O monstro

A Cáritas Portuguesa e a Rádio Renascença, duas instituições ligadas à Igreja Católica que deveriam merecer de todos nós um carinho especial, pelo seu valioso contributo em favor da sociedade portuguesa, estão prestes a atingir a etapa dos dois milhões e meio de euros para as vítimas dos incêndios florestais, se é que já a não atingiram. O pior vai ser agora, isto é, a fase de fazer chegar o dinheiro aos que precisam. Tudo por causa do monstro da burocracia.

Eugénio da Fonseca, presidente nacional da Cáritas, depois de enaltecer a grande manifestação de generosidade dos portugueses, denuncia, em declarações à ECCLESIA, “o dogma nacional que é a burocracia”, sublinhando que, “neste país, não se consegue realizar nenhuma acção que não tenha que ser carregada desse monstro”.

Para aquele dirigente, trata-se de um monstro “paralisante”, porque “as actividades poderiam ser mais céleres”, em prol de quem tanto sofreu e continua a sofrer. E embora reconheça que a organi-zação é necessária, ela não é, nem pode ser, “si-nónimo de burocratização”.

Mostrando disponibilidade da Cáritas para fazer parceria com as equipas que estão no terreno, refere que a des-culpa dada para que se evitem “situações de fraude” nem sempre convence. Nessa linha, defende que seria preferível trabalhar “na base da confiança”, avaliando e fiscalizando as acções realizadas, e só depois “pedir responsabilidades”.

No entanto, lembra que a Cáritas, “felizmente, não está sujeita a estas regras” que a máquina do Estado impõe, mas não deixa de dizer que “o monstro” está sempre presente. “Não podemos fazer construções de casas sem termos a garantia de que a autarquia aceita o projecto e fiscaliza a estabilidade da casa”, frisa Eugénio da Fonseca.

F.M.