apelo veemente do profeta Joel: “ordenai um jejum, reuni o povo, proclamai uma solenidade (…)  Os sacerdotes comecem a dizer: «poupai, Senhor, o vosso Povo, não nos entregueis ao opróbrio e ao escárnio das nações»” (Jl 2,12-18). O nosso profeta Jonas desafiou, no mesmo estilo, os habitantes de Nínive, a uma quarentena, para evitar o extermínio de toda a cidade. Pediu jejum e oração, como meios e sinais de conversão. E até o Rei se associou a este apelo, revestindo-se simbolicamente de um traje grosseiro, sentando-se sobre a cinzas (cf. Jn 3,1-10).

Creio que podemos acolher estes tempos de insegurança e precariedade, diante do “inimigo” que nos ameaça, como as verdadeiras cinzas, que impomos sobre a nossa vida, para assumirmos finalmente os nossos limites, atravessarmos os desertos do silêncio e da sobriedade, e assim nos encontrarmos e encaminharmos juntos em direção à luz fulgurante da Páscoa. Se acolhermos estas cinzas feitas de limites, renúncias, medos, cansaços, doença, sofrimento, morte, então poderemos entrar numa consciência maior, a de sermos envolvidos e responsáveis uns pelos outros. Esta é a base do viver civil e do viver cristão. Em cada um de nós está o traço de cada pessoa; em cada vida entram, de variadas maneiras, todas as vidas humanas.

É este, pois, um tempo favorável (cf. 2 Cor 6,2) para compreendermos como o contágio do vírus do pecado, isto é, do nosso egoísmo, da nossa indiferença em relação aos outros e da nossa distância em relação a Deus, não é menos contagioso e perigoso, no plano mais alto da nossa vida cristã, que o COVID-19. É agora mais fácil perceber como cada ação ou omissão pessoais têm sempre efeitos sociais. Por isso, até o mais escondido pecado pessoal é também e sempre um pecado social. Mudemos de vida. O mundo não muda se eu não mudar!

Gostaria que vivêssemos este tempo, não como um insuportável intervalo nas nossas vidas, mas como um tempo de graça, que nos revela, com clareza, as ambiguidades, os erros e pecados da nossa vida pessoal e comunitária, mas que também evidencia os sinais do amor humano-divino, que é sempre mais forte do que o pecado e a morte.

 

II. Reconheçamos os sinais da nossa desordem

A globalização, com particular evidência e violência, manifesta os sintomas profundos das suas graves anomalias. Colocámos de pé um sistema social onde a última palavra, no fim, parece ser dada ao negócio, e não ao bem comum, onde a política não tem força suficiente para fazer coisas óbvias. O inesperado vírus Wuhan perturba os hábitos de todos, do mundo rico em particular: despovoa as praças, deixa os aviões no chão, cria novos muros, obriga a diminuir as relações sociais no trabalho, na escola ou em clubes desportivos, refreia o comércio, aumenta o medo pessoal e coletivo, gera psicose, desencadeia a corrida para acumular alimentos, impede empresas de trabalhar a alta velocidade e provavelmente porá em risco tanta mobilidade. E assim por diante… basta abrir qualquer site de informações para inventariar os danos do pequeno vírus.

 

III. Captemos os sinais da graça de Deus

Como em tudo, há males que vêm por bem. E precisamos de aprender a ler o que Deus escreve direito, por estas linhas tortas deste nosso tempo: não podemos viver transformando tudo em bens económicos. Em momentos como estes, damo-nos conta de que o rei capitalista vai nu, e que também se vive de contemplação, de beleza, de relações, de sapiência. Vivemos também de vidas doadas para curar os outros, como são aquelas destes heróis modernos que são os médicos e os enfermeiros, que sufocam o medo para dedicar-se com abnegação a quem está frágil e doente.

Eis uma série de pequenas-grandes melhorias do COVID19, que vale a pena reconhecer:

  1. O desenvolvimento de pesquisas médicas, que envolve investigadores e todo o mundo num esforço coletivo louvável.
  2. A abnegação de muitos trabalhadores, no campo da saúde, que saudamos e agradecemos.
  3. A moderação da linguagem e a superior qualidade do discurso das figuras públicas: políticos, atores, políticos, jornalistas e jogadores de futebol.
  4. A relativização da importância do espetáculo desportivo, que se tornou em tantos casos uma religião de substituição, com as suas «liturgias», os seus «deuses», os seus «papas» e as suas «catedrais».
  5. Uma desintoxicação do excesso da publicidade, que perde relevo e interesse, em favor da informação.
  6. O tratamento sério de assuntos que realmente interessam, na comunicação social. Não é tempo de conversa fiada.
  7. A intriga e a bisbilhotice diminuem em benefício do apelo e do testemunho.
  8. Governos e instituições estão finalmente a trabalhar de maneira concertada na luta contra as notícias falsas.
  9. Afrouxam os cordões das bolsas de muitas instituições económicas e financeiras em todo o mundo, percebendo-se que a vida vale mais que o lucro.
  10. E, por último, mas não menos importante, o humor está a crescer nos meios de comunicação e redes sociais e, acima de tudo, na autoironia. É um bom antídoto contra o medo.

 

IV. Aproveitemos uma dúzia de oportunidades virtuosas

Sugiro aos meus paroquianos algumas oportunidades virtuosas, decorrentes da atual pandemia, para a vivência desta Quaresma de 2020:

  1. Exercitemos a virtude pessoal da humildade, reconhecendo que não sou omnipotente nem superior às forças da natureza, vencendo a presunção de que não sou mais imune e mais civilizado que todos os outros. A minha existência não depende apenas de mim; não sou eu o dono da vida. Basta um vírus para a colocar em risco.
  2. Cultivemos a humildade científica e tecnológica, perante os seus grandes progressos, que são dons a cultivar e a agradecer, mas não são deuses a adorar. A saúde e o bom funcionamento, hoje, das células do meu corpo são um dom a redescobrir; nada é dado como adquirido ou devido. O que nos salva, pois, não é o poder económico, ou o progresso da ciência ou as maravilhas da técnica, mas sim o amor de uns pelos outros.
  3. Ponhamos em prática uma fraternidade solidária, como antivírus contra a superficialidade, a indiferença, a autossuficiência e o narcisismo, que tantas vezes me fazem pôr a mim próprio no centro de tudo; e por isso mesmo, esquecendo que tudo é dom. Isto implica redescobrir os outros como irmãos, conscientes de que todos dependemos de todos. Percebemos como o curso normal da vida depende de tantas relações sociais ocultas. Afinal ninguém se basta a si próprio e, nesta barca, do mundo globalizado em que vivemos, ninguém se salva sozinho. Todos somos responsáveis pela bem de todos.
  4. Valorizemos a família e a nossa casa como lugares mais seguros. O facto de se passar mais tempo ‘em casa’, neste “recolher obrigatório” não é necessariamente uma penitência e pode ser uma bênção. Aprofundemos a qualidade do diálogo e da presença em família. Mantenhamo-nos em contacto com os ausentes, os emigrantes, os distantes, os doentes, os idosos, em nossa casa, nos hospitais e lares. São estes que mais sofrem as medidas de contenção da propagação do vírus.
  5. Redescubramos a importância dos afetos, com aqueles que nos são mais próximos, com os que partilham a mesma casa, o mesmo meio de transporte, o mesmo espaço de trabalho. A solidão forçada ensina-nos o valor e o preço das relações humanas. A imposta distância superior a um metro revela-nos a beleza e a nostalgia das distâncias breves.
  6. Eduquemo-nos para uma certa abstinência dos afetos, corrigindo os excessos e a banalização de alguns gestos, como os beijos e abraços. Isto pode ajudar-nos a valorizar a importância de uma gestualidade comunicativa autêntica, de uma comunicação não verbal, que também vive e convive a partir do silêncio, da discrição, e até de um simples olhar atento.
  7. Optemos por um estilo de vida mais sóbrio, menos focado no consumo, mais centrado no essencial. Nem só de pão, vive o Homem e muito menos vive da moda, dos corantes e conservantes e de produtos açucarados ou manipulados.
  8. Libertemo-nos do desejo alienante de uma vida vivida em regime de diversão contínua. É uma boa oportunidade para corrigir um certo estilo de vida pagã, que se contenta com “pão” na mesa e “circo” na praça.
  9. Redescubramos a beleza e a riqueza da leitura, também da Bíblia ou da meditação diária do Evangelho, para desenvolver a abertura do coração a Deus e o encontro pessoal com Cristo.
  10. Aprendamos a fazer do nosso “quarto” lugar e aposento de oração, aproveitando esta oportunidade para rezarmos um pouco mais, e a sós, para meditarmos, para exercitarmos a oração do coração, para além da recitação das orações feitas de cor e rezadas nas nossas Igrejas. Este é o momento de cada um reentrar em si, de voltar à interioridade, ao seu coração, que se abre diante do mistério da vida e do mistério de Deus. Ao lavar as mãos, por exemplo, rezemos o Pai-Nosso, purifiquemos o nosso coração, dizendo estas ou palavras semelhantes: “lavai-me, Senhor, de toda a iniquidade e purificai-me de todo o pecado” (Sl 50,2).
  11. Façamos da nossa casa uma “casa de oração” e da nossa família uma verdadeira “Igreja Doméstica”. Se não pudermos participar na Eucaristia, para nos protegermos a nós e aos outros do contágio do Maligno, podemos viver este “jejum” para despertar em nós a nossa fome do Pão da Vida. Se não podemos adorar no Templo, aproveitemos para o fazer, a partir do mais íntimo de nós mesmos, “em espírito e em verdade” (Jo 4,23). Não deixemos passar o nosso Domingo “vazio de Deus”. Abençoemos a mesa, com uma breve oração. Se pudermos, ao domingo, rezemos um pouco mais em família. E por que não sentarmo-nos todos, em família, para acompanhar a transmissão da Missa pela TV ou pelas redes sociais?
  12. Vivamos mais a graça do tempo presente, sem querer controlar absolutamente tudo; façamos tudo como se tudo dependesse de nós e confiemos tudo às mãos de Deus, como se tudo dependesse d’Ele.

 

Tenho muito claro para mim: quem não aproveitar esta inesperada Quaresma de 2020 certamente não aproveitará Quaresma nenhuma da sua vida. Porque esta é mesmo Quaresma. É uma Quaresma para todos, crentes e não crentes. Pelo que agora sim, “todos aqui renasce(re)mos”.

 

V. Oremos

Finalmente, proponho-vos a recitação diária desta prece, sugerida pelo Papa Francisco a Nossa Senhora, entre nós invocada como Senhora da Hora, de todas as horas e desta hora especialmente. Não nos cansemos de rezar.

Ó Maria,
Nossa Senhora da Hora:
Tu resplandeces sempre no nosso caminho
como sinal de salvação e de esperança.

Confiamo-nos a Ti, saúde dos enfermos,
que junto da Cruz foste associada à dor de Jesus,
mantendo firme a tua fé.

Tu, Salvação do Povo de Deus,
sabes bem do que mais precisamos
e estamos seguros de que proverás
para que, tal como em Caná da Galileia,
possa voltar a alegria e a festa
depois deste momento de provação.

Ajuda-nos, Mãe do Divino Amor,
a conformar-nos com a vontade do Pai
e a fazer aquilo que Jesus nos disser,
Ele que tomou sobre si os nossos sofrimentos
e carregou as nossas dores
para nos conduzir, por meio da cruz,
à glória da Ressurreição. Ámen

À Vossa proteção nos acolhemos,
Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas,
nós que estamos na provação,
e livrai-nos de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita!

Padre Amaro Gonçalo Ferreira Lopes
Senhora da Hora, 12 de março de 2020

Todos baptizados, todos enviados

Todos baptizados, todos enviados

Há 16 anos consecutivos que os catequistas da Comunidade Católica de Língua Portuguesa se encontram para uma Jornada anual de Formação. A Jornada acontece habitualmente no último domingo de Setembro, ao início do ano pastoral.

Na sequência do ano passado, dedicado à vocação do catequista, vamos celebrar a Jornada 2019 centrados especialmente na missão do leigo catequista. A razão prende-se com a convocação dirigida a toda Igreja pelo Papa Francisco para a vivência, em Outubro próximo, de um mês missionário em todas as comunidades do mundo.

No domingo, 29 de Setembro de 2019, vão reunir-se na Casa das Irmãs Franciscanas na cidade do Luxemburgo cerca de 60 catequistas – jovens e adultos – das várias comunidades do país onde se ministra o catecismo em língua portuguesa. Foi convidado o leigo Sérgio Lopes, emigrante no Reino Unido, para orientar os trabalhos, este ano sob o tema “ A pedagogia de Jesus na Missão : métodos e dinâmicas”.

A Jornada começa pelas 8,30h, para terminar com a celebração da Eucaristia Dominical pelas 17h na igreja Sacré-Coeur da capital. Durante a missa os catequistas vão receber o mandato missionário para mais um ano de ministério laical exercido ao serviço da “transmissão da fé” aos mais novos – crianças e jovens – na comunidade cristã.

Informe-se junto da Comunidade lusófona mais perto de si para efectuar a sua inscrição.

RP

 

Migrações: Está a faltar o dever de «fraternidade e humanidade» no auxílio aos refugiados

Migrações: Está a faltar o dever de «fraternidade e humanidade» no auxílio aos refugiados

 

Lisboa, 12 jul 2019 (Ecclesia) – A professora e investigadora sobre Migrações Maria Beatriz Rocha Trindade disse hoje que se está a faltar à “obrigatoriedade de humanidade, de fraternidade” com os refugiados, numa prática que deveria “ultrapassar as leis e decisões” nacionais.

“Os refugiados, o assunto é tomado pelas Nações Unidas depois de 1951, depois da II Grande Guerra Mundial, existe uma obrigatoriedade de humanidade, de fraternidade, de receber e de inserir, que ultrapassa as leis e as decisões do próprio país. Constitui uma obrigação, mas infelizmente assim não é na prática”, afirma a investigadora em entrevista à Agência ECCLESIA e à Renascença.

A acompanhar o fenómeno migratório há largas décadas, tendo fundado há 25 anos o Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais e autora de vasta bibliografia sobre o tema, a professora catedrática afirma a “criminalização da solidariedade” e o retrocesso civilizacional a que assistimos.

“Basta ver os nacionalismos que ganham suporte graças aos líderes desses movimentos que atacam justamente a receção, dizendo sempre que é em função da legalidade”, suporta.

Lamenta a investigadora que a “apetência” por Portugal como país de destino não corresponda, depois, ao acolhimento registado.

A socióloga e primeira antropóloga portuguesa destaca a ação “pioneira” da Igreja católica no auxílio aos emigrantes e às comunidades portuguesas na diáspora, “não de agora, mas desde sempre”, nas respostas que deu através das chamadas missões católicas, antecedendo até o papel do Estado.

“Eu acho que a Igreja é sempre um espaço de grande apoio mas são poucos os elementos para poder atender um público tão vasto”, indica.

A Igreja, diz, “não poderá fazer muito mais do que se esforça objetivamente por fazer, tentando dar apoio aos católicos e aos não católicos”.

“É um apoio aos humanos, é um apoio de solidariedade, de ouvir mais do que impor, e isto cada vez mais acho, que a atitude; é uma atitude de abertura e de diálogo, insisto, e não de exigência ou de imposição. Eu acho que é preciso também um olhar de justiça e não um permanente olhar de crítica, como é hábito ser feito muitas vezes”, afirma.

Em junho de 2012, em parceria com a atual diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Eugénia Quaresma, Maria Beatriz realizou um trabalho de investigação sobre os 50 anos deste serviço da Igreja católica.

“Apercebemo-nos que a Igreja sempre tinha procurado atender à mobilidade, desde a forma como interpretava e exprimia os conceitos, como se dirigia ao público-alvo para quem era realizada essa prática, às pessoas que deslocou, à forma como recebeu em Portugal, tentando integrar nos locais de origem os padres, das paróquias onde viviam os nossos emigrantes, todo um conjunto de práticas e interpretações que estiveram à frente do Estado”, sublinha.

A prática religiosa e a fé constituem para os emigrantes um “pilar” mas também uma “catálise de reencontros”.

“A fé é um pilar, mas também é uma catálise de reencontros, de reapropriação de tudo o que era seu, e que assim permanece como sendo seu, e por outro lado também é uma ponte de adaptação”, indica.

A investigadora e titular da Ordre National du Mérite, de França, com o grau de Chevalier, e da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, de Portugal, indica que o tempo e o espaço ajudam a analisar o fenómeno e a combater generalizações.

“A mobilidade que não pode ser traduzida por números mas que tem de ser olhada com um olhar de solidariedade, fraternidade, um olhar de homem para homem, de mulher para mulher, um olhar com uma certa compreensão que não se pode limitar unicamente à deslocação mas que tem de ser situada num contexto, naturalmente, económico e social, que produz essa mobilidade”, adverte.

Contra a generalização “que não corresponde à verdade”, Maria Beatriz Rocha Trindade esclarece que a emigração “de licenciados e formados” representa uma pequena parte no fenómeno português e que “muita mão-de-obra não qualificada” continua a sair.

Ainda sobre a importante reflexão e formação que a sociedade portuguesa necessita fazer no âmbito das migrações, a investigadora deu conta de um projeto apresentado à Unesco para uma Cátedra sobre Mobilidade e Direitos humanos, projeto este que viu anulado em janeiro deste ano.

Maria Beatriz Rocha Trindade destaca a importante formação que a sociedade portuguesa beneficiaria.

“Foi um projeto que nós construímos, com o propósito de modificar, tanto quanto possível, não tudo, mas os segmentos da sociedade em que pudéssemos atingir, e por algo que ninguém percebe não foi levado para a frente”, lamenta.

Ângela Roque (Renascença) e Lígia Silveira (Agência ECCLESIA)

LS

Migrações: Está a faltar o dever de «fraternidade e humanidade» no auxílio aos refugiados (c/áudio)