Jul 10, 2018 | Documentos, PAR, Refugiados
A PAR emitiu um comunicado sobre a situação dos refugiados e migrantes forçados da Venezuela, convocando à solidariedade para com quem está a viver esta experiência:
Portugal deve ser solidário também com os refugiados e migrantes venezuelanos.
- Em Portugal, a atenção às questões referentes a refugiados e a migrantes forçados tem estado concentrada na crise do Mediterrâneo. Sem prejuízo de merecer uma intervenção prioritária e solidária no quadro europeu, da qual a PAR tem sido parte integrante, não é só a essa situação que devemos responder. Noutros contextos geográficos estão em curso crises muito graves que exigem também a nossa atenção.
- Nos últimos anos tem-se vindo a agravar a situação de êxodo de cidadãos venezuelanos que, por vários motivos, se veem obrigados a sair do seu país. Atualmente, segundo a Organização Internacional das Migrações, este número ascende a 1,6 milhões de pessoas que procuraram refúgio noutros países, nomeadamente nos países vizinhos ou em países com os quais exista algum vínculo especial (p.e. por via de fluxos migratórios). Esta dimensão migratória configura uma crise humanitária relevante a que o mundo não pode ser indiferente.
- Portugal tem para com o povo venezuelano uma dívida de gratidão. Durante décadas, a Venezuela foi terra de acolhimento para emigrantes portugueses que procuravam melhores condições de vida. Agora que as circunstâncias obrigam a que sejam os venezuelanos a terem de emigrar, Portugal deve estar na primeira linha da solidariedade para com eles, acolhendo-os e apoiando-os, na medida das suas possibilidades.
- De uma forma particularmente relevante, deve ser tido em conta que ainda se encontram na Venezuela mais de 50.000 emigrantes portugueses em situação particularmente precária. Nos últimos meses têm chegado a Portugal, nomeadamente à Região Autónoma da Madeira, vários milhares de emigrantes regressados da Venezuela, com todas as dificuldades próprias de um regresso forçado e, muitas vezes, com limitações significativas de recursos e de redes de apoio para recomeçar a sua vida, sem prejuízo do esforço que tem sido feito pelas autoridades regionais da Madeira, do governo central e de organizações da sociedade civil como a Cáritas.
- Não podemos, por isso, ignorar a responsabilidade muito particular para com estes nossos compatriotas residentes na Venezuela que possam ser obrigados a regressar a Portugal. Se essa for a sua opção, aqui devem ser recebidos com todos os direitos inerentes à cidadania portuguesa e com a solidariedade que lhes é devida nestas circunstâncias tão difíceis.
- Nos últimos anos, a PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados, como rede da sociedade civil portuguesa, mobilizou-se para acolher refugiados, através do programa de recolocação coordenada pela União Europeia. É tempo de alargar o campo de ação e colocar na agenda a questão do apoio e acolhimento dos emigrantes portugueses regressados e dos cidadãos venezuelanos, migrantes forçados que se veem obrigados a sair da Venezuela.
- A PAR associa-se ao esforço do Estado Português, que deve ser claramente reforçado sem hesitação, para que Portugal possa estar na primeira linha, quer do acolhimento e apoio aos emigrantes portugueses forçados a regressar da Venezuela, quer no acolhimento de cidadãos venezuelanos que foram obrigados a sair do seu país. Deve fazê-lo, naturalmente, através de abordagens distintas, decorrentes do estatuto específico de cada perfil.
- Nesse contexto, a PAR disponibiliza-se para cooperar com o governo português e com o governo regional da Madeira, bem como com as organizações internacionais da área das migrações e refugiados, na resposta de acolhimento e apoio, salientando que essa responsabilidade deve ser nacional e não exclusiva da Região Autónoma da Madeira.
- A experiência da sociedade civil na rede de acolhimento de refugiados da PAR pode ser colocada ao serviço do acolhimento e apoio à integração de compatriotas que necessitem de apoio no regresso e de cidadãos venezuelanos que solicitem acolhimento temporário em Portugal.
- A PAR defende que o governo português desenvolva, no que se refere aos cidadãos venezuelanos em busca de proteção humanitária, as diligências necessárias para que esta realidade de proteção humanitária de emergência seja considerada no âmbito europeu dos processos de reinstalação, com os apoios inerentes em situações congéneres. Defendemos que parte do contingente que Portugal se disponibilizou a acolher (cerca de 1010 pessoas) seja preenchido por refugiados venezuelanos que se encontram em países de trânsito como a Colômbia ou o Brasil, sob proteção do ACNUR, e que queriam beneficiar de acolhimento em Portugal.
- A PAR defende ainda que, complementarmente, no âmbito do incremento do acolhimento de migrantes que o atual Governo indicou como prioritário, se crie uma linha específica para atribuição de vistos a cidadãos venezuelanos que o venham a solicitar nos consulados portugueses dos países vizinhos da Venezuela, nomeadamente na Colômbia e no Brasil.
iComunicado PAR Venezuela
Jun 20, 2018 | Documentos, FORCIM, Notícias
Por ocasião do Dia Mundial do Refugiado, que se assinala a 20 de junho, o Fórum de Organizações Católicas para a Imigração (FORCIM) torna público o seu Manifesto sobre os Pactos Globais das Nações Unidas sobre os Refugiados e para as Migrações Seguras, Ordenadas e Regulares, que poderá ser consultado aqui MANIFESTO SOBRE PACTOS GLOBAIS SOBRE REFUGIADOS E PARA AS MIGRAÇÕES_FINAL
Este Manifesto surge como resposta ao apelo do Papa Francisco de se chamar a atenção dos Governos, especificamente dos responsáveis pelas negociações relativas aos Pactos Globais, sobre considerações particularmente pertinentes que fomentem uma solidariedade mais concreta para com os migrantes e refugiados.
Partindo dos quatro verbos de ação – acolher, promover, proteger e integrar – pretende-se chamar a atenção sobre os princípios que devem estar assegurados nos Pactos Globais para que estes estejam orientados, acima de qualquer outro interesse e intuito, para o bem comum e centrados na integridade e dignidade da pessoa, contemplando a visão de uma só família humana, que habita uma Casa Comum.
Convidamos outras organizações ou instituições comprometidas com a proteção e defesa das necessidades e interesses de migrantes e refugiados a subscrever este Manifesto (entrando em contacto com a nossa organização).
Jun 14, 2018 | Artigo, Documentos, espiritualidade, Recortes
Uma vida aventurosa no rasto do Evangelho e em grande sintonia com Francisco de Assis, que conheceu pessoalmente. Infinitas viagens pela Europa, da natal Lisboa até à última etapa em Pádua. E encontros, muito estudo, meditações, orações, pregações (nas quais era um verdadeiro mestre), caridade.
Santo António (Lisboa, 1195 – Pádua, 1231) é certamente uma das figuras mais veneradas do catolicismo. Em cada canto da Europa e em numerosas localidades do mundo surgem igrejas e santuários dedicadas ao frade franciscano, a ele se elevam súplicas, contam-se os seus milagres.
Hoje, em Pádua, um cortejo histórico com mais de 150 figurantes, que remonta a 1931, sétimo centenário da morte, recorda as últimas horas de vida do santo, culminando com o concerto dos sinos que anuncia o início das celebrações solenes do 13 de junho.
É reconhecido como protetor dos pobres, dos oprimidos, das grávidas, dos prisioneiros, dos viajantes e dos náufragos, e também dos animais. A festa litúrgica de 13 de junho é ocasião para dirigir orações e pedidos de ajuda ao “lírio-cândido”, um dos seus múltiplos símbolos. Entrevista ao diretor editorial das Edições Messaggero Padova, Fabio Scarsato, frade menor conventual.
Quais são hoje, em síntese, os contornos e as particularidades da devoção a Santo António?
Creio que a devoção de muitas pessoas que ainda encontram em António um ponto de referência pode definir-se como uma espécie de milagre, porque foi capaz de evoluir no tempo. Passou-se de uma devoção baseada apenas nos milagres a uma em que as pessoas veem em António um estilo de vida, a ideia de que é possível para cada um de nós encontrar o caminho para uma santidade quotidiana.
Outra coisa que me toca, e que pode parecer paradoxal, é que António foi um apurado exegeta e um grande teólogo, mas o seu público de referência, chamando-o assim, foi sempre, e continua a ser hoje, formado sobretudo por gente simples.
Qual é a geografia desta devoção?
Há muitos lugares ligados à figura de António: a partir de Lisboa, onde nasceu, ou Coimbra, sempre em Portugal, onde se fez monge agostinho; mas há também um santuário em França ou o de Samposampiero, próximo de Pádua. Mas o que é impressionante, e digo-o por experiência direta, é que para além destes lugares históricos é difícil encontrar no mundo uma igreja onde não haja uma estátua, um ex-voto ou uma imagem de António ou quaisquer tradições ligadas a ele, por exemplo com referência à caridade e ao famoso “pão de Santo António”.
Pela sua biografia, António foi um verdadeiro “santo europeu”: o que é que diz hoje a um Velho Continente algo perdido?
Seria quase demasiado fácil ou retórico fazer atualizações. Mas é assim, é inútil negá-lo. António fala-nos de uma Europa que seguramente tinha fronteiras diferentes das nossas, mas era um continente que podia ser “caminhado” de um lado ao outro e que se misturava. António parte de Portugal, chega a Itália, depois passa um período em França…
Era uma Europa em que, de certa forma, onde quer que estivesses, sentias-te em casa, sentias-te cidadão. Sentias que havia um espaço para ti. António, por exemplo, trouxe para a Itália uma importante cultura teológica e enriqueceu o franciscanismo. É nesta mistura que, de certa maneira, todos ganham e todos podem dar passos em frente. Parece-me ser esta a bela ideia de cidadania que António nos dá. Depois há um episódio muito significativo.
Qual?
O naufrágio nas costas da Sicília, no regresso de Marrocos. É um facto que há contornos históricos que não são precisos, mas não há dúvida de que aconteceu, e é um facto que tem uma atualidade fortíssima. António, a certo ponto da sua vida, é um náufrago, mas vive a experiência do acolhimento dos seus confrades. A mim agrada-me a ideia de que se possa naufragar em qualquer lado onde não se conhece pessoalmente ninguém, sabendo que haverá alguém que te acolherá. E hoje esta experiência é cada vez mais rara.
Gianni Borsa/SIR
Trad./edição: SNPC
Publicado em 12.06.2018
http://www.snpcultura.org/santo_antonio_quando_ser_naufrago_era_ter_a_certeza_de_ser_acolhido.html
Abr 30, 2018 | Conferência Episcopal Portuguesa, Documentos, Lusofonia
- Estivemos reunidos na Cidade de Praia (Cabo Verde) de 27 a 29 de abril de 2018 no XIII Encontro de Bispos dos Países Lusófonos (EBPL), para partilhar as realidades sociais e eclesiais, tendo como tema principal «Os Jovens na Igreja: presença efetiva e transformadora»:
- de Angola, D. Filomeno Vieira Dias, Arcebispo de Luanda e Presidente da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST), e D. António Jaca, Bispo nomeado de Benguela e Secretário da CEAST;
- do Brasil, Cardeal D. Sérgio da Rocha, Arcebispo de Brasília e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e Murilo Sebastião Krieger, Arcebispo de São Salvador da Bahia e Vice-Presidente da CNBB;
- de Cabo Verde, Cardeal D. Arlindo Gomes Furtado, Bispo de Santiago, D. Ildo Fortes, Bispo de Mindelo, e padres João Augusto Mendes Martins e Edson Bettencourt, respetivamente Vigário Geral e Chanceler da Diocese de Santiago;
- da Guiné Bissau, D. Pedro Carlos Zilli, Bispo de Bafatá, e D. José Lampra Cá, Bispo auxiliar de Bissau;
- de Moçambique, D. Francisco Chimoio, Arcebispo de Maputo e Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM);
- de Portugal, Cardeal D. Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), P. Manuel Barbosa, Secretário da CEP, e Dr. Jorge Líbano Monteiro, Presidente da Fundação Fé e Cooperação (FEC);
- de S. Tomé e Príncipe, D. Manuel António dos Santos, Bispo de S. Tomé e Príncipe.
- Arlindo Gomes Furtado iniciou os trabalhos com a invocação do Espírito Santo, reforçou a relevância destes encontros e saudou todos os participantes, que confirmaram o Regulamento Interno do EBPL e a agenda desta reunião.
- A partir da nossa partilha sobre situações e desafios sociais e eclesiais de cada país, apresentamos algumas constatações e desafios comuns:
- Verificamos que nos nossos países a Igreja se manteve fiel à sua missão profética de procura de caminhos comuns através do diálogo e da afirmação pública das suas convicções, contribuindo para uma sociedade democrática que defenda a dignidade humana, a paz e o bem comum.
- Denunciamos a mentalidade individualista e consumista que contraria perspetivas de futuro para os jovens como a falta de emprego e incentivamos projetos que apoiem de modo criativo a sua integração no mundo empresarial e laboral.
- Valorizamos a simplificação da concessão de vistos nalguns países, que facilita a livre circulação de pessoas e bens, e esperamos que esse processo se possa estender a todos os países lusófonos, promovendo assim uma verdadeira comunidade de pessoas.
- Constatamos a dificuldade das famílias viverem a sua vocação cristã e a sua decisiva importância para a sociedade e para a construção da comunidade cristã, e sentimos a urgência de acompanhar cada vez mais as famílias na sua realidade, através da nossa ação pastoral de acordo com a Exortação Apostólica Amoris Laetitiae em colaboração efetiva com movimentos de famílias.
- Saudamos o reinício da emissão nacional da Rádio Ecclesia em Angola e reforçamos a importância da liberdade de imprensa para a consolidação de uma sociedade plural e democrática.
- Verificamos significativos aumentos de vocações sacerdotais nas diferentes Igrejas lusófonas, como sinal da sua vitalidade.
- No seguimento do último encontro, partilhámos as implicações, aprendizagens e ações pastorais da Encíclica Laudato Si’do Papa Francisco sobre a ecologia e o cuidado pela nossa casa comum. Verificamos uma maior consciência das nossas comunidades pela ecologia integral e a existência de inúmeros projetos em curso, em que destacamos a criação da «Floresta Laudato Si’» em Angola pela CEAST, com a plantação de milhares de árvores para travar o avanço do deserto.
- Refletimos sobre «os Jovens na Igreja: presença efetiva e transformadora», em ligação com o processo de preparação da próxima Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre «os jovens, a fé o discernimento vocacional». Escutámos a realidade dos jovens nos diferentes países, salientando as boas práticas pastorais com os jovens, a realização de jornadas mundiais, diocesanas e nacionais de juventude, as iniciativas de voluntariado missionário, campos de férias e movimentos que acompanhem os jovens nas suas realidades quotidianas. Reforçámos a importância decisiva das famílias para o desenvolvimento dos jovens e a necessidade de potenciar a comunidade cristã como família de famílias.
- Propomos unanimemente que a língua portuguesa, a quinta língua do mundo falada por 260 milhões de pessoas, seja utilizada como língua oficialnas assembleias gerais do Sínodo dos Bispos.
- Acolhemos Martin Brockelman Simon, que nos apresentou a realidade e as propostas da Misereorna luta contra a pobreza na África, Ásia e América Latina, focando particularmente as problemáticas dos refugiados, migrantes e tráfico de pessoas. Fomos ainda informados das declarações finais, quer do IX Fórum das Cáritas dos Países Lusófonos, que decorreu em Cabo Verde em outubro de 2017 sobre o tema «Fome e Desigualdades, o compromisso da Cáritas nos processos social e económico desses países», quer do Encontro de 43 países da Região África da Cáritas Internacional, que decorreu em Dakar em setembro de 2017 sobre o tema «Organizando o serviço caritativo em África: o papel dos Bispos».
- Manifestamos a nossa gratidão e congratulação pela celebração, em 2017, do Centenário das Apariçõesde Nossa Senhora em Fátima, que culminou com a canonização de Francisco e Jacinta Marto pelo Papa Francisco em Fátima, dos 300 anos do encontro da Imagem de Nossa Senhora Aparecida no Brasil, dos 50 anos de existência da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e da Conferência Episcopal Portuguesa e dos 40 anos da Diocese de Bissau.
- «Os desafios da Igreja à Sociedade» foi o tema da sessão pública que decorreu no salão do centro paroquial Nossa Senhora da Graça e teve D. Manuel Clemente, D. Sérgio Rocha e D. António Jaca como intervenientes. Em atitude de reciprocidade, a Igreja propõe os valores evangélicos concretizados nos quatro grandes princípios da doutrina social da Igreja: dignidade da pessoa humana, bem comum, subsidiariedade e solidariedade; os mesmos princípios que a sociedade espera que sejam vividos com coerência pelos cristãos. Entre os vários campos de atuação desta implicação recíproca, foram referidos os seguintes: o estilo de vida dos jovens cristãos, participando com coerência nos espaços da vida social e eclesial; o cuidado da ecologia e da casa comum, assumido com responsabilidade a nível pessoal e dos poderes públicos; a convivência respeitosa e pacífica entre as pessoas, incentivando uma cultura do diálogo, da fraternidade e da paz; a defesa intransigente da vida, da dignidade humana e da família, através de leis que protejam a vida e a família; a luta contra a corrupção, o tráfico e a escravatura de pessoas, a ideologia do género, a eutanásia e tudo quanto não dignifica a pessoa; a promoção da presença da mulher na Igreja e na sociedade.
- Tivemos uma audiência na Assembleia Nacional de Cabo Verde com o seu Presidente, e Presidente da República em exercício, Eng. Jorge Santos, de quem recebemos palavras de reconhecimento e incentivo à presença da Igreja neste país.
Visitámos o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, onde tomámos conhecimento da sua atividade, e a Cidade Velha, Património Mundial da Humanidade, onde relembrámos a ação missionária e cultural da Igreja em Cabo Verde.
- Em comunhão com a Igreja local e seus pastores, celebrámos a Eucaristia dominicalna Catedral de Nossa Senhora da Graça, agradecendo ao Cardeal Arlindo Gomes Furtado o excelente acolhimento ao longo deste encontro.
- O XIV Encontro de Bispos dos Países Lusófonosvai decorrer na Guiné-Bissau, de 16 a 19 de janeiro de 2020, cabendo desde já aos Bispos deste país assegurar a presidência do EBPL até à sua realização, em coordenação com a Fundação Fé e Cooperação (FEC).
Cidade da Praia, Cabo Verde, 29 de abril de 2018
Abr 16, 2018 | Conferência Episcopal Portuguesa, Documentos, Orientações Pastorais
Nota Pastoral da CEP
Acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugiados – um compromisso para os pactos globais
Na mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado de 2018, que ocorreu a 14 de janeiro, o Papa Francisco pedia à Igreja e à sociedade civil para desenvolver uma ação clara em prol dos migrantes, refugiados e vítimas de tráfico humano. Pedia também aos Estados membros da ONU, empenhados num Pacto Global, que enfrentassem a questão migratória, propondo medidas de acolhimento, de proteção, de promoção e de integração destes irmãos nossos que batem às nossas portas, fugidos à fome, à guerra e à perseguição.
Mas, antes de tudo, é necessário admitir o princípio da mobilidade como uma das características das sociedades modernas e integrá-la na legislação de cada país, para que isso aconteça de modo ordenado, legal e seguro.
Temos conhecimento que em Portugal muitas empresas cumprem as suas obrigações sociais com trabalhadores estrangeiros, mas não podemos ficar insensíveis a alguns atropelos que acontecem não apenas noutros países, mas também no nosso, como o trabalho sazonal, sobretudo na agricultura, realizado por pessoas de outras origens e culturas, sem lhes reconhecer os direitos a trabalho humano, remuneração justa, habitação digna, alimentação capaz, segurança social e saúde pública. Ainda pior quando são vítimas de intermediários sem consciência, que lhes confiscam os documentos, parte do salário e ameaçam os seus familiares nos países de proveniência. Algo semelhante acontece com ‘empresas’ que recrutam mão-de-obra em Portugal para trabalhar no estrangeiro, prometendo condições vantajosas que depois não se verificam.
Acerca dos migrantes e refugiados, não podemos deixar de salientar o esforço que tem sido desenvolvido em Portugal no sentido de maior capacidade de acolhimento. É de realçar todo o trabalho desenvolvido pela PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados. Todavia, com base nas quatro ações sugeridas (acolhimento, proteção, promoção e integração), propomos algumas medidas viáveis para ajudar a solucionar este problema global do nosso tempo.
- Acolher em vez de devolver.
Sendo a mobilidade humana um fenómeno que caracteriza o nosso tempo e as nossas sociedades multiculturais e inter-religiosas, deverão os nossos responsáveis políticos, como os de outros Estados, procurar responder a este fenómeno, criando para isso legislação adequada para o seu acolhimento justo e digno, em vez de fecharem as fronteiras da Europa e devolverem estas pessoas a países terceiros, que, por sua vez, os repatriam para os seus países de origem, pobres e, muitas vezes, atingidos pela corrupção e pela guerra. Criar, para isso, corredores humanitários seguros, para evitar que sejam vítimas do tráfico de máfias sem escrúpulos, a quem unicamente interessa o dinheiro.
- Proteger e não apenas socorrer.
Muitas destas pessoas, esfomeadas, violadas e feridas, depois de um longo e penoso caminho por mares, desertos e montanhas, chegam até nós carentes de afeto e proteção, sobretudo os menores e as crianças sem familiares. Em conformidade com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, devem ser protegidas e defendidas, com acesso a cuidados de saúde e educação, de modo a que possam crescer e ter o amparo humano de que necessitam.
- Promover em vez de abandonar.
Os migrantes, os refugiados e as vítimas de tráfico humano devem ser apoiados de modo a que, conscientes dos seus direitos e deveres, se desenvolvam como pessoas reconhecidas na sua dignidade e situação de vida particular, participando ativamente na vida local, de modo a poderem dar o seu contributo pessoal e comunitário aos países onde vivem, sem esquecerem as suas origens, a cultura e o bem-estar dos seus familiares.
- Integrar em vez de empurrar para guetos.
Os migrantes contribuem para o desenvolvimento global, não apenas enquanto mão-de-obra produtiva, mas enquanto pessoas com um ‘capital’ de experiência de vida, riqueza cultural, religião, língua e costumes. Por isso precisamos de fomentar uma cultura de encontro e de diálogo, de modo a enriquecermo-nos mutuamente, em vez de os empurrar para guetos linguísticos, de culto, de etnias ou de cor, contribuindo para aumentar os focos de tensão e conflito, impedindo-os de se tornarem membros e cidadãos de pleno direito das nossas sociedades e comunidades.
É um longo e complexo processo, já em curso também em Portugal, mas será o único capaz de fazer do fenómeno da mobilidade um fator de enriquecimento harmónico do mundo global em que vivemos, tornando os nossos ambientes, marcados pela mobilidade, mais pacíficos, dialogantes e integradores.
Confiamos na boa vontade e no sentido de justiça dos nossos legisladores e fazemos apelo aos responsáveis do Governo a que continuem a desenvolver medidas de acolhimento e integração dos migrantes, dos refugiados e das vítimas do tráfico humano e partilhem as boas práticas com os outros países no âmbito das Nações Unidas, para que o Pacto Global sobre as migrações internacionais e sobre os refugiados seja um enriquecimento para todo o mundo e assim se integre a mobilidade na realidade das nossas sociedades.
Esperamos também que na sociedade, nas instituições e nas comunidades cristãs das nossas Dioceses portuguesas se cultive o amor generoso que se traduza em acolhimento, proteção, promoção e integração dos que buscam, com verdade, sentido para a vida.
Fátima, 12 de abril de 2018
Jan 16, 2018 | Artigo, Documentos
Para assinalar o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que hoje se celebra, decorreu, nos dias 12 a 14 de janeiro de 2018, no Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em
Alfragide, sob organização conjunta da Agência Ecclesia, da Cáritas Portuguesa e da Obra Católica Portuguesa de Migrações, o XVIII Encontro de animadores sócio pastorais
das migrações subordinado ao tema “Partilhar a viagem: Acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugiados”.
Tendo em conta a temática e os objetivos deste Encontro, os participantes, num ambiente marcado por uma rica partilha de boas práticas relacionadas com os migrantes e
refugiados, assumem as seguintes conclusões:
– Reforçar a implementação da Campanha “Partilhar a Viagem”, promovida pela Caritas Internationalis, que decorrerá nos próximos dois anos, procurando incentivar
a população portuguesa a estreitar relações entre migrantes, refugiados e as comunidades locais;
– Suscitar iniciativas que ajudem o Papa Francisco a promover um dos seus maiores desígnios: a “cultura do encontro”;
– Contribuir para a construção dos dois Pactos Globais das Nações Unidas sobre Migrantes e Refugiados, esperando que venham a ser aprovados até ao final de 2018, responsabilizando toda a comunidade internacional na proteção dos direitos dos migrantes e refugiados;
– Conhecer a atuação das organizações da Igreja católica no âmbito das migrações, no seguimento do estudo iniciado pela Cáritas Portuguesa a nível da sua rede, pois, só assim se conseguirão potenciar sinergias para, de forma conjunta e concertada, responder às necessidades no terreno;
– Concretizar os apelos do Papa Francisco contidos nas Mensagens para o Dia Mundial da Paz e para o Dia do Migrante e do Refugiado, no sentido de: Acolher, Proteger, Promover e Integrar as pessoas em contexto de mobilidade, tal como foi demonstrado por doze experiências ao longo do encontro, nas relações familiares, no ambiente escolar, nas vivências das comunidades cristãs, no desenvolvimento integral da criança, no acesso ao trabalho em igualdade de oportunidades e na prática ativa da cidadania, incluindo a dimensão política; e
– Intensificar, junto das entidades competentes, os esforços que se têm vindo a fazer para que nada falte à proteção que é devida aos nossos compatriotas que se encontram a sofrer as consequências da situação atual na Venezuela.
Este Encontro deixou em todos a plena convicção de que, em qualquer circunstância da existência humana, também nós gostamos de ser acolhidos, protegidos, promovidos e
integrados. Será mais fácil isso acontecer se nos decidirmos a “Partilhar a Viagem”!
Descarregar PDF – XVIIIEncontroMigracoes_Conclusoes
Descarregar Programa – migracoes2018-01-12