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O que é amar um país

O que é amar um país

O que é amar um país – Cardeal D. José Tolentino Mendonça (c/ vídeo)

 

Agradeço ao senhor Presidente o convite para presidir à Comissão das comemorações do dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. Estas comemorações estavam para acontecer não só com outro formato, mas também noutro lugar, a Madeira. No poema inicial do seu livro intitulado Flash, o poeta Herberto Helder, ali nascido, recorda justamente «como pesa na água (…) a raiz de uma ilha». Gostaria de iniciar este discurso, que pensei como uma reflexão sobre as raízes, por saudar a raiz dessa ilha-arquipélago, também minha raiz, que desde há seis séculos se tornou uma das admiráveis entradas atlânticas de Portugal.

É uma bela tradição da nossa República esta de convidar um cidadão a tomar a palavra neste contexto solene para assim representar a comunidade de concidadãos que somos. É nessa condição, como mais um entre os dez milhões de portugueses, que hoje me dirijo às mulheres e aos homens do meu país, àquelas e àqueles que dia-a-dia o constroem, suscitam, amam e sonham, que dia-a-dia encarnam Portugal onde quer que Portugal seja: no território continental ou nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, no espaço físico nacional ou nas extensas redes da nossa diáspora.

Se interrogássemos cada um, provavelmente responderia que está apenas a cuidar da sua parte – a tratar do seu trabalho, da sua família; a cultivar as suas relações ou o seu território de vizinhança – mas é importante que se recorde que, cuidando das múltiplas partes, estamos juntos a edificar o todo. Cada português é uma expressão de Portugal e é chamado a sentir-se responsável por ele. Pois quando arquitetamos uma casa não podemos esquecer que, nesse momento, estamos também a construir a cidade. E quando pomos no mar a nossa embarcação não somos apenas responsáveis por ela, mas pelo inteiro oceano. Ou quando queremos interpretar a árvore não podemos esquecer que ela não viveria sem as raízes.

Camões e a arte do desconfinamento 

foto Arlindo Homem/AE, Dia de Portugal 2020 

Pensemos no contributo de Camões. Camões não nos deu só o poema. Se quisermos ser precisos, Camões deixou-nos em herança a poesia. Se, à distância destes quase quinhentos anos, continuamos a evocar coletivamente o seu nome, não é apenas porque nos ofereceu, em concreto, o mais extraordinário mapa mental do Portugal do seu tempo, mas também porque iniciou um inteiro povo nessa inultrapassável ciência de navegação interior que é a poesia. A poesia é um guia náutico perpétuo; é um tratado de marinhagem para a experiência oceânica que fazemos da vida; é uma cosmografia da alma. Isso explica, por exemplo, que Os Lusíadassejam, ao mesmo tempo, um livro que nos leva por mar até à India, mas que nos conduz por terra ainda mais longe: conduz-nos a nós próprios; conduz-nos, com uma lucidez veemente, a representações que nos definem como indivíduos e como nação; faz-nos aportar – e esse é o prodígio da grande literatura – àquela consciência última de nós mesmos, ao quinhão daquelas perguntas fundamentais de cujo confronto, um ser humano sobre a terra, não se pode isentar.

Se é verdade, como escreveu Wittgenstein, que «os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo», Camões desconfinou Portugal. A quem tivesse dúvidas sobre o papel central da cultura, das artes ou do pensamento na construção de um país bastaria recordar isso. Camões desconfinou Portugal no século XVI e continua a ser para a nossa época um preclaro mestre da arte do desconfinamento. Porque desconfinar não é simplesmente voltar a ocupar o espaço comunitário, mas é poder, sim, habitá-lo plenamente; poder modelá-lo de forma criativa, com forças e intensidades novas, como um exercício deliberado e comprometido de cidadania. Desconfinar é sentir-se protagonista e participante de um projeto mais amplo e em construção, que a todos diz respeito. É não conformar-se com os limites da linguagem, das ideias, dos modelos e do próprio tempo. Numa estação de tetos baixos, Camões é uma inspiração para ousar sonhos grandes. E isso é tanto mais decisivo numa época que não apenas nos confronta com múltiplas mudanças, mas sobretudo nos coloca no interior turbulento de uma mudança de época.

Que a crise nos encontre unidos

Gostaria de recordar aqui uma passagem do Canto Sexto d’Os Lusíadas, que celebra a chegada da expedição portuguesa à India. Os marinheiros, dependurados na gávea, avistam finalmente «terra alta pela proa» e passam notícia ao piloto que, por sua vez, a anuncia vibrante a Vasco da Gama. O objetivo da missão está assim cumprido. Mas o Canto Sexto tem uma exigente composição em antítese, à qual não podemos não prestar atenção. É que à visão do sonho concretizado não se chega sem atravessar uma dura experiência de crise, provocada por uma tempestade marítima que Camões sabiamente se empenha em descrever, com impressiva força plástica. Digo sabiamente, porque não há viagem sem tempestades. Não há demandas que não enfrentem a sua própria complexificação. Não há itinerário histórico sem crises. Isso vem-nos dito n’Os Lusíadas de Camões, mas também nas Metamorfoses de Ovídio, na Eneida de Virgílio, na Odisseia de Homero ou nos Evangelhos cristãos.

No itinerário de um país, cada geração é chamada a viver tempos bons e maus, épocas de fortuna e infelizmente também de infortúnio, horas de calmaria e travessias borrascosas. A história não é um continuum, mas é feita de maturações, deslocações, ruturas e recomeços. O importante a salvaguardar é que, como comunidade, nos encontremos unidos em torno à atualização dos valores humanos essenciais e capazes de lutar por eles.

Mas à observação realística que Camões faz da tempestade, gostaria de ir buscar um detalhe, na verdade uma palavra, para a reflexão que proponho: a palavra «raízes». Na estância 79, falando dos efeitos devastadores do vento, o poeta diz: «Quantas árvores velhas arrancaram/ Do vento bravo as fúrias indignadas/ As forçosas raízes não cuidaram/Que nunca para o Céu fossem viradas». A leitura da imagem em jogo é imediata: as velhas árvores reviradas ao contrário, arrancadas com violência ao solo, expõem dramaticamente, a céu aberto, as próprias raízes. A tempestade descrita por Camões recorda-nos, assim, a vulnerabilidade, com a qual temos sempre de fazer conta. As raízes, que julgamos inabaláveis, são também frágeis, sofrem os efeitos da turbulência da máquina do mundo. Não há super-países, como não há super-homens. Todos somos chamados a perseverar com realismo e diligência nas nossas forças e a tratar com sabedoria das nossas feridas, pois essa é a condição de tudo o que está sobre este mundo.

O que é amar um país

Foto Arlindo Homem/AE, Dia de Portugal 2020

O Dia de Portugal, e este Dia de Portugal de 2020 em concreto, oferece-nos a oportunidade de nos perguntarmos o que significa amar um país. A pensadora europeia Simone Weil, num instigante ensaio destinado a inspirar o renascimento da Europa sob os escombros da Segunda Grande Guerra, de cujo desfecho estamos agora a celebrar o 75º aniversário, escreveu o seguinte: um país pode ser amado por duas razões, e estas constituem, na verdade, dois amores distintos. Podemos amar um país idealmente, emoldurando-o para que permaneça fixo numa imagem de glória, e desejando que esta não se modifique jamais. Ou podemos amar um país como algo que, precisamente por estar colocado dentro da história, sujeito aos seus solavancos, está exposto a tantos riscos. São dois amores diferentes. Podemos amar pela força ou amar pela fragilidade. Mas, explica Simone Weil, quando é o reconhecimento da fragilidade a inflamar o nosso amor, a chama deste é muito mais pura.

O amor a um país, ao nosso país, pede-nos que coloquemos em prática a compaixão – no seu sentido mais nobre – e que essa seja vivida como exercício efetivo da fraternidade. Compaixão e fraternidade não são flores ocasionais. Compaixão e fraternidade são permanentes e necessárias raízes de que nos orgulhamos, não só em relação à história passada de Portugal, mas também àquela hodierna, que o nosso presente escreve. E é nesse chão que precisamos, como comunidade nacional, de fincar ainda novas raízes.

Nestes últimos meses abateu-se sobre nós uma imprevista tempestade global que condicionou radicalmente as nossas vidas e cujas consequências estamos ainda longe de mensurar. A pandemia que principiou como uma crise sanitária tornou-se uma crise poliédrica, de amplo espetro, atingindo todos os domínios da nossa vida comum. Sabendo que não regressaremos ao ponto em que estávamos quando esta tempestade rebentou, é importante, porém, que, como sociedade, saibamos para onde queremos ir. No Canto Sexto d’Os Lusíadas a tempestade não suspendeu a viagem, mas ofereceu a oportunidade para redescobrir o que significa estarmos no mesmo barco.

Reabilitar o pacto comunitário

O que significa estar no mesmo barco? Permitam-me pegar numa parábola. Circula há anos, atribuída à antropóloga Margaret Mead, a seguinte história. Um estudante ter-lhe-ia perguntado qual seria para ela o primeiro sinal de civilização. E a expectativa geral é que nomeasse, por exemplo, os primeiríssimos instrumentos de caça, as pedras de amolar ou os ancestrais recipientes de barro. Mas a antropóloga surpreendeu a todos, identificando como primeiro vestígio de civilização um fémur quebrado e cicatrizado. No reino animal, um ser ferido está automaticamente condenado à morte, pois fica fatalmente desprotegido face aos perigos e deixa de se poder alimentar a si próprio. Que um fémur humano se tenha quebrado e restabelecido documenta a emergência de um momento completamente novo: quer dizer que uma pessoa não foi deixada para trás, sozinha; que alguém a acompanhou na sua fragilidade, dedicou-se a ela, oferecendo-lhe o cuidado necessário e garantindo a sua segurança, até que recuperasse. A raiz da civilização é, por isso, a comunidade. É na comunidade que a nossa história começa. Quando do eu fomos capazes de passar ao nós e de dar a este uma determinada configuração histórica, espiritual e ética.

É interessante escutar o que diz a etimologia latina da palavra comunidade (communitas). Associando dois termos, cum e munus, ela explica que os membros de uma comunidade – e também de uma comunidade nacional – não estão unidos por uma raiz ocasional qualquer. Estão ligados sim por um múnus, isto é, por um comum dever, por uma tarefa partilhada. Que tarefa é essa? Qual é a primeira tarefa de uma comunidade? Cuidar da vida. Não há missão mais grandiosa, mais humilde, mais criativa ou mais atual.

Celebrar o Dia de Portugal significa, portanto, reabilitar o pacto comunitário que é a nossa raiz. Sentir que fazemos parte uns dos outros, empenharmo-nos na qualificação fraterna da vida comum, ultrapassando a cultura da indiferença e do descarte. Uma comunidade desvitaliza-se quando perde a dimensão humana, quando deixa de colocar a pessoa humana no centro, quando não se empenha em tornar concreta a justiça social, quando desiste de corrigir as drásticas assimetrias que nos desirmanam, quando, com os olhos postos naqueles que se podem posicionar como primeiros, se esquece daqueles que são os últimos. Não podemos esquecer a multidão dos nossos concidadãos para quem o Covid19 ficará como sinónimo de desemprego, de diminuição de condições de vida, de empobrecimento radical e mesmo de fome. Esta tem de ser uma hora de solidariedade. No contexto do surto pandémico, foi, por exemplo, um sinal humanitário importante a regularização dos imigrantes com pedidos de autorização de residência, pendentes no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. O desafio da integração é, porém, como sabemos, imenso, porque se trata de ajudar a construir raízes. E essas não se improvisam: são lentas, requerem tempo, políticas apropriadas e uma participação do conjunto da sociedade. Lembro-me de um diálogo do filme do cineasta Pedro Costa, «Vitalina Varela», onde se diz a alguém que chega ao nosso país: «chegaste atrasada, aqui em Portugal não há nada para ti». Sem compaixão e fraternidade fortalecem-se apenas os muros e aliena-se a possibilidade de lançar raízes.

Fortalecer o pacto intergeracional

Foto Arlindo Homem/AE, Dia de Portugal 2020

Reabilitar o pacto comunitário implica robustecer, entre nós, o pacto intergeracional. O pior que nos poderia acontecer seria arrumarmos a sociedade em faixas etárias, resignando-nos a uma visão desagregada e desigual, como se não fossemos a cada momento um todo inseparável: velhos e jovens, reformados e jovens à procura do primeiro emprego, avós e netos, crianças e adultos no auge do seu percurso laboral. Precisamos, por isso, de uma visão mais inclusiva do contributo das diversas gerações. É um erro pensar ou representar uma geração como um peso, pois não poderíamos viver uns sem os outros.

A tempestade provocada pelo Covid19 obriga-nos como comunidade, a refletir sobre a situação dos idosos em Portugal e nesta Europa da qual somos parte. Por um lado, eles têm sido as principais vítimas da pandemia, e precisamos chorar essas perdas, dando a essas lágrimas uma dignidade e um tempo que porventura ainda não nos concedemos, pois o luto de uma geração não é uma questão privada. Por outro, temos de rejeitar firmemente a tese de que uma esperança de vida mais breve determine uma diminuição do seu valor. A vida é um valor sem variações. Uma raiz de futuro em Portugal será, pelo contrário, aprofundar a contribuição dos seus idosos, ajudá-los a viver e a assumir-se como mediadores de vida para as novas gerações. Quando tomei posse como arquivista e bibliotecário da Santa Sé, uma das referências que quis evocar nesse momento foi a da minha avó materna, uma mulher analfabeta, mas que foi para mim a primeira biblioteca. Quando era criança, pensava que as histórias que ela contava, ou as cantilenas com que entretinha os netos, eram coisas de circunstância, inventadas por ela. Depois descobri que faziam parte do romanceiro oral da tradição portuguesa. E que afinal aquela avó analfabeta estava, sem que nós soubéssemos, e provavelmente sem que ela própria o soubesse, a mediar o nosso primeiro encontro com os tesouros da nossa cultura.

Robustecer o pacto intergeracional é também olhar seriamente para uma das nossas gerações mais vulneráveis, que é a dos jovens adultos, abaixo dos 35 anos; geração que, praticamente numa década, vê abater-se sobre as suas aspirações, uma segunda crise económica grave. Jovens adultos, muitos deles com uma alta qualificação escolar, remetidos para uma experiência interminável de trabalho precário ou de atividades informais que os obrigam sucessivamente a adiar os legítimos sonhos de autonomia pessoal, de lançar raízes familiares, de ter filhos e de se realizarem.

Implementar um novo pacto ambiental

A pandemia veio, por fim, expor a urgência de um novo pacto ambiental. Hoje é impossível não ver a dimensão do problema ecológico e climático, que têm uma clara raiz sistémica. Não podemos continuar a chamar progresso àquilo que para as frágeis condições do planeta, ou para a existência dos outros seres vivos, tem sido uma evidente regressão. Num dos textos centrais deste século XXI, a Encíclica Laudato Sii’, o Papa Francisco exorta a uma «ecologia integral», onde o presente e o futuro da nossa humanidade se pense a par do presente e do futuro da grande casa comum. Está tudo conectado. Precisamos de construir uma ecologia do mundo, onde em vez de senhores despóticos apareçamos como cuidadores sensatos, praticando uma ética da criação, que tenha expressão jurídica efetiva nos tratados transnacionais, mas também nos estilos de vida, nas escolhas e nas expressões mais domésticas do nosso quotidiano.

Uma viagem que fazemos juntos

Camões n’Os Lusíadas não apenas documentou um país em viagem, mas foi mais longe: representou o próprio país como viagem. Portugal é uma viagem que fazemos juntos há quase nove séculos. E o maior tesouro que esta nos tem dado é a possibilidade de ser-em-comum, esta tarefa apaixonante e sempre inacabada de plasmar uma comunidade aberta e justa, de mulheres e homens livres, onde todos são necessários, onde todos se sentem – e efetivamente são – corresponsáveis pelo incessante trânsito que liga a multiplicidade das raízes à composição ampla e esperançosa do futuro. Portugal é e será, por isso, uma viagem que fazemos juntos. E uma grande viagem é como um grande amor. Uma viagem assim – explica Maria Gabriela Llansol, uma das vozes mais límpidas da nossa contemporaneidade -, não se esgota, nem cancela na fugaz temporalidade da história, mas constitui uma espécie de «rasto do fulgor» que exprime a ardente natureza do sentido que interrogamos.

Mosteiro dos Jerónimos, 10 de junho de 2020
Cardeal D. José Tolentino Mendonça

 

Manto de Luz de 12 para 13 de maio 2020

Manto de Luz de 12 para 13 de maio 2020

Evento, marcado na rede social Facebook, assinala início de uma “atípica peregrinação de maio”

Nunca, em mais de 100 anos de história, uma peregrinação se fez sem peregrinos. Nunca até amanhã, às 21h30, quando da Capelinha das Aparições, em Fátima, for iniciada mais uma peregrinação aniversario das aparições da Cova da Iria.

“Este é um momento doloroso: o Santuário existe para acolher os peregrinos e não o podermos fazer é motivo de grande tristeza; mas esta decisão é igualmente um ato de responsabilidade para com os peregrinos, defendendo a sua saúde e o seu bem-estar”, avança o reitor do Santuário de Fátima numa mensagem dirigida a todos os peregrinos, na qual lhes pede para ficarem em casa, sublinha o padre Carlos Cabecinhas, diretor do Santuário mariano.

Para uma noite “atípica” o santuário de Fátima propõe a iniciativa «Manto de Luz», já amanhã.

Na noite de 12 de maio, a partir das 21h30, “rezemos a oração do Rosário e acendamos uma vela, colocando-a na nossa janela. Unidos pela fé, participemos nesta grande Procissão das Velas, criando, a partir de nossa casa, um manto de luz, sob a proteção da Senhora do Rosário de Fátima”.

O evento criado na rede social Facebook conta já com mais de 5 mil pessoas a dizerem “presente”.

Como habitualmente os serviços de comunicação do Santuário vão disponibilizar transmissão em direto a partir da sua presença no Youtube ou na página www.fatima.pt

Programa sem peregrinos

No dia 13, a habitual oração do Rosário começa às 9h00, na Capelinha das Apariçõ2es e às 10h00 será celebrada a Missa da Solenidade de Nossa Senhora de Fátima, presidida pelo cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima. As celebrações desta primeira Peregrinação Internacional Aniversária, que evoca a primeira Aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria, termina com a Procissão do Adeus.

A decisão do Santuário surge no contexto da situação de pandemia que o país e o mundo atravessam e foi comunicada numa mensagem de vídeo do bispo de Leiria-Fátima, cardeal D. António Marto, no passado dia 6 de abril.

A Peregrinação Internacional de maio é a primeira grande peregrinação deste ano pastoral em que o Santuário convida os peregrinos a «Dar graças por viver em Deus» e assinala a primeira aparição de Nossa Senhora aos três Pastorinhos em maio de 1917.

Paróquias com imagem de Nossa Senhora pelas ruas

Nas redes sociais e nas páginas oficiais de muitas paróquias, de norte a sul do país, as comunidades cristãs mobilizam-se para a “passagem da imagem de Nossa Senhora” pelas ruas das localidades que se “esperam vazias”. Os crentes são incentivados a “irem à janela, colocar a sua vela, e rezar a Nossa Senhora a oração do terço”.

Imagem: Santuário de Fátima

Educris|11.05.2020

http://www.educris.com/v3/noticias/9494-fatima-propoe-manto-de-luz-para-a-noite-de-12-de-maio?fbclid=IwAR3mMdzHWqM1pg09pF9w-YAGhtCGmE4v4nAH5DJufq1P2_gIlwyRXb4cpwU

Vaticano apresenta documento sobre deslocados internos, vítimas «invisíveis» dos conflitos e catástrofes

Vaticano apresenta documento sobre deslocados internos, vítimas «invisíveis» dos conflitos e catástrofes

Cidade do Vaticano, 05 mai 2020 (Ecclesia) – O Vaticano apresentou hoje um novo documento sobre os deslocados internos, com orientações pastorais aprovadas pelo Papa Francisco, em que denuncia a situação de “invisibilidade” de cerca de 50 milhões de pessoas nesta situação.

A publicação da secção ‘Migrantes e Refugiados’ do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé) foi apresentada em conferência de imprensa via streaming, pelo subsecretário deste departamento, o cardeal Michael Czerny.

O responsável destacou, em resposta aos jornalistas, que a pandemia de Covid-19 veio agravar a situação dos deslocados internos, somando-se aos problemas já existentes.

Para o cardeal jesuíta, é um “sinal feliz” que a Igreja Católica esteja a fazer coisas novas, a todos os níveis, para responder à crise pandémica, sem deixar de fazer tudo o que sempre fez.

“É um bom sinal que consigamos assumir este novo desafio”, acrescentou.

O colaborador do Papa espera que os ataques de natureza xenófoba sejam travados pela consciência de que os migrantes são essenciais em trabalhos na área da saúde, agricultura ou atividades comerciais.

“São uma parte essencial da forma como vivemos”, acrescentou.

Neste tempo de pandemia, o vírus não distingue entre os que são importantes e os que são invisíveis, os que estão instalados e os deslocados: todos são vulneráveis, cada infeção é um perigo para todos”.

As orientações agora publicadas pelo Vaticano destinam-se ao reconhecimento das populações que são “obrigadas” a deixar a sua casa e a procurar refúgio dentro do seu próprio território nacional.

O cardeal Michael Czerny pediu que estas pessoas sejam “apoiadas, promovidas e acabem por ser reintegradas, para que possam desempenhar um papel construtivo no seu país, mesmo que causas muito fortes, tanto naturais como causas humanas injustas, os forçaram a sair de casa e a refugiar-se noutro lugar, dentro do seu próprio país”, declarou.

Foto: ACNUR

O padre Fabio Baggio, também subsecretário da secção ‘Migrantes e Refugiados’, explicou que as orientações pastorais se organizam em volta dos quatro verbos com que o Papa tem apresentado a ação da Igreja Católica no campo das migrações: acolher, proteger, promover e integrar.

O responsável destacou a “invisibilidade” dos deslocados internos, a quem falta muitas vezes um “reconhecimento formal” da sua situação e instrumentos internacionais que os defendam.

A conferência de imprensa contou com o testemunho de Amaya Valcárcel, do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), presente em 56 países, incluindo Portugal, que falou das “limitações” que as organizações sentem no acesso às populações deslocadas dentro do seu próprio país, “devido a conflitos ou à falta de reconhecimento dos seus direitos e necessidades”, temendo que a crise social e económica provocada pela Covid-19 possa trazer mais dificuldades.

“Os deslocados internos sabem como lavar as mãos, mas não têm acesso a água limpa, nem sequer para beber”, exemplificou.

Amaya Valcárcel falou, em particular, da situação na Síria, Colômbia, Iraque, Burundi, Sudão do Sul, Afeganistão ou Mianmar, com deslocados em “situação crónica de vulnerabilidade”.

OC

https://agencia.ecclesia.pt/portal/migracoes-vaticano-apresenta-documento-sobre-deslocados-internos-vitimas-invisiveis-dos-conflitos-e-catastrofes
Na Casa do Pai

Na Casa do Pai

Queridos amigos com tristeza anunciamos a morte de José da Silva Coutinho, ex-diretor do Serviço Nacional de Pastoral dos Migrantes e Itinerantes (SNPMPI).
Ele faleceu no dia 20.04.2020 em França, realizaram-se as cerimónias fúnebres, na mais estrita privacidade exigida pela epidemia de coronavírus, esta quarta-feira, 22 de abril às 10:00, na igreja Saint-Jean-Bosco em Orléans (140 rue de l’Argonne 45000).
Ainda hoje (23-04-2020) o corpo vem a caminho de Portugal, chegará pelas 9:00 a Oleiros, terra da sua esposa, mas que adotou como sua. Seu funeral realizar-se-á às 10h com as restrições inerentes a este Estado de Emergência.
Neste momento extraordinariamente mais doloroso que o habitual, a Comissão Episcopal e a equipa da Obra Católica Portuguesa de Migrações, unem-se em oração à sua família e a todos aqueles que tiveram a oportunidade de o conhecer.
O Senhor lhe dê o eterno descanso entre os esplendores da luz perpétua, que a sua alma descanse em paz
Ámen
Quarentena forçada. Quaresma reforçada!

Quarentena forçada. Quaresma reforçada!

Padre Amaro Gonçalo Ferreira Lopes

Foto Agência Ecclesia

Penso que a nós, pastores, não nos basta comunicar aos fiéis algumas regras de procedimento, de tipo higiénico-sanitário ou litúrgico. Isso é bem-vindo e faz falta. Mas é preciso mais; é preciso oferecer ao santo povo de Deus uma interpretação cristã do momento crítico que estamos a viver, uma leitura dos sinais, para realmente crescermos na fé, caminharmos na esperança e testemunharmos o amor. Precisamos de oferecer percursos e recursos alternativos, para que a ausência e a distância física da Igreja se torne presença espiritual de uma comunidade que tece os seus laços de fé de modo mais profundo, permanecendo unida como ramos na videira. Deste modo, aproveitaremos este tempo especial da quarentena forçada, como tempo favorável para uma Quaresma reforçada e, portanto, para uma Páscoa verdadeiramente de renascimento e de vida nova.  Vai neste sentido, a Mensagem, que dirijo aos meus paroquianos, que é fruto da minha leitura e das leituras destes dias.

Mensagem do Pároco de Nossa Senhora da Hora

Queridos irmãos e irmãs:

A Quaresma de 2020 está a ser marcada excecionalmente pela pandemia do COVID-19.

Talvez a experiência deste mal comum nos revele a importância do bem comum, hoje tão esquecido e escarnecido. Desta emergência pode, de facto, extrair-se uma bela lição de solidariedade: “a tua vida é também a minha vida, e eu próprio, com as minhas forças, colaboro na construção do bem comum”.

Por isso mesmo, evitemos abrir brechas na barragem de contenção comum do coronavírus, com escolhas irresponsáveis, e obedeçamos às disposições restritivas, comportando-nos com cautela e responsabilidade, pensando cada um para si mesmo: “ao proteger-me, protejo os mais fracos, os mais expostos: idosos, adultos frágeis, crianças doentes”. As restrições, obrigações e recomendações práticas, que a Direção Geral de Saúde, ou outras entidades do Estado, atentas ao bem comum, nos fazem, são mesmo para ser assumidas e levadas a sério.

Não deixemos, porém, que a pandemia deste vírus nos arraste para as trevas do medo, de modo que o necessário distanciamento físico não nos afaste ainda mais dos outros, transformando o próximo, o irmão, o outro, em “inimigo” ou “concorrente” do mercado ou do super-mercado. Em vez do medo, esta pandemia desperte em todos nós o santo temor de Deus, isto é, o sentido da minha responsabilidade, pois tenho de responder diante de Deus pelo que faço da minha vida e da vida dos meus irmãos.

É esse o sentido de qualquer cancelamento, mesmo com sacrifício pessoal e comunitário, de muitas iniciativas que fazem parte do programa habitual das nossas vidas e até do programa espiritual da Quaresma (cf. Apêndice com medidas).

 I. Não cancelemos a Quaresma

Por nada deste mundo, esta Quaresma deve ser cancelada. Não há “férias”, nem suspensão da graça e do dever da nossa relação fiel com Deus e com os outros. Pelo contrário, a Quaresma dos cristãos é claramente reforçada na sua necessidade e oportunidade, pelas medidas e condicionamentos desta imperativa “quarenta sanitária geral”.

Começámos a Quaresma, na quarta-feira de Cinzas, escutando o grito de conversão, no apelo veemente do profeta Joel: “ordenai um jejum, reuni o povo, proclamai uma solenidade (…)  Os sacerdotes comecem a dizer: «poupai, Senhor, o vosso Povo, não nos entregueis ao opróbrio e ao escárnio das nações»” (Jl 2,12-18). O nosso profeta Jonas desafiou, no mesmo estilo, os habitantes de Nínive, a uma quarentena, para evitar o extermínio de toda a cidade. Pediu jejum e oração, como meios e sinais de conversão. E até o Rei se associou a este apelo, revestindo-se simbolicamente de um traje grosseiro, sentando-se sobre a cinzas (cf. Jn 3,1-10).

Creio que podemos acolher estes tempos de insegurança e precariedade, diante do “inimigo” que nos ameaça, como as verdadeiras cinzas, que impomos sobre a nossa vida, para assumirmos finalmente os nossos limites, atravessarmos os desertos do silêncio e da sobriedade, e assim nos encontrarmos e encaminharmos juntos em direção à luz fulgurante da Páscoa. Se acolhermos estas cinzas feitas de limites, renúncias, medos, cansaços, doença, sofrimento, morte, então poderemos entrar numa consciência maior, a de sermos envolvidos e responsáveis uns pelos outros. Esta é a base do viver civil e do viver cristão. Em cada um de nós está o traço de cada pessoa; em cada vida entram, de variadas maneiras, todas as vidas humanas.

É este, pois, um tempo favorável (cf. 2 Cor 6,2) para compreendermos como o contágio do vírus do pecado, isto é, do nosso egoísmo, da nossa indiferença em relação aos outros e da nossa distância em relação a Deus, não é menos contagioso e perigoso, no plano mais alto da nossa vida cristã, que o COVID-19. É agora mais fácil perceber como cada ação ou omissão pessoais têm sempre efeitos sociais. Por isso, até o mais escondido pecado pessoal é também e sempre um pecado social. Mudemos de vida. O mundo não muda se eu não mudar!

Gostaria que vivêssemos este tempo, não como um insuportável intervalo nas nossas vidas, mas como um tempo de graça, que nos revela, com clareza, as ambiguidades, os erros e pecados da nossa vida pessoal e comunitária, mas que também evidencia os sinais do amor humano-divino, que é sempre mais forte do que o pecado e a morte.

 

II. Reconheçamos os sinais da nossa desordem

A globalização, com particular evidência e violência, manifesta os sintomas profundos das suas graves anomalias. Colocámos de pé um sistema social onde a última palavra, no fim, parece ser dada ao negócio, e não ao bem comum, onde a política não tem força suficiente para fazer coisas óbvias. O inesperado vírus Wuhan perturba os hábitos de todos, do mundo rico em particular: despovoa as praças, deixa os aviões no chão, cria novos muros, obriga a diminuir as relações sociais no trabalho, na escola ou em clubes desportivos, refreia o comércio, aumenta o medo pessoal e coletivo, gera psicose, desencadeia a corrida para acumular alimentos, impede empresas de trabalhar a alta velocidade e provavelmente porá em risco tanta mobilidade. E assim por diante… basta abrir qualquer site de informações para inventariar os danos do pequeno vírus.

 

III. Captemos os sinais da graça de Deus

Como em tudo, há males que vêm por bem. E precisamos de aprender a ler o que Deus escreve direito, por estas linhas tortas deste nosso tempo: não podemos viver transformando tudo em bens económicos. Em momentos como estes, damo-nos conta de que o rei capitalista vai nu, e que também se vive de contemplação, de beleza, de relações, de sapiência. Vivemos também de vidas doadas para curar os outros, como são aquelas destes heróis modernos que são os médicos e os enfermeiros, que sufocam o medo para dedicar-se com abnegação a quem está frágil e doente.

Eis uma série de pequenas-grandes melhorias do COVID19, que vale a pena reconhecer:

  1. O desenvolvimento de pesquisas médicas, que envolve investigadores e todo o mundo num esforço coletivo louvável.
  2. A abnegação de muitos trabalhadores, no campo da saúde, que saudamos e agradecemos.
  3. A moderação da linguagem e a superior qualidade do discurso das figuras públicas: políticos, atores, políticos, jornalistas e jogadores de futebol.
  4. A relativização da importância do espetáculo desportivo, que se tornou em tantos casos uma religião de substituição, com as suas «liturgias», os seus «deuses», os seus «papas» e as suas «catedrais».
  5. Uma desintoxicação do excesso da publicidade, que perde relevo e interesse, em favor da informação.
  6. O tratamento sério de assuntos que realmente interessam, na comunicação social. Não é tempo de conversa fiada.
  7. A intriga e a bisbilhotice diminuem em benefício do apelo e do testemunho.
  8. Governos e instituições estão finalmente a trabalhar de maneira concertada na luta contra as notícias falsas.
  9. Afrouxam os cordões das bolsas de muitas instituições económicas e financeiras em todo o mundo, percebendo-se que a vida vale mais que o lucro.
  10. E, por último, mas não menos importante, o humor está a crescer nos meios de comunicação e redes sociais e, acima de tudo, na autoironia. É um bom antídoto contra o medo.

 

IV. Aproveitemos uma dúzia de oportunidades virtuosas

Sugiro aos meus paroquianos algumas oportunidades virtuosas, decorrentes da atual pandemia, para a vivência desta Quaresma de 2020:

  1. Exercitemos a virtude pessoal da humildade, reconhecendo que não sou omnipotente nem superior às forças da natureza, vencendo a presunção de que não sou mais imune e mais civilizado que todos os outros. A minha existência não depende apenas de mim; não sou eu o dono da vida. Basta um vírus para a colocar em risco.
  2. Cultivemos a humildade científica e tecnológica, perante os seus grandes progressos, que são dons a cultivar e a agradecer, mas não são deuses a adorar. A saúde e o bom funcionamento, hoje, das células do meu corpo são um dom a redescobrir; nada é dado como adquirido ou devido. O que nos salva, pois, não é o poder económico, ou o progresso da ciência ou as maravilhas da técnica, mas sim o amor de uns pelos outros.
  3. Ponhamos em prática uma fraternidade solidária, como antivírus contra a superficialidade, a indiferença, a autossuficiência e o narcisismo, que tantas vezes me fazem pôr a mim próprio no centro de tudo; e por isso mesmo, esquecendo que tudo é dom. Isto implica redescobrir os outros como irmãos, conscientes de que todos dependemos de todos. Percebemos como o curso normal da vida depende de tantas relações sociais ocultas. Afinal ninguém se basta a si próprio e, nesta barca, do mundo globalizado em que vivemos, ninguém se salva sozinho. Todos somos responsáveis pela bem de todos.
  4. Valorizemos a família e a nossa casa como lugares mais seguros. O facto de se passar mais tempo ‘em casa’, neste “recolher obrigatório” não é necessariamente uma penitência e pode ser uma bênção. Aprofundemos a qualidade do diálogo e da presença em família. Mantenhamo-nos em contacto com os ausentes, os emigrantes, os distantes, os doentes, os idosos, em nossa casa, nos hospitais e lares. São estes que mais sofrem as medidas de contenção da propagação do vírus.
  5. Redescubramos a importância dos afetos, com aqueles que nos são mais próximos, com os que partilham a mesma casa, o mesmo meio de transporte, o mesmo espaço de trabalho. A solidão forçada ensina-nos o valor e o preço das relações humanas. A imposta distância superior a um metro revela-nos a beleza e a nostalgia das distâncias breves.
  6. Eduquemo-nos para uma certa abstinência dos afetos, corrigindo os excessos e a banalização de alguns gestos, como os beijos e abraços. Isto pode ajudar-nos a valorizar a importância de uma gestualidade comunicativa autêntica, de uma comunicação não verbal, que também vive e convive a partir do silêncio, da discrição, e até de um simples olhar atento.
  7. Optemos por um estilo de vida mais sóbrio, menos focado no consumo, mais centrado no essencial. Nem só de pão, vive o Homem e muito menos vive da moda, dos corantes e conservantes e de produtos açucarados ou manipulados.
  8. Libertemo-nos do desejo alienante de uma vida vivida em regime de diversão contínua. É uma boa oportunidade para corrigir um certo estilo de vida pagã, que se contenta com “pão” na mesa e “circo” na praça.
  9. Redescubramos a beleza e a riqueza da leitura, também da Bíblia ou da meditação diária do Evangelho, para desenvolver a abertura do coração a Deus e o encontro pessoal com Cristo.
  10. Aprendamos a fazer do nosso “quarto” lugar e aposento de oração, aproveitando esta oportunidade para rezarmos um pouco mais, e a sós, para meditarmos, para exercitarmos a oração do coração, para além da recitação das orações feitas de cor e rezadas nas nossas Igrejas. Este é o momento de cada um reentrar em si, de voltar à interioridade, ao seu coração, que se abre diante do mistério da vida e do mistério de Deus. Ao lavar as mãos, por exemplo, rezemos o Pai-Nosso, purifiquemos o nosso coração, dizendo estas ou palavras semelhantes: “lavai-me, Senhor, de toda a iniquidade e purificai-me de todo o pecado” (Sl 50,2).
  11. Façamos da nossa casa uma “casa de oração” e da nossa família uma verdadeira “Igreja Doméstica”. Se não pudermos participar na Eucaristia, para nos protegermos a nós e aos outros do contágio do Maligno, podemos viver este “jejum” para despertar em nós a nossa fome do Pão da Vida. Se não podemos adorar no Templo, aproveitemos para o fazer, a partir do mais íntimo de nós mesmos, “em espírito e em verdade” (Jo 4,23). Não deixemos passar o nosso Domingo “vazio de Deus”. Abençoemos a mesa, com uma breve oração. Se pudermos, ao domingo, rezemos um pouco mais em família. E por que não sentarmo-nos todos, em família, para acompanhar a transmissão da Missa pela TV ou pelas redes sociais?
  12. Vivamos mais a graça do tempo presente, sem querer controlar absolutamente tudo; façamos tudo como se tudo dependesse de nós e confiemos tudo às mãos de Deus, como se tudo dependesse d’Ele.

 

Tenho muito claro para mim: quem não aproveitar esta inesperada Quaresma de 2020 certamente não aproveitará Quaresma nenhuma da sua vida. Porque esta é mesmo Quaresma. É uma Quaresma para todos, crentes e não crentes. Pelo que agora sim, “todos aqui renasce(re)mos”.

 

V. Oremos

Finalmente, proponho-vos a recitação diária desta prece, sugerida pelo Papa Francisco a Nossa Senhora, entre nós invocada como Senhora da Hora, de todas as horas e desta hora especialmente. Não nos cansemos de rezar.

Ó Maria,
Nossa Senhora da Hora:
Tu resplandeces sempre no nosso caminho
como sinal de salvação e de esperança.

Confiamo-nos a Ti, saúde dos enfermos,
que junto da Cruz foste associada à dor de Jesus,
mantendo firme a tua fé.

Tu, Salvação do Povo de Deus,
sabes bem do que mais precisamos
e estamos seguros de que proverás
para que, tal como em Caná da Galileia,
possa voltar a alegria e a festa
depois deste momento de provação.

Ajuda-nos, Mãe do Divino Amor,
a conformar-nos com a vontade do Pai
e a fazer aquilo que Jesus nos disser,
Ele que tomou sobre si os nossos sofrimentos
e carregou as nossas dores
para nos conduzir, por meio da cruz,
à glória da Ressurreição. Ámen

À Vossa proteção nos acolhemos,
Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis as nossas súplicas,
nós que estamos na provação,
e livrai-nos de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita!

Padre Amaro Gonçalo Ferreira Lopes
Senhora da Hora, 12 de março de 2020

Europa/Turquia: «Usar os refugiados como peões não é solução» – Eugénia Quaresma (c/áudio)

Europa/Turquia: «Usar os refugiados como peões não é solução» – Eugénia Quaresma (c/áudio)

Lisboa, 04 mar 2020 (Ecclesia) – Eugénia Costa Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), disse  hoje à Agência ECCLESIA que “usar os refugiados como peões não é solução” e que “não se pode criminalizar os gestos humanitários”, comentando a crise entre a Turquia e a União Europeia.

A responsável recorda o “pacto aprovado” entre as duas partes, no qual se fala de “resposta solidária e partilhada”, o que não está a acontecer.

“O que motivou a abertura das fronteiras da Turquia não é assim tão positivo e a União Europeia coloca isto como chantagem e usar os refugiados como peões não é solução”, refere Eugénia Quaresma.

“A solidariedade europeia não pode empurrar a gestão de fronteiras só para um país, é preciso solidariedade partilhada”, acrescenta.

A mudança de mentalidades é outros dos pontos que a diretora da OCPM defende, pedindo mais humanidade na abordagem dos políticos.

Há gente voluntária e de boa vontade a ajudar e não se pode criminalizar os gestos humanitários, é preciso trabalhar as mentalidades, a situação de refugiados não são rótulos permanentes, hoje são estes povos mas amanhã podemos ser nós  ou outros povos”.

Eugénia Quaresma recordou ainda que Portugal tem sido uma das vozes favoráveis ao acolhimento de refugiados e “tem feito a sua parte”, mas é preciso que “outros países façam o mesmo”.

“A Grécia está sobrecarregada e não é justo, é preciso boa vontade de outros países, respostas organizadas, boa vontade políticas e comunidades que se abram a esta realidade”, alerta.

“Eugénia Quaresma, diretora da OCPM” ,
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1. “Eugénia Quaresma, diretora da OCPM”d
2. “A Grécia está sobrecarregada”d
3. “Refugiados não podem ser peões”d

 

As várias experiências de acolhimento de refugiados em Portugal leva a responsável a dizer que muito se aprendeu, “nomeadamente que é preciso que seja um acolhimento faseado e com profissionais preparados”.

“Precisamos de profissionais preparados para acolher pessoas com diferentes histórias, diferentes traumas, é preciso tempo para estabilizar, e tempo de comunicação para retirar a pessoa da zona de conflito e depois passar para a fase de promoção da pessoa num diálogo entre o projeto e o sonho, para depois seguir para a inclusão”, explica.

Eugénia Quaresma adianta que nas 20 dioceses portuguesas há “diferentes experiências de acolhimento de refugiados” e que a missão da Obra Católica passa pela sensibilização.

“Acredito que o nosso trabalho, enquanto Igreja, e é para aí que procuro animar os nossos secretariados diocesanos, é sensibilizar as comunidades para aquilo que são os nossos valores que não mudam, o valor da hospitalidade não mudou e é preciso acreditar”, destaca.

Europa/Turquia: «Usar os refugiados como peões não é solução» – Eugénia Quaresma (c/áudio)